Safra com maior pressão de mosca-branca

Por Jacob Crosariol Netto, Instituto Mato-grossense do Algodão (IMA)

12.08.2024 | 15:43 (UTC -3)

A safra 2023/2024 no Cerrado brasileiro caracterizou-se como uma das mais desafiadoras para o produtor rural, sendo que, dentre as adversidades enfrentadas, sem dúvida alguma o clima foi o que se tornou o maior desafio.

A safra iniciou com o chamado “el Niño”, classificado como de alta intensidade, que traz irregularidades no estabelecimento normal de chuvas; e uma forte alternância entre chuvas fortes e veranicos prolongados. Aliado a isso, altas temperaturas. Em algumas regiões do estado notou-se o aumento de cerca de dois a três graus Celsius (°C) nas temperaturas médias em relação ao ano anterior.

Naturalmente, devido ao fator climático ocorreram alterações na programação de semeadura, principalmente em culturas como soja e algodão. A condição contribuiu também para a queda de performance dos herbicidas para o controle de plantas daninhas e tigueras, deixando no ambiente alta presença de “invasoras” que se tornaram fonte de multiplicação e abrigo para pragas.

Esse cenário tornou-se o ambiente perfeito para proliferação de alguns grupos de insetos considerados pragas, que em índices elevados de ocorrência impactam diretamente no aumento dos custos de produção. Dentre eles, destacou-se mosca-branca, Bemisia tabaci, inseto sugador e altamente polífago. No transcorrer da safra, a mosca apresentou índices populacionais altamente elevados e consequentemente destacou-se como uma das principais pragas da safra. Também ocorreu em milho, cultura que, quando comparada a soja e algodão, é um hospedeiro muito menos preferido.

Mosca-branca em anos de clima mais ameno apresenta ciclo de desenvolvimento em torno de 25 dias  
Mosca-branca em anos de clima mais ameno apresenta ciclo de desenvolvimento em torno de 25 dias  

Mosca-branca em anos de clima mais ameno apresenta ciclo de desenvolvimento em torno de 25 dias. Sob as condições vividas na atual safra, aliadas principalmente ao aumento da temperatura, ocorreu aceleração no seu ciclo de desenvolvimento para algo ao redor de 18 dias. Por conseguinte, houve maior número de gerações ao longo da safra.

Esse fator foi comprovado pelo produtor no campo, que prontamente fez um maior número de aplicações com inseticidas. Essas aplicações, dependendo do momento, pareciam não reduzir a população da praga. E isso gerou algumas dúvidas. Por exemplo, qual o biótipo predominante na região (B ou Q)? Ocorreu queda de performance de algumas moléculas? O manejo com biológicos se mostrou efetivo nestas condições climáticas?

Resultados e observações

O biótipo Q de mosca-branca apresenta perfil toxicológico diferente do biotipo B. Moléculas como piriproxifem, acetamiprido e buprofezina, por exemplo, muito utilizadas e com boa performance para o controle do biotipo B de mosca-branca, não têm boa performance contra o biotipo Q. Ou seja, é muito mais complicado o controle de biótipo Q, pois há menos opções para estruturar um programa de manejo.

Dentro do compilado de ensaios realizados pelo Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt) na atual safra, observou-se que produtos à base de piriproxifem, utilizados de maneira isolada, apresentaram declínio de performance. Isso ocorre devido à alta exposição à molécula. No cenário atual, pensando em controle de mosca-branca, esta sem dúvida é a molécula mais utilizada. Portanto, essa exposição sequencial sem um plano ajustado de manejo de resistência é totalmente prejudicial à molécula, pois impacta na seleção de populações tolerantes ou resistentes.

Um dos pontos primordiais para o sucesso de inseticidas biológicos é o correto posicionamento. Fatores como temperatura, luminosidade, umidade, horário de aplicação e compatibilidade com químicos exercem total influência sobre o microrganismo. Portanto, no momento da aplicação devem ser observados com atenção.

Contra a mosca-branca, grande parte dos produtos utilizados são à base de fungos. Portanto, devem ser aplicados no final de tarde, uma vez que a radiação UV pode impactar na germinação dos esporos, alterando a performance do microrganismo. Na atual safra, apesar das altas temperaturas, as noites apresentavam alta umidade, viabilizando o uso dessa ferramenta.

Na atual safra, as áreas em que se optou pela associação entre inseticidas químicos e biológicos (compatíveis) foram as que apresentaram os menores problemas com a praga, evidenciando a importância da integração de diferentes ferramentas para o melhor controle da praga.

No transcorrer da safra, a mosca apresentou índices populacionais altamente elevados e, consequentemente, destacou-se como uma das principais pragas da safra  
No transcorrer da safra, a mosca apresentou índices populacionais altamente elevados e, consequentemente, destacou-se como uma das principais pragas da safra  

Novas moléculas para o controle

Uma nova molécula foi registrada para o controle de mosca-branca em grandes cultivos. Trata-se do inseticida químico Elestal Neo, composto por uma mistura da espiropidiona (derivado do ácido tetrâmico) e acetamiprido (neonicotinoide). É uma nova opção para o controle desta praga em cultivos agrícolas.

Dentro dos ensaios realizados no último ano, observou-se alta eficiência de controle desse inseticida sobre populações de mosca-branca ocorrentes em Primavera do Leste e Campo Verde. Trata-se, portanto, de mais uma opção para construção de um bom programa de manejo visando rotacionar ingredientes ativos com diferentes modos de ação. Isso com o objetivo de reduzir a frequência de seleção de populações resistentes e de dar sobrevida a moléculas já utilizadas.

Por Jacob Crosariol Netto, Instituto Mato-grossense do Algodão (IMA)

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