Práticas mecânicas para a prevenção e correção de solos degradados

Por Viviane Castro dos Santos (UFC), Deivielison Ximenes Siqueira Macedo (Fatene), Leonardo de Almeida Monteiro (UFC), Jefferson Auteliano Carvalho Dutra (UFC), Enio Costa (IFCE), e Daniel Albiero (Unicamp)

15.08.2024 | 15:52 (UTC -3)

Um dos recursos naturais mais importantes ao homem é o solo, pois têm múltiplas funções no ciclo dos nutrientes, da água e é importante para a sustentabilidade dos sistemas naturais, como as florestas primárias e campos (Embrapa, 2003).

A alteração dos sistemas naturais pelo homem cria zonas alteradas que podem ter sua produção melhorada, conservada ou diminuída de acordo com o manejo adotado.

Quando a alteração desses sistemas ocorre junto com processos que levam à redução da capacidade produtiva do sistema, diz-se que as áreas estão degradadas (Embrapa, 2003), sendo que as práticas realizadas com o intuito de prevenir, controlar ou corrigir esse processo de degradação do o solo são dividas em três tipos de práticas: vegetativas, as edáficas e as mecânicas.

As práticas conservacionistas de caráter mecânico utilizam-se de máquinas e implementos agrícolas, para interceptar e/ou conduzir o escoamento superficial, reduzindo assim a perda de água e solo através da redução das perdas por erosão. As práticas mecânicas se dividem em preventivas que são práticas realizadas para evitar o surgimento desses processos de degradação, as de controle que devem ser feitas quando já existem problemas iniciais, para controlar pequenos focos de degradação e as corretivas que tem como intuito corrigir problemas de degradação mais avançados.

Práticas mecânicas preventivas

A utilização sempre da mesma profundidade de trabalho com equipamentos para o preparo do solo (arado, grade, enxada rotativa e, escarificador) auxilia na formação de camadas compactadas, que são uma das principais causas do escoamento superficial de água, crescimento reduzido e desenvolvimento inadequado dos cultivos entre outros problemas. 

Uma das formas de se impedir a formação de camadas compactadas é realizar as operações agrícolas em diferentes profundidades a cada ciclo agrícola, se possível deve ser realizado um sistema rotativo de equipamentos agrícolas, ou seja, a cada ciclo agrícola devem ser utilizados diferentes equipamentos com diferentes profundidades (Tabela 1).

Tabela 1: diferentes equipamentos de preparo do solo com diferentes profundidades de trabalho
Tabela 1: diferentes equipamentos de preparo do solo com diferentes profundidades de trabalho

Material de cobertura no solo

A manutenção de material de cobertura vegetal seja matéria morta (restos culturais) ou viva (adubação verde) sobre a superfície do solo protege o mesmo do impacto causado pelas gotas de chuva que causam a desagregação das partículas de solo, seguida pelo transporte e deposição dessas partículas, essas fases constituem o processo de erosão hídrica. Para que o material de cobertura atue com uma ferramenta mecânica de conservação do solo é necessário que o mesmo seja bem distribuído ao longo de toda a área, uma das formas de melhorar essa uniformidade é utilizar o picador e distribuidor de palha nas colhedoras ele permite uma cobertura mais uniforme da área, evitando que determinados pontos da área fiquem sem cobertura.

Cultivo em nível

O cultivo em nível consiste em realizar todas as operações agrícolas desde o preparo do solo, a semeadura e os demais tratos culturais sempre acompanhando as curvas de nível do terreno, assim quando as chuvas ocorrem a cada curva a enxurrada vai perdendo a força e com isso é reduzida a perda de água e solo pelo escoamento superficial.

Enleiramento em nível

Consiste na operação de amontoar restos vegetais para formar leiras em nível, de forma que a força das enxurradas seja contida. Estes restos vegetais podem ser obtidos a partir de pós-colheita ou provenientes de desmatamento planejado, devem ser utilizados restos vegetais que não possuam valor econômico e que, portanto, não justifiquem a retirada do mesmo. Para dimensionar as leiras em nível, deve-se levar em consideração o tipo de equipamento utilizado para a construção das mesmas, da declividade do terreno, pois quanto maior a declividade, maior deve ser a quantidade de leiras a serem amontoadas.

Práticas mecânicas de controle

Terraceamento

O terraceamento de terras agrícolas é uma das práticas de controle da erosão hídrica mais difundidas entre os agricultores, tem como objetivo fundamental reduzir processos erosivos e consiste no parcelamento das rampas, isto é, divide-se uma rampa comprida (mais sujeita à erosão) em várias menores (menos sujeitas à erosão), por meio da construção de terraços. São construídos obstáculos transversais à linha de declive, os quais têm a função de interceptar, drenar e/ou infiltrar o excesso de água precipitada. 

Canais escoadouros

São canais vegetados que têm como objetivo receber e transportar a água drenada de terraços ou outras estruturas. São formados por depressões rasas e largas e um leito resistente à erosão.

Culturas em faixa de retenção

São barreiras vegetativas que tem como objetivo reduzir o escoamento superficial, proporcionando cobertura parcial da superfície do solo e fracionando a rampa de declive.

As culturas a serem utilizadas para formar as faixas preferencialmente devem ser de rápido crescimento, com sistema radicular bem desenvolvido para que possam ser mais resistentes às enxurradas, culturas que permitam o adensamento populacional, de ciclo longo, com parte aérea bem desenvolvida e que sejam culturas de interesse econômico para que o agricultor também possa explorá-las além da prática conservacionista.

Culturas em faixa de rotação

São faixas de retenção, porém com culturas distintas, essas faixas têm como função diminuir processos erosivos através da divisão do declive e com as diferentes densidades populacionais de plantas proporcionar diferentes velocidades de escoamento ao atravessar cada faixa e o mais importante é que sejam utilizadas culturas em que os tratos culturais sejam realizados em diferentes épocas, dessa forma mesmo quando algumas faixas de determinada cultura forem colhidas ainda existam outras faixas para conter o escoamento superficial assim sempre existiram na área faixas para conter os processos erosivos.

Práticas mecânicas corretivas

Escarificação

É uma operação agrícola utilizada no sistema de cultivo mínimo, que de acordo com ASAE (1982) consiste em romper camadas compactadas superficiais do solo até 40 cm de profundidade com o uso de escarificadores possibilitando assim a movimentação do solo sem a inversão da leiva e mantendo grande parte dos resíduos vegetais na superfície que protege o solo da erosão.

Subsolagem

É uma operação agrícola corretiva que de acordo com ASAE (1982) tem como função romper camadas de solo subsuperficiais, ou seja, camadas com mais de 40 cm abaixo da superfície, sendo uma operação que deve ser realizada apenas quando for detectado o aparecimento de camadas compactadas.

*Por Viviane Castro dos Santos (UFC), Deivielison Ximenes Siqueira Macedo (Fatene), Leonardo de Almeida Monteiro (UFC), Jefferson Auteliano Carvalho Dutra (UFC), Enio Costa (IFCE), e Daniel Albiero (Unicamp)

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