Manejos que impactam no potencial produtividade das culturas

Por Emerson Trogello, Lucas Luís Faustino, Ana Caroline de Araújo, IFGoiano – Morrinhos; Alcir José Modolo, UTFPR

24.12.2023 | 10:00 (UTC -3)

A partir da revolução verde, iniciada na década de 70 do século passado, buscou-se incessantemente a maximização da produtividade das diferentes culturas. Esta maximização da produtividade tem de estar, no entanto, aliada a uma produção sustentável, bem como ao ser economicamente viável. Em 1940, Antonio Secundino de São José afirmava que um produtor moderno deve produzir no sistema “BBB”, produzir bastante, bom e barato. Ainda hoje esta afirmação se envolve de verdades.

Cada dia mais, produtores buscam elevar as médias produtivas de diferentes culturas a campo. Mas a pergunta que fica é, qual o potencial produtivo das culturas? Randy Dowdy, por exemplo, produziu a campo 526 sacas por hectare de milho no ano de 2014, bem como 191 sacas por hectare de soja em 2016 nos USA. Pesquisas apontam que o potencial (quanto posso produzir) das cultivares modernas de soja chega próximo a 300 sacas por hectare. Bem como, podemos observar que a produtividade do indivíduo planta também é ampla e quase inalcançável a campo. Nelson Kappes, por exemplo, conseguiu extrair de uma planta de soja um total impressionante de 21.425 vagens. A partir disto, é obvio que não conseguimos alcançar a campo o máximo de produtividade do indivíduo ou mesmo da área.

Esta produtividade a campo é definida pelos componentes de produtividade, que geralmente se relacionam ao número de grãos por unidade de área e o peso destes grãos. Pegando como exemplo a soja, os números de grãos por unidade de área são encontrados ao obter a média de vagens por planta, grãos por vagem e a população de plantas na unidade de área. Veja que são estes fatores, em conjunto com o peso destes grãos que devemos nos atentar e atender a campo. Estes componentes ainda, tendem a se autoajustar, elevando-se um acima da capacidade de suporte da área ou do indivíduo, eu tendo a reduzir outros. No exemplo citado acima, a planta que produziu 21.425 vagens, certamente ocupou uma maior área, reduzindo assim a população de plantas por unidade de área.

Vários fatores mitigam a produtividade da cultura a campo, nos atentamos na grande maioria das vezes, em focar no manejo dos fatores bióticos que interferem (plantas daninhas, pragas e doenças), mas nos esquecemos, no entanto, que este manejo é apenas protetivo, e não impactam no aumento de produtividade, mas na manutenção da mesma.

Desta forma, é necessário focar inicialmente em fatores que elevem o potencial produtivo a campo, e todos baseiam-se na relação da Genética se interagindo com o ambiente. Fator imprescindível então, é escolher a genética certa, para a região, época, sistema etc. de implantação da cultura. Não adianta fomentar ações no sentido de proteger a produtividade, se a genética escolhida não for adaptada a todo o sistema. É necessário ainda, que está genética seja testada em âmbito de propriedade, cada área, ano, época de semeadura etc., pode exigir determinada genética.

Escolheu a melhor genética? É necessário agora escolher o melhor fornecedor da mesma, sem a semente não há planta, sem a semente não há produtividade. A semente é o insumo de maior importância a ser adquirido. Tentar reduzir custos, na obtenção da semente, é um erro e certamente será cobrado na colheita. Uma semente de qualidade gera uma plântula de qualidade e vigor, e consequentemente, saímos na frente em busca da máxima produtividade. Devemos lembrar que esta semente em algum momento foi conduzida a campo, colhida, beneficiada, armazenada, deslocada até a propriedade, etc. A semente de soja a ser semeada nesta safra de 2019/20, já esteve a campo em 2018/19, desta forma, ela já vem sofrendo processos de perda de vigor a todo o momento, desta forma, ela deve ser recebida, devidamente armazenada até o momento da semeadura e alocada em um “leito” de semeadura o mais adequado possível.

A ideia de tratar o sulco de plantio como um “leito” já nos diz sua importância. Esta semente, que vem sofrendo processos de degradação fisiológica ao longo de sua vida de armazenamento, deve ser alocada em um leito o mais propicio possível. Para isto, passa-se por condições de umidade do solo, cobertura vegetal, máquina de semeadura, velocidade de semeadura, profundidade de semeadura, compactação de solo, entre inúmeros outros fatores. Cabe a nós, otimizar este processo e fazê-lo com o maior capricho possível. Qualquer semente alocada de forma errônea, não se constituirá em planta, ou se tornara uma planta com menor potencial de produtividade. Não importa o quanto esteja corrida a rotina da propriedade, este processo deve ser feito com calma, paciência, técnica e amor. É preferível adiar um dia de plantio ou semear uma menor área, do que realizar este processo de forma displicente.

Antes da semeadura, no entanto, é imprescindível que analisemos qual a época de semeadura. Isto vai depender do meu sistema produtivo, da realização de uma segunda safra, da genética escolhida, etc., mas o principal é buscar semear em uma época onde coincida a máxima necessidade da cultura com a máxima disponibilidade dos recursos por parte do ambiente. Quando esta cultivar florir, terei disponibilidade de água, luz e temperatura por parte do ambiente? No ato da semeadura, terei disponibilidade de água e temperatura para germinação e emergência? No ato da colheita, terei possibilidade de a realizar sem a ocorrência de muitas chuvas? São perguntas com respostas incertas, mas devemos tentar respondê-las e semear a cultura buscando coincidir estes fatores, os quais não controlamos de outra forma.

Junto com a semente, e também em seu leito, deve vir a adubação, é aí que se concentram muitos esforços, qual a recomendação de adubação? Quanto de N, P, K, Ca, Mg, S e os micro? Aproximadamente 90% do que compõe a maioria das plantas é composto de nutrientes que não adicionamos ao sistema (C, H e O), nos preocupamos assim, com os 10% restantes, mas não menos importantes. Devemos atentar, no entanto, em busca de maiores produtividades, que nenhum componente adicionado ao sistema produtivo vai ter efeito linear crescente, sendo que todos tem uma dose ideal, e a partir dela, pode ocorrer em desbalanço e perda de produtividade. É preciso ir além, além das recomendações básicas e além dos 0 aos 20 cm de análise, é preciso descer em perfil, ampliar a área de amostragem e considerar sempre que a raiz da planta é a principal porta de entrada dos nutrientes necessários a mesma, por isto devemos pensar em solo estruturado e sem apresentar limitância (química e principalmente física) ao correto desenvolvimento radicular.

Para formar esta estrutura de solo, é preciso fomentar o sistema de cultivo. Enquanto temos agricultores cultivando apenas soja durante o ano, temos agricultores colhendo mais de 4 safras no sistema, caso de produtores que estão trabalhando com os sistemas iLPF, podendo colher, como exemplo, soja, milho, gado, a palhada em si, e o componente florestal. Embora este último agricultor usufrua mais da área, não quer dizer que seu componente solo esteja pedindo pousio, ao contrário, se bem manejado este uso intenso da área traz inúmeros benefícios. Um sistema deve ser ativo, apenas palhada de cobertura já não é suficiente, é necessário que esta cultura esteja ativa, ciclando nutrientes, melhorando os caracteres físicos, químicos e biológicos. Inúmeros sistemas e culturas de cobertura permitem que a área esteja em uso ao longo de todo ano.

No ato da semeadura ainda, busca-se alocar a semente em uma população ideal e na maior uniformidade possível. Qualquer desuniformidade horizontal ou vertical induz a maior competição e reduz produtividade. Desta forma, ao colocar as sementes desuniformemente na linha de plantio, podemos elevar a competição intraespecífica, caso da duplagem na distribuição, ou aumentar a competição interespecífica, caso dos espaçamentos falhos de sementes. Da mesma forma, uma não uniformidade na distribuição vertical (profundidade de semeadura), pode proporcionar uma diferenciação na emergência, podendo ter plântulas emergindo primeiro e assim suprimindo suas parceiras. A uniformidade é algo que se busca do plantio a colheita das diferentes culturas.

Ao realizar estes procedimentos, podemos impactar em alguns dos componentes produtivos. Uma adequada genética, população de plantas, vigor de plantas, época de semeadura, impacta diretamente no número de grãos por unidade de área e no peso de grãos, culminando em uma maior produtividade. É claro que, a planta precisa chegar em seu momento reprodutivo, dispondo do “banco” de fotoassimilados criado na faze vegetativa. Desta forma, uma folha protegida/sadia até o enchimento de grãos vai proporcionar a busca por tetos mais produtivos.

Escolhendo a genética, a época de semeadura, cuidando no ato de semear, a adubação no sistema e construindo perfil de solo, impactamos diretamente nos componentes de produtividade, e tudo isto, a custo nulo ou baixo. Os protetores da produtividade (tratamento de sementes, herbicidas, inseticidas da parte aérea, fungicidas da parte aérea) apenas protegem o potencial anteriormente criado. É quase consenso entre os produtores acima da média que este aumento de produtividade, depende em sua maioria da dedicação e capricho aquilo que se faz. Um monitoramento e acompanhamento diário da lavoura, ajuda a tomar as decisões e a realizar as operações no momento certo. O embasamento técnico ajuda a tomada de decisões assertivas. E o “gostar do que se faz”, ajuda que todas as ações realizadas sejam pensadas em favor da cultura e na busca por produtividade. Claro que tudo tem um custo, mas o principal na busca de altas produtividades depende apenas do recurso humano sobre a área.

Por Emerson Trogello, Lucas Luís Faustino, Ana Caroline de Araújo, IFGoiano – Morrinhos; Alcir José Modolo, UTFPR 

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