Tecnologia impulsiona a agricultura e reforça o papel do agricultor frente aos desafios climáticos e ao crescimento populacional
Por Francisco Soares, presidente da TMG - Tropical Melhoramento & Genética
Cultivada tradicionalmente em países de clima mediterrâneo, a oliveira (Olea europaea L.) tem ganhado cada vez mais espaço no Brasil. Presente nas regiões Sul (RS, SC) e Sudeste (MG, SP), a cultura tem alcançado sucesso na produção de azeites nobres de altíssima qualidade premiados em vários concursos internacionais.
A oliveira pode ser afetada por doenças fúngicas capazes de causar lesões foliares, desfolhas; o apodrecimento e a queda de frutos. Tais doenças podem afetar diretamente o rendimento, a qualidade final de azeites e conservas assim como reduzir o retorno econômico da atividade.
O olho de pavão ou repilo é considerada uma das doenças com maior potencial destrutivo na cultura da oliveira. Os sintomas iniciais são observados na parte superior das folhas, na forma de lesões circulares, concêntricas, com coloração amarela, verde ou marrom, cujo diâmetro pode variar de 2 mm a 1 cm. Ao evoluírem, essas tornam-se escuras, com o centro claro, e podem estar ou não envoltas por um halo amarelado. Nos frutos as lesões são pardo-escuras, necróticas e deprimidas, causando deformações devido a atrofia dos tecidos infectados. Lesões pardo escuras também podem ser observadas em pecíolos e pedúnculos favorecendo a queda de folhas e frutos.
Durante períodos desfavoráveis o fungo pode sobreviver em folhas infectadas caídas no solo onde pode haver a produção de conídios. Esses são disseminados pelas correntes de ar e respingos de água de chuvas, sendo depositados sobre tecidos sadios da planta. A germinação dos conídios ocorre na presença de água livre ou numa atmosfera saturada de umidade e temperaturas que variam de 8 a 22 °C, sendo ótima de 15 a 20 °C. Nas condições brasileiras de cultivo o olho de pavão pode ser importante a partir do outono (abril) até o final da primavera (novembro) ocorrendo principalmente em regiões sujeitas ao acúmulo de umidade e temperaturas amenas.
A doença ocorre especialmente nas folhas maduras, sendo mais frequente nos ramos mais baixos da planta. Na face superior das folhas observa-se a formação de manchas amareladas irregulares, que com o passar do tempo tornam-se necróticas (castanhas). Na face inferior verifica-se a presença de um crescimento difuso de coloração acinzentada composta por conídios e conidióforos do fungo. Nos frutos, as lesões são deprimidas, marrom-acinzentadas, apresentam tamanho e formato variável. Frutos atacados não podem ser utilizados em conservas e em geral originam azeites ácidos de baixa qualidade.
A cercosporiose é favorecida por alta umidade e temperaturas entre 22 e 28˚C, sendo mais comum em olivais adensados, com pouca circulação de ar e baixa incidência de luz. Em alguns casos essa doença pode ocorrer associada ao repilo.
P. cladosporioides sobrevive em folhas caídas sobre o solo e possuem um importante papel na sobrevivência do fungo, pois nessas ocorre a formação de conídios que darão início a novos ciclos da doença. Esses são disseminados pelas correntes de ar e respingos de água de chuva, podendo ser depositados sobre as folhas e os frutos. A germinação dos conídios e a penetração do patógeno, ocorrem em condições de alta umidade e temperaturas que variam de 4 a 24° C, sendo ótima ao redor de 18 a 22° C. No Brasil, a cercosporiose encontra melhores condições para o seu desenvolvimento durante a primavera e verão.
A antracnose é a doença de frutos mais comum na maioria das regiões produtoras causando graves prejuízos tanta na pré como na pós-colheita. No Brasil, a doença é causada principalmente pelas espécies Colletotrichum acutatum e C. gloeosporioides, que podem ocorrer isoladas ou em complexo.
Os sintomas mais característicos da doença são observados nos frutos verdes ou próximos a maturação, onde observa-se a presença de lesões escuras, deprimidas, circulares ou irregulares, recobertas por acérvulos, que formam uma típica massa gelatinosa rósea-alaranjada, composta por estruturas reprodutivas do fungo (conídios e conidióforos). Os frutos atacados apresentam queda de peso, redução do rendimento graxo e originam azeites de baixa qualidade (ácidos e avermelhados), além de várias outras alterações bioquímicas e organolépticas. Estágios avançados da doença são caracterizados pelo apodrecimento ou mumificação dos frutos.
A doença pode causar também o apodrecimento de flores, promover a queda de frutos jovens e provocar a morte de ramos e brotos. Nas folhas, as lesões são castanhas, circulares ou irregulares que podem torná-las retorcidas.
A antracnose é favorecida por temperaturas que variam de 15 a 30 °C, alta umidade e pela ocorrência de chuvas, sendo verificada mais frequentemente próximo ao amadurecimento dos frutos. Os conídios produzidos em frutos doentes ou mumificados são dispersos principalmente através dos respingos de água de chuva e esses ao atingirem e infectarem flores e frutos jovens permanecem latentes até o surgimento de condições climáticas favoráveis.
Em nossas condições de cultivo, a antracnose é mais frequente durante a primavera e o verão.
Recomenda-se plantio em terrenos arejados, drenados e ensolarados, evitando topo de morros sujeitos a ventos fortes, baixadas úmidas onde ocorram geadas tardias e topografia superior a 20%. Dar preferência a terrenos planos, pois facilitam a conservação do solo, os tratos culturais e a colheita.
O uso de cultivares com algum nível de resistência também é medida adequada para o manejo de doenças (Quadro 1).
Além disso, deve-se usar mudas sadias e realizar podas seletivas de formação e manutenção para favorecer a circulação de ar e a penetração da luz do sol no interior das copas.
A adubação equilibrada, baseada em análises de solo e foliar periódicas constitui outra medida importante.
Em termos de plantas daninhas, há necessidade de manejo correto para evitar o acúmulo de umidade entre as plantas. Esse trabalho precisa ocorrer cuidadosamente para evitar ferimentos durante os tratos culturais, pois são portas de entrada de patógenos. Folhas, frutos doentes, frutos mumificados e restos de cultura (fonte de inóculo) devem ser eliminados, podendo ser incorporado ao solo fora do pomar.
A aplicação de fungicidas registrados deve seguir todas as recomendações do fabricante quanto à dose, volume, momento da aplicação, intervalo e número de pulverizações, período de carência, uso de equipamento de proteção individual (EPI), armazenamento e descarte de embalagens. Os ingredientes ativos com registro no Brasil para o controle da cercosporiose e antracnose encontram-se descritos no Quadro 2.
Colheita antecipada em áreas onde a incidência de doenças em frutos é severa pode auxiliar. Recomenda-se também evitar ferimentos e a colheita de frutos molhados. O armazenamento deve ser em locais secos, limpos e com boa ventilação.
Por Jesus G. Töfoli e Ricardo J. Domingues, APTA – Instituto Biológico
Artigo publicado na edição 145 da Revista Cultivar Hortaliças e Frutas
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