
A soja (Glycine max) é uma das culturas agrícolas mais relevantes globalmente, tanto pelo seu valor econômico quanto pela sua biologia singular. No Brasil, maior exportador mundial, a soja ocupa cerca de 50% da área cultivada com grãos.
A classificação taxonômica de Glycine max:
- Domínio: Eukarya
- Reino: Plantae
- Filo: Tracheophyta
- Classe: Magnoliopsida
- Ordem: Fabales
- Família: Fabaceae (Leguminosae)
- Gênero: Glycine
- Espécie: Glycine max
Sua adaptabilidade a diferentes climas e solos, aliada à capacidade de fixar nitrogênio atmosférico, reduz a dependência de fertilizantes sintéticos, promovendo sistemas agrícolas mais sustentáveis.
Originária da China, onde foi domesticada há milênios a partir do ancestral selvagem (Glycine soja), a soja evoluiu para uma commodity essencial, fornecendo proteína vegetal, óleo comestível e matéria-prima para biodiesel.

Morfologia e anatomia
A soja é uma planta dicotiledônea com características morfológicas que sustentam sua produtividade e adaptação.
Raiz: o sistema radicular é pivotante, com uma raiz principal e raízes laterais que abrigam nódulos simbióticos com bactérias do gênero Bradyrhizobium. Esses nódulos realizam a fixação biológica de nitrogênio (FBN), essencial para a fertilidade do solo e redução de custos com adubação nitrogenada.
Caule: cilíndrico e pubescente, o caule varia de 0,5–2 m de altura, dependendo da cultivar e das condições ambientais. A pubescência protege contra pragas e reduz a perda de água.
Folhas: são trifolioladas, com três folíolos de venação reticulada, dispostos alternadamente em pares opostos. A maior concentração de estômatos na face inferior e a pubescência foliar minimizam a transpiração e protegem contra herbívoros.
Flores: pequenas e amareladas, as flores são hermafroditas e predominantemente autógamas. A estrutura floral favorece a autopolinização, embora a cleistogamia (fecundação antes da abertura da flor) possa ocorrer em condições específicas.
Frutos e sementes: os frutos são vagens simples, contendo 2–4 sementes. As sementes, ricas em proteínas (35–45%) e óleo (18–22%), apresentam coloração variável (amarelo, verde, branco ou preto), dependendo da genética e maturação.
Fisiologia e metabolismo
A soja realiza fotossíntese do tipo C3, eficiente em condições de alta umidade e temperaturas moderadas, mas menos produtiva sob calor intenso ou estresse hídrico. A taxa fotossintética depende da disponibilidade de luz, concentração de CO₂ e umidade do solo.
A planta apresenta alta taxa de transpiração, sendo sensível à deficiência hídrica, especialmente na fase de enchimento de grãos (R5). Irrigação suplementar é recomendada em regiões com déficit hídrico durante essa etapa.
A FBN é um processo-chave, mediado por Bradyrhizobium japonicum e Bradyrhizobium elkanii, que convertem nitrogênio atmosférico (N₂) em amônia (NH₃). Para maximizar a FBN, recomenda-se a inoculação com cepas selecionadas (ex.: SEMIA 5079 e 5080) e a manutenção do pH do solo entre 5,5 e 6,5.
A soja requer níveis adequados de macronutrientes (N, P, K) e micronutrientes (ex.: Zn, B). Análises de solo são essenciais para definir doses de adubação, especialmente de fósforo (30–60 kg/ha de P₂O₅) e potássio (40–80 kg/ha de K₂O), ajustadas à produtividade esperada.
Ciclo de vida e reprodução
O ciclo da soja é dividido em fases vegetativas (V) e reprodutivas (R), conforme a escala BBCH.
Fase vegetativa (V1–Vn): inicia-se com a emergência da plântula e termina com o florescimento. Inclui o desenvolvimento de folhas verdadeiras, alongamento do caule e formação de nódulos radiculares, com nodulação efetiva a partir de V2–V3, dependendo da inoculação e condições do solo.
Fase reprodutiva (R1–R8): começa com o florescimento (R1) e termina com a maturação fisiológica (R7) e colheita (R8). A fase R5 (enchimento de grãos) é crítica, sendo sensível a estresses hídricos, pragas e doenças.

Desafios fitossanitários no Brasil
No Brasil, pragas, doenças e plantas daninhas podem reduzir a produtividade da soja se não controladas adequadamente.
Alguns exemplos de problemas fitossanitários da cultura:
- Capim-amargoso (Digitaria insularis) e buva (Conyza bonariensis): resistentes ao glifosato. Usar herbicidas com modos de ação alternativos.
- Ferrugem-asiática (causada por Phakopsora pachyrhizi): fungo biotrófico que causa manchas necróticas e defolição. Pode reduzir a produtividade em até 80% sem controle (Embrapa, 2023). Usar fungicidas e cultivares resistentes.
- Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis): larvas defoliam plantas, especialmente na fase reprodutiva. Monitoramento com armadilhas de feromônios é recomendado.
- Mancha-alvo (causada por Corynespora cassiicola): afeta folhas e vagens em climas úmidos. Monitoramento e fungicidas preventivos são essenciais.
- Mofo-branco (causada por Sclerotinia sclerotiorum): gera apodrecimento em áreas úmidas. Rotação de culturas e espaçamento adequado reduzem a incidência.
- Nematoides (Meloidogyne incognita, Heterodera glycines): atacam raízes, comprometendo a absorção de nutrientes. Rotação com culturas não hospedeiras é eficaz.
- Percevejos (Euschistus heros, Nezara viridula): perfuram vagens e grãos, reduzindo peso e qualidade. Controle com inseticidas na fase R3–R5.
- Trapoeraba (Commelina benghalensis): controle com herbicidas pós-emergentes e manejo mecânico.
Recomendações de manejo integrado
Monitoramento: inspeção semanal para ferrugem-asiática e pragas. Uso de armadilhas para percevejos e lagartas.
Controle químico: rotação de fungicidas para evitar resistência (ex.: triazóis + estrobilurinas). Herbicidas com diferentes modos de ação para plantas daninhas resistentes.
Práticas culturais: plantio em épocas recomendadas. Densidade de 300.000–400.000 plantas/ha. Rotação de culturas para reduzir nematoides e mofo-branco.