Spodoptera frugiperda: uma ameaça significativa para a agricultura brasileira

Por Alejandro Sandria Díaz, Geísy Nascimento Leal, Nadiane França da Silva, Maria Gabriela Silva Venâncio, Karolina Gomes de Figueiredo, Júlia Assunção de Castro Oliveira e Nathan Jhon Lopes, da Universidade Federal de Lavras

31.07.2024 | 14:48 (UTC -3)

O milho é uma cultura de grande plasticidade e possui enorme importância econômica e cultural, presente tanto na agricultura familiar quanto entre grandes produtores. As estimativas de colheita para as próximas safras superam 100 milhões de toneladas. Devido ao seu baixo custo, há uma ampla oferta em todas as regiões do Brasil e uma alta qualidade nutricional, fornecendo energia para monogástricos e sendo uma fonte de fibra e carboidratos para ruminantes. 

Apesar da grande importância dessa cultura no cenário nacional e internacional, ela é afetada por fatores abióticos e bióticos que contribuem para perdas na produtividade. A Spodoptera frugiperda, conhecida popularmente como lagarta-do-cartucho-do-milho, é uma praga que tem causado grandes preocupações no setor agrícola brasileiro e mundial. Essa espécie de mariposa, originária das Américas, se destaca por sua alta capacidade de adaptação e voracidade, sendo capaz de atacar uma ampla gama de culturas, incluindo milho, soja, algodão, sorgo e trigo.

A disseminação rápida e a resistência a diversos inseticidas tornam o manejo da Spodoptera frugiperda um desafio contínuo para os agricultores. Estratégias integradas de controle, incluindo o monitoramento constante, o uso de inimigos naturais, técnicas de manejo integrado de pragas (MIP) e a rotação de culturas, são essenciais para mitigar os impactos dessa praga.

Diante da importância econômica das culturas afetadas e da necessidade de garantir a segurança alimentar, a compreensão e o controle eficaz da Spodoptera frugiperda são de extrema relevância para a agricultura brasileira. Assim, a pesquisa contínua e a implementação de práticas de manejo sustentável são fundamentais para proteger as lavouras e assegurar a produtividade agrícola no país. 

Biologia e ecologia

A Spodoptera frugiperda é uma praga polífaga de hábito noturno, seu desenvolvimento é do tipo holometabólico, compreendendo as fases de ovo, larva, pupa e adultos. Seu tempo total de ciclo de vida varia entre 32 e 46 dias, que pode ser afetado diretamente por fatores bióticos e abióticos. 

Sua ocorrência no Brasil, devido a sua diversificação de alimentação e cultivos sucessivos, possibilita a sobrevivência de altas populações e periodicidade de mariposas entre as culturas hospedeiras, além do clima favorável ao inseto, fazendo com que sua ocorrência seja geral em todas as regiões do país. 

Os ovos, de coloração verde clara, são colocados em massa, tanto na face superior quanto na inferior da folha. As larvas passam por seis estádios de desenvolvimento, entre 14 e 30 dias, apresentam, na extensão dorsal de seu corpo, três linhas longitudinais de coloração branco amarelada, sua cabeça possui uma coloração escura com suturas que se cruzam formando um “y” invertido e quatro pontos pretos na parte dorsal do último segmento abdominal, marca característica da espécie e meio pelo qual ocorre sua identificação (Figura 1). 

Figura 1: principais pontos de identificação de Spodoptera frugiperda; foto: Maria Gabriela Venâncio (2024) 
Figura 1: principais pontos de identificação de Spodoptera frugiperda; foto: Maria Gabriela Venâncio (2024) 

Ao final do período larval, as lagartas, com aproximadamente 50 mm de comprimento, adentram ao solo, onde se transformam em pupas de coloração avermelhada. As pupas, com aproximadamente 15 mm de comprimento, ficam escondidas no solo ou na planta e possuem um período de duração entre oito e 13 dias. Após a emergência, surge a mariposa com uma envergadura em média de 35 mm, e com expectativa de vida de aproximadamente dez a 15 dias.

A cópula desse inseto ocorre no período da noite. A fêmea adulta pode ovipositar mais de dois mil ovos. Nessa espécie, ocorre, também, o dimorfismo sexual, ou seja, os machos e as fêmeas são diferentes. Os machos apresentam asas anteriores com duas manchas claras, distinguindo-se das fêmeas. 

Os danos ocasionados por essa praga são inúmeros e podem variar de acordo com a espécie de planta atacada, o estádio fenológico, a época e a intensidade de infestação. Na cultura do milho, por exemplo, os danos ocorrem desde o ataque das folhas novas que são raspadas nos estágios iniciais da S. frugiperda; a partir do 3° estádio, a lagarta penetra no cartucho, destruindo também diversos pontos da folha ao se alimentar. Essa é uma forma de reconhecer a lagarta no campo, através da verificação dos danos causados, como o rasgamento das folhas (Figura 2), a perfuração dos colmos e espigas (Figura 3).

Figura 2: presença de Spodoptera frugiperda nas folhas de milho no campo; foto: Maria Gabriela Venâncio (2022) 
Figura 2: presença de Spodoptera frugiperda nas folhas de milho no campo; foto: Maria Gabriela Venâncio (2022) 
Figura 3: presença de Spodoptera frugiperda na espiga de milho no campo; foto: Maria Gabriela Venâncio (2022) 
Figura 3: presença de Spodoptera frugiperda na espiga de milho no campo; foto: Maria Gabriela Venâncio (2022) 

Ao se alimentar das folhas, a S. frugiperda reduz a área foliar, o que afeta diretamente a produção. Estima-se que seus danos podem impactar em uma redução de 20 a 60% da produtividade. O alto grau de polifagia propicia ainda mais a dinâmica populacional da lagarta, fazendo com que as migrações favoreçam surtos populacionais em diversas culturas.

Monitoramento e amostragem

Spodoptera frugiperda é uma praga de extrema importância em culturas como o milho e outras culturas agrícolas. O ciclo de vida desse inseto-praga é relativamente curto, cerca de 30 dias, nos quais a fase larval é a responsável pelo maior dano às plantas. Durante esse período, as lagartas consomem intensamente as folhas e outras partes das plantas, reduzindo significativamente o rendimento das culturas. Além dos danos diretos, essa praga também facilita a entrada de patógenos nas plantas, aumentando ainda mais os prejuízos econômicos.

A análise das condições do ambiente agrícola ou do agroecossistema consiste em obter informações sobre o plantio, como a fase de crescimento da cultura, as necessidades nutricionais da planta, o clima, as principais pragas que podem causar danos e a presença de inimigos naturais. O monitoramento e a amostragem são muito importantes para determinar o nível de dano econômico causado pela praga na cultura, permitindo identificar a direção predominante da entrada de pragas, os inimigos naturais presentes e, principalmente, prever o melhor momento para realizar o controle. 

Na cultura do milho, é recomendada a amostragem através da divisão da área em talhões, e a padronização da amostragem em um modelo de zigue-zague ou perímetro, com cinco locais amostrados. Recomenda-se amostrar 20 plantas por ponto, em cinco pontos por talhão. A avaliação de dano causado pela lagarta-do-cartucho ao milho é feita através da observação direta e, quando 20% das plantas atingirem nota de dano três da escala de Davis (lesões alongadas de raspagem circular nas folhas), é recomendada a tomada de decisões para o controle da praga. 

Entre as técnicas de monitoramento e amostragem mais comuns para a lagarta-do-cartucho, destaca-se: armadilhas de feromônio (com feromônios sintéticos que atraem machos adultos), sendo uma armadilha por hectare e o nível de controle de três mariposas por armadilha; amostragem visual (detecção da presença de ovos, lagartas jovens ou danos foliares); amostragem por pano de batida (permite contagem rápida e eficiente da presença da praga); monitoramento por danos (avalia níveis de dano como desfolha e injúrias nas folhas); monitoramento meteorológico (monitora temperatura e umidade); e análise de dados e tomada de decisão (para desenvolver estratégias de controle adequadas). Essas técnicas de amostragem e monitoramento são fundamentais para um manejo integrado de pragas eficaz, visando minimizar o impacto da S. frugiperda nas culturas agrícolas. Portanto, o monitoramento e a amostragem de S. frugiperda são práticas essenciais para promover uma agricultura sustentável e eficiente, minimizando os danos causados pelas pragas, ao mesmo tempo que otimizar o uso de recursos como pesticidas e outros métodos de controle.

Métodos de controle

Para o manejo integrado da lagarta-do-cartucho na cultura do milho, algumas táticas de controle são utilizadas para manter a população do inseto abaixo do nível de dano econômico. Como, por exemplo, controle cultural, controle biológico, controle genético, controle químico e uso de extratos botânicos (Tabela 1).

O controle cultural deve ser realizado no início do cultivo. O produtor deve observar se a praga está presente na área e realizar seu controle. Outra prática comumente usada é a destruição dos restos culturais da safra anterior.

O controle biológico consiste no uso de inimigos naturais para o controle de pragas e pode ser classificado como conservativo, inoculativo ou inundativo. A adoção de ações com menos impacto aos inimigos naturais caracteriza o controle conservativo. Assim, podemos citar o plantio de espécies fornecedoras de pólen ou néctar e o uso de pesticidas seletivos aos insetos predadores ou parasitoides das pragas-alvo. Para o controle inoculativo e inundativo há biofábricas que comercializam produtos à base de agentes macro e microrganismos. Para preservar a eficiência dos bioinsumos, são necessários cautela no armazenamento, e transporte e dosagens previamente recomendados. Na atualidade, o uso de drones vem como uma ferramenta tecnológica para otimizar a dispersão de produtos biológicos. 

O milho Bt é resultado da transgenia entre o milho e a bactéria Bacillus thuringiensis e promove o controle de lagartas, principalmente da ordem Lepidoptera. A alimentação de folhas do milho transgênico ocasiona a morte das pragas, devido à ativação de toxinas no estômago. Essa tecnologia deve ser acompanhada da implantação de áreas de refúgio, que é o plantio de espécies não Bt junto ao milho transgênico para preservar a tecnologia (Figura 4).

Figura 4: associação entre milho BT e milho convencional; foto: Maria Gabriela Venâncio (2024) 
Figura 4: associação entre milho BT e milho convencional; foto: Maria Gabriela Venâncio (2024) 

O controle químico de pragas pode ser aplicado desde o plantio até a fase final do cultivo. Inicialmente, usa-se o método preventivo, tratando sementes com substâncias químicas em áreas com histórico de infestação. Pulverizações são realizadas quando a praga atinge o nível de controle, utilizando inseticidas que afetam a fisiologia dos insetos para eliminá-los. Grupos químicos como piretroides, carbamatos, diamidas, avermectinas, oxadiazinas, spinosinas e reguladores de crescimento podem ser usados. É crucial rotacionar modos de ação (Figura 5), para que não ocorra seleção de população de insetos resistentes, assim como usar doses recomendadas no rótulo ou bula do produto. Outro fator de grande importância é preconizar produtos que não afetem inimigos naturais, pois eles auxiliam também na diminuição da população da praga. Substâncias extraídas de plantas também podem ser usadas no controle de pragas. Um exemplo disso, são os óleos essenciais, os quais são metabólitos secundários presentes nas plantas que podem afetar negativamente as pragas. O óleo essencial de planta conhecida popularmente como Neem é registrado para o controle da lagarta-do-cartucho.

Figura 5: rotação pelo modo de ação dos inseticidas; foto: Maria Gabriela Venâncio (2024) 
Figura 5: rotação pelo modo de ação dos inseticidas; foto: Maria Gabriela Venâncio (2024) 
Tabela 1: métodos de controle biológico com macro e microrganismos e controle químico que podem ser utilizados para Spodoptera frugiperda
Tabela 1: métodos de controle biológico com macro e microrganismos e controle químico que podem ser utilizados para Spodoptera frugiperda

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