2,4-D

27.05.2025 | 08:52 (UTC -3)

O ácido 2,4-diclorofenoxiacético, conhecido mundialmente pela sigla 2,4-D, representa um dos herbicidas auxínicos mais importantes e amplamente utilizados na agricultura moderna. Seu nome químico oficial é ácido (2,4-diclorofenoxi)acético, registrado sob o número CAS 94-75-7, com fórmula química bruta C₈H₆Cl₂O₃.

O 2,4-D pertence à classe química dos ácidos ariloxialcanóicos, especificamente aos ácidos fenoxiacéticos, e constitui o primeiro herbicida sintético desenvolvido comercialmente.

Lançado em 1946, o 2,4-D revolucionou o controle de plantas daninhas ao introduzir o conceito de seletividade hormonal. Seu desenvolvimento resultou de extensas pesquisas sobre auxinas sintéticas durante a Segunda Guerra Mundial, estabelecendo as bases para toda uma geração de herbicidas sistêmicos que transformaram as práticas agrícolas mundiais.

Modo de Ação

O mecanismo bioquímico do 2,4-D baseia-se em sua capacidade de mimetizar as auxinas naturais das plantas, particularmente o ácido indolacético (AIA). Uma vez absorvido, o herbicida é translocado via floema e xilema, acumulando-se nos meristemas apicais e tecidos em crescimento ativo.

Classificado pelo HRAC (Herbicide Resistance Action Committee) no grupo 4 (antigo grupo O), o 2,4-D atua como regulador de crescimento sintético, interferindo na divisão celular, alongamento celular e diferenciação tecidual. O princípio ativo promove síntese excessiva de etileno, ácido abscísico e outras substâncias reguladoras, resultando em crescimento descontrolado que esgota as reservas energéticas da planta.

Os sintomas característicos incluem epinastia (curvamento para baixo) de folhas e caules, engrossamento anormal de caules e pecíolos, formação de calosidades, clorose progressiva e eventual necrose dos tecidos. Em gramíneas susceptíveis, observa-se o característico "coração morto" dos perfilhos.

O tempo para manifestação dos sintomas varia entre 24 a 72 horas após a aplicação, dependendo das condições ambientais, estádio da planta e dose aplicada. Os primeiros sinais incluem curvamento foliar e engrossamento do caule, evoluindo para necrose completa em 7 a 14 dias.

Espectro de controle

O 2,4-D demonstra elevada eficiência no controle de dicotiledôneas anuais e perenes, destacando-se no manejo de Amaranthus spp. (caruru), Bidens spp. (picão-preto), Euphorbia heterophylla (amendoim-bravo), Ipomoea spp. (corda-de-viola), Sida spp. (guanxuma), Commelina benghalensis (trapoeraba) e diversas espécies da família Asteraceae.

Entre as espécies parcialmente controladas encontram-se Conyza spp. (buva) em estádios avançados, Digitaria insularis (capim-amargoso) em condições específicas, e algumas Rubiaceae como Richardia brasiliensis (erva-de-botão), que podem requerer doses maiores ou aplicações sequenciais.

Plantas naturalmente tolerantes incluem a maioria das gramíneas (Poaceae), especialmente milho, trigo, centeio e outras monocotiledôneas, devido a diferenças na absorção, translocação e metabolização do herbicida. Casos de resistência adquirida foram documentados em populações de Amaranthus spp., Kochia scoparia e Conyza canadensis em algumas regiões.

Recomendações técnicas de aplicação

As doses recomendadas variam de 670 a 1.340 g i.a./ha para aplicações em pós-emergência, podendo alcançar 2.010 g i.a./ha em situações de alta infestação ou espécies de difícil controle. Para aplicações pré-emergentes, utilizam-se doses de 1.005 a 2.010 g i.a./ha, dependendo da textura do solo e histórico da área.

O estádio ideal das plantas-alvo situa-se entre 2 a 6 folhas verdadeiras para espécies anuais, enquanto plantas perenes devem preferencialmente ser tratadas durante períodos de crescimento ativo, evitando-se aplicações durante floração ou estresse hídrico severo.

O 2,4-D pode ser aplicado em pré-emergência, pós-emergência precoce (até 4 folhas das plantas daninhas) ou pós-emergência tardia, sendo esta última modalidade a mais comum devido à maior seletividade e eficiência de controle.

As condições climáticas ideais incluem temperatura entre 15°C e 25°C, umidade relativa acima de 60%, ausência de ventos superiores a 10 km/h e previsão de chuva somente após 6 horas da aplicação. Temperaturas superiores a 30°C podem causar volatilização e deriva, enquanto temperaturas inferiores a 10°C reduzem significativamente a absorção e translocação.

Compatibilidade e misturas

O 2,4-D apresenta excelente compatibilidade com herbicidas graminicidas como glifosato, glufosinato, haloxifope e outros inibidores da ACCase, formando misturas de amplo espectro frequentemente utilizadas em dessecação pré-plantio e manejo de plantas daninhas resistentes.

Misturas comuns incluem 2,4-D + glifosato para dessecação total, 2,4-D + atrazina em milho, 2,4-D + dicamba para controle de dicotiledôneas resistentes, e 2,4-D + picloram em pastagens. Estas combinações ampliam o espectro de controle e podem reduzir a pressão de seleção para resistência.

Deve-se evitar misturas com herbicidas altamente alcalinos, sulfatos de cobre em altas concentrações, e produtos contendo boro em excesso. A mistura com hormônios de enraizamento ou outros reguladores de crescimento pode resultar em fitotoxicidade imprevista nas culturas.

Resistência e manejo de resistência

Casos documentados de resistência ao 2,4-D foram reportados inicialmente em populações de Commelina benghalensis no Brasil, seguidos por Amaranthus palmeri nos Estados Unidos e Kochia scoparia no Canadá. A resistência geralmente envolve metabolização acelerada do herbicida ou redução na absorção, translocação.

As recomendações de rotação incluem alternância com herbicidas dos grupos B (inibidores da ALS), C1 (inibidores do fotossistema II), D (inibidores do fotossistema I), E (inibidores da PPO) e K1 (inibidores da síntese de carotenoides), mantendo-se no máximo duas aplicações consecutivas de auxínicos por safra.

Estratégias práticas para manejo da resistência envolvem rotação de culturas, integração com métodos mecânicos, uso de culturas de cobertura, aplicação de herbicidas pré-emergentes em associação, e monitoramento constante da eficácia de controle através de avaliações sistemáticas de campo.

Eficácia agronômica e posicionamento estratégico

A eficácia do 2,4-D é significativamente influenciada pelas condições ambientais. Chuvas nas primeiras 6 horas após aplicação podem reduzir drasticamente a absorção, enquanto períodos de seca severa diminuem a translocação. Temperaturas elevadas (>30°C) favorecem a volatilização, especialmente das formulações éster, reduzindo a quantidade disponível para absorção foliar.

As principais vantagens incluem amplo espectro de controle de dicotiledôneas, baixo custo por hectare, flexibilidade de aplicação, excelente translocação sistêmica e seletividade natural para gramíneas. As limitações compreendem potencial de deriva por volatilização, fitotoxicidade em culturas sensíveis próximas, controle limitado de gramíneas e possibilidade de resistência cruzada com outros auxínicos.

O posicionamento estratégico varia conforme o sistema produtivo. Em soja, utiliza-se preferencialmente na dessecação pré-plantio associado ao glifosato. No milho, pode ser aplicado em pós-emergência da cultura até o estádio V6. No algodão, requer cuidados especiais devido à alta sensibilidade da cultura, sendo recomendado apenas em pré-plantio com intervalos mínimos de 15 dias. Na cana-de-açúcar, é amplamente utilizado em pré e pós-emergência, aproveitando-se da tolerância natural da cultura.

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