Zea mays

07.05.2025 | 13:34 (UTC -3)

O milho (Zea mays), uma das culturas agrícolas mais importantes globalmente, pertence à família Poaceae e destaca-se por sua versatilidade, valor nutricional e aplicações industriais.

Com uma produção mundial de cerca de 1,2 bilhão de toneladas em 2024 (FAO), o milho é essencial para a segurança alimentar, servindo como alimento humano, ração animal e matéria-prima para indústrias como etanol e óleo.

Adaptável a climas tropicais e temperados, em altitudes de 0 a 3.800 metros, é uma cultura estratégica para países em desenvolvimento.

Taxonomia e morfologia

Zea mays é uma planta herbácea anual com caule ereto (1,5–3 m), folhas lanceoladas alternadas e sistema radicular composto por raízes primárias e adventícias. A inflorescência masculina (pendão), localizada no ápice, produz pólen anemófilo, enquanto a feminina (mazorca) forma-se nas axilas foliares, com estigmas filiformes captando o pólen.

Os grãos variam em composição e cor, influenciando seus usos:

  • Milho harinoso (Zea mays amylaceus): endosperma farináceo, ideal para farinhas.
  • Milho duro (Zea mays indurata): endosperma vítreo, usado em ração e etanol.
  • Milho doce (Zea mays saccharata): alto teor de açúcar, para consumo fresco.

Grãos roxos possuem antocianinas com capacidade antioxidante de 300–500 µmol Trolox/g (Silva et al., 2023).

Biologia

Zea mays é uma gramínea anual alta, com caule único e sólido, alcançando até 3 metros de altura. Suas folhas são lineares, dispostas alternadamente, e o sistema radicular, predominantemente raso, é composto por raízes primárias, seminais e adventícias, que garantem absorção de nutrientes e água. Como planta C4, utiliza a via Hatch-Slack para fixação de carbono, conferindo alta eficiência fotossintética em climas quentes e secos.

O milho é monoico, com flores masculinas (pendão) no ápice do caule e femininas (mazorca) nas axilas foliares. O pendão produz até 10 milhões de grãos de pólen por planta, liberados continuamente por cerca de uma semana, com diâmetro de 94–103 µm e viabilidade de até 2 horas, podendo ser estendida em alta umidade (Canadian Food Inspection Agency).

A polinização é predominantemente anemófila, com taxa de autopolinização de aproximadamente 5%, influenciada pelo tamanho do pendão e condições ambientais. A dispersão do pólen ocorre até 30 metros, mas pode alcançar centenas de metros com ventos horizontais.

As mazorcas, protegidas por brácteas (palhas), contêm 4–30 fileiras de óvulos, cada uma com potencial para desenvolver 300–1.000 grãos, dependendo da cultivar e condições ambientais. Os estigmas (sedas) crescem até 30,5 cm, emergindo da base ao ápice em 3–5 dias, com tricomas que auxiliam na captura do pólen. A sincronia entre a liberação de pólen e a emergência das sedas é crucial para alta formação de grãos, mas estresses como seca podem aumentar o intervalo anthesis-silking, reduzindo a produtividade.

A embriogênese ocorre em três fases:

  • Proembrião: 12–24 células formadas em 100 horas pós-fertilização, com célula basal formando o suspensor e célula apical gerando 9–18 células densas.
  • Formação do eixo embrionário: meristemas e eixo embrionário se desenvolvem até ~13 dias, com embrião coleoptilar em 14–15 dias.
  • Maturação: acúmulo de produtos de reserva, com embrião atingindo ~50 mg de peso fresco em 30–40 dias.

O fruto é uma cariopse, composta por embrião, endosperma (80%) e parede do fruto. O enchimento de grãos dura ~8 semanas, passando por estágios como blister (10–14 dias pós-fertilização), leite, massa e maturidade fisiológica (55–65 dias pós-emergência das sedas), marcada pela formação da camada preta.

O milho pode hibridizar com teosintes (Zea mays ssp. mexicana e parviglumis), formando híbridos férteis, mas isso é irrelevante em regiões sem teosintes, como o Brasil. Cruzamentos experimentais com Tripsacum ou Coix lachryma-jobi são possíveis sob condições controladas, mas resultam em híbridos estéreis ou requerem resgate de embriões.

O crescimento do milho é dividido em estágios vegetativos e reprodutivos, descritos pela escala BBCH:

  • Germinação (BBCH 00–09): inicia com absorção de água (~30% do peso da semente), emergindo radícula e coleóptilo. Requer temperaturas do solo ≥15°C; abaixo de 10°C, o crescimento é inibido.
  • Desenvolvimento foliar (BBCH 10–19): folhas emergem sequencialmente, com 18–22 folhas totais. O ponto de crescimento permanece subterrâneo até o 5º estádio foliar, tolerando geadas até -3°C.
  • Alongamento do caule (BBCH 30–39): crescimento rápido do caule e formação de raízes nodais. Alta demanda por nitrogênio e água; estresse hídrico por ≥4 dias reduz produtividade.
  • Emergência de inflorescências (BBCH 50–59): pendão emerge, e brotos de mazorca se desenvolvem. Raízes atingem ~1,8 m de profundidade.
  • Floração (BBCH 60–69): liberação de pólen e emergência das sedas. Estresse hídrico pode reduzir rendimentos em até 50%; temperaturas >32°C inibem pólen.
  • Desenvolvimento de frutos (BBCH 70–79): grãos passam por estágios blister, leite e massa, requerendo 70–80% de umidade no solo. Temperaturas ideais de 20–22°C.
  • Maturação (BBCH 80–89): grãos atingem maturidade fisiológica (50–55 dias para híbridos precoces), com umidade de 30–38% e formação da camada preta.
  • Senescência (BBCH 90–99): planta seca, produzindo ~1,5 t de palha por tonelada de grãos.

Fisiologia do milho

Fotossíntese: como planta C4, o milho utiliza a via Hatch-Slack, fixando CO2 em oxaloacetato nas células do mesofilo antes de transferi-lo às células da bainha do feixe para o ciclo de Calvin. Isso confere alta eficiência hídrica e tolerância a temperaturas elevadas.

Relações hídricas: alta demanda hídrica, especialmente nos estágios vegetativos e floração. O sistema radicular raso torna o milho sensível à seca, particularmente na emergência das sedas, podendo comprometer a formação de grãos.

Absorção de nutrientes: requer altos níveis de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K). O N é essencial para o desenvolvimento foliar e fotossíntese, enquanto o P suporta o crescimento radicular. Micronutrientes como zinco e ferro são cruciais para funções enzimáticas.

Resposta à temperatura: crescimento ótimo entre 18–32°C. Temperaturas >35°C causam estresse térmico, reduzindo viabilidade do pólen e enchimento de grãos. Geadas danificam mudas, exigindo replantio se o ponto de crescimento for afetado.

Requisitos de luz: planta de sol pleno, requerendo 6–8 horas de luz direta diária. Tolerância limitada à sombra, com redução de produtividade em condições de baixa luminosidade.

Resposta a estresses ambientais

Seca: reduz crescimento, atrasa desenvolvimento e diminui rendimentos, especialmente na floração e enchimento de grãos.

Estresse térmico: temperaturas >35°C inibem produção de pólen e reduzem formação de grãos, encurtando o período de enchimento.

Deficiência de nitrogênio: causa clorose, crescimento atrofiado e menor produtividade, afetando eficiência fotossintética.

Pragas e doenças: suscetível a insetos e patógenos, que impactam processos fisiológicos e rendimento.

Fitossanidade

O milho enfrenta doenças como:

  • Ferrugem tropical (Puccinia polysora): lesões foliares amareladas.
  • Mancha-branca (Pantoea ananatis): manchas brancas nas folhas.
  • Podridão do colmo (Fusarium spp.): apodrecimento do caule.
  • Vírus do raiado: clorose e necrose.

Em termos de pragas, podem ser citadas:

  • Broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis): danifica colmo, reduz componentes de rendimento, pode causar morte da planta. Manejo: milho Bt, tratamento de sementes, controle de ovos e larvas pequenas com inseticidas.
  • Broca-do-colo (Elasmopalpus lignosellus): reduz produtividade em até 70%, causa "coração morto". Manejo: tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos, aumentar irrigação para reduzir população.
  • Cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis): transmite enfezamento, reduz absorção de nutrientes. Manejo:rotação de culturas, eliminar milho voluntário, sementes tratadas, evitar semeadura tardia
  • Lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea): alimenta-se de grãos, reduz produtividade, predispondo a patógenos. Manejo: milho Bt, iscas tóxicas, liberação de Trichogramma spp.
  • Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda): reduz produtividade em >50%, ataca folhas, cartucho, pode seccionar plantas. Manejo: milho Bt, tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos, aplicação seletiva pós-emergência
  • Lagarta-do-trigo (Pseudaletia sequax): consome folhas, afeta fotossíntese, tolerante a Bt >0,8 cm. Manejo:dessecação de cobertura 3 semanas antes, inseticidas pré-semeadura, piretroides.
  • Lagarta-do-velho-mundo (Helicoverpa armigera): ataca folhas, estigmas e grãos, similar a H. zea. Manejo: milho Bt, tratamento de sementes, liberação de Trichogramma spp.
  • Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon): corta mudas na base, reduz população de plantas, causa "coração morto". Manejo: tratamento de sementes, aplicação de inseticidas granulares na semeadura, iscas tóxicas.
  • Larva-alfinete (Diabrotica speciosa): reduz sistema radicular, causa "pescoço de ganso", afeta rendimento. Manejo: aplicação de inseticidas granulares na semeadura, pulverizações no solo, controle biológico insuficiente.
  • Percevejo-marrom (Euchistus heros): causa folhas deformadas, reduz produtividade, afeta crescimento. Manejo: controle em soja, tratamento de sementes, inseticidas pré e pós-emergência.
  • Percevejos (Dichelops furcatus, Dichelops melacanthus): danificam meristema, causam folhas deformadas, reduzem produtividade. Manejo: controle em soja para prevenir migração, tratamento de sementes, inseticidas pré e pós-emergência.
  • Pulgão-do-milho (Rhopalosiphum maidis): causa fumagina, reduz fotossíntese, transmite vírus do mosaico. Manejo: tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos, controle se >50% plantas com >100 afídeos.

Algumas das plantas daninhas que causam problemas à cultura:

  • Alternanthera tenella (apaga-fogo)
  • Amaranthus viridis (caruru-comum)
  • Ambrosia artemisiifolia (cravorana)
  • Bidens spp. (picão-preto)
  • Cenchrus echinatus (capim-carrapicho)
  • Chamaesyce hirta (erva-de-Santa-Luzia)
  • Commelina benghalensis (trapoeraba)
  • Conyza spp. (buva)
  • Cynodon dactylon (grama-seda)
  • Cyperus spp. (tiririca)
  • Digitaria insularis (capim-amargoso)
  • Digitaria spp. (capim-colchão)
  • Eleusine indica (capim-pé-de-galinha)
  • Euphorbia heterophylla (leiteiro)
  • Ipomoea spp. (corda-de-viola)
  • Sida spp. (guanxuma)
  • Spermacoce latifolia (erva-quente)
  • Spermacoce verticillata (vassourinha-de-botão)
  • Urochloa decumbens (capim-braquiária)

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