Avanços em semeadoras impulsionam o cultivo de milho
Por Luan Solér Francischinelli e Paulo Roberto Arbex Silva, da Unesp
A lucratividade de uma exploração agrícola é dependente de uma série de fatores: mercado, preço dos insumos, produtividade, clima, entre outros. Maiores produtividades indicam uso mais eficiente do solo e dos recursos, e na maioria das vezes resulta em maior retorno econômico para o produtor.
Ela é dependente de diversas variáveis, sejam as que não são controláveis, como clima e radiação solar, ou as controláveis, como qualidade da semeadura e recurso genético das sementes. Por depender de várias variáveis, é normal a produtividade de uma cultura numa mesma área variar de ciclo a ciclo. Porém, se houver controle eficiente daquelas variáveis controláveis, a produção por área não sofre grande mudança.
A qualidade de semeadura é fundamental para possibilitar o estande ideal de uma cultura para uma determinada região. Definido o estande adequado para a área e a região explorada, a semeadora é regulada para distribuir a quantidade de semente necessária para atingir o estande ideal. Se a semeadura for inadequada, ela irá contribuir para uma das duas situações opostas: ou promoverá estande abaixo do ideal, o que reduzirá o potencial produtivo da cultura por falta de plantas, ou proporcionará um estande acima do ideal, o que reduz o potencial produtivo da cultura em detrimento do excesso de competição entre plantas.
Defeitos nos mecanismos de função nas semeadoras ocasionam a deficiência na semeadura, seja por deposição das sementes em profundidades inadequadas, falha na distribuição, sementes duplas ou triplas ou compactação elevada do solo. Todas estas falhas implicam estandes impróprios para a cultura, o que acarreta baixa eficiência na exploração agrícola e redução do retorno econômico para o proprietário rural.
Diversos fatores interferem no funcionamento de uma semeadora e serão abordados, a seguir, os principais problemas encontrados em semeadoras que ocasionam deficiência na semeadura, portanto redução do potencial produtivo e rentabilidade da cultivar.
A estrutura de função das semeadoras é dosar e distribuir no solo sementes de acordo com taxas previamente estabelecidas. Os processos funcionais principais em uma semeadora são: abertura de sulco, dosagem de semente, distribuição, fechamento do sulco e compactação. Qualquer comprometimento destes processos leva à deficiência na semeadura e a falhas na linha, implicando redução do potencial produtivo da cultivar e prejuízo para o produtor.
Na grande maioria das máquinas semeadoras, a abertura de sulco é feita por meio de hastes sulcadoras, disco duplo ou sulcador. Tanto a haste sulcadora quanto o sulcador exigem um solo mais solto, usado muito no cultivo convencional do solo. Já o disco duplo se aplica tanto para solos soltos quanto para solos mais compactados, tais como os existentes em cultivos mínimos e conservacionistas.
O sistema de abertura de sulco é dotado de uma mola controladora de profundidade. Esta mola, se bem ajustada à tensão, garante uma mesma profundidade de semeadura, até mesmo em terrenos com leves ondulações. Para terrenos com ondulações mais elevadas, o mecanismo pantográfico é o que proporciona a manutenção da profundidade de abertura do sulco, o qual também é dotado de uma mola reguladora da profundidade.
Máquinas que não estão reguladas ou que apresentam parafusos reguladores ou molas quebradas produzem variação da profundidade de semeadura ao longo da linha de plantio. Esta variação da profundidade pode provocar dificuldade de emergência das plântulas, favorecendo o ataque de pragas e doenças, ou a exposição da semente a pássaros. Ambos os problemas levam à redução do estande de plantas e, portanto, redução da produtividade.
Relatos de trabalhos publicados abordam o efeito da profundidade da semente na emergência da plântula e o seu desenvolvimento como planta. Todos os trabalhos obtiveram resultados semelhantes no aspecto que cada tipo de cultura apresenta uma profundidade de deposição da semente adequada para atingir melhor vigor da planta. Qualquer variação para mais ou para menos da faixa de profundidade ideal gera dificuldades de germinação ou emergência da plântula, o que reduz o potencial produtivo da lavoura. Pode-se concluir que a melhor profundidade é a recomendada pelo lote de sementes.
Cada sistema dosador de semente apresenta uma eficiência característica. Existem no mercado diferentes tipos de sistemas dosadores de sementes: gravitacional, cilindro canelado, rotor vertical, disco horizontal perfurado, sistema pneumático, correia perfurada, dedos preensores, cilindro vertical perfurado e disco inclinado. Cada sistema é adequado para determinados cultivos e tipo de semeadura, portanto antes de comprar uma semeadora verifique qual o melhor dosador para a cultura a ser explorada. Neste artigo abordamos o sistema mais utilizado no mercado para grãos, que é o sistema de disco horizontal perfurado ou sistema pneumático.
O erro associado ao sistema dosador está relacionado com o desvio da distância entre sementes na linha em comparação com a distância ideal para um dado estande de plantas. Além disso, o erro do dosador pode provocar danos à semente, impedindo a germinação e provocando falhas na linha de plantio.
Estudos científicos a respeito dos fatores que afetam o desempenho dos dosadores concluíram que as principais causas são: características das sementes (forma, tamanho, rugosidade); tamanho e forma das células e com as das sementes; rotação do disco; desgaste dos componentes mecânicos; regulagens; facilidade de fluxo (a adição de pó de grafite aumenta a precisão em dosadores de dedos preensores, pneumáticos e disco horizontal); geometria do reservatório de sementes (a forma do reservatório deve permitir o fluxo contínuo no dosador); qualidade do disco, do anel e da base, e deslizamento entre eles; desempenho de mecanismos auxiliares (o mau funcionamento de expulsores e ejetores de sementes pode causar danos nas sementes e gerar falhas ou dosagens múltiplas).
Pesquisas recentes desenvolvidas por instituições renomadas mostraram que em dosador regulado e com manutenção adequada da semeadora, o principal fator que afeta do desempenho do dosador é o aumento da velocidade de deslocamento da máquina. Portanto, o ajuste da velocidade de deslocamento da semeadora por parte do operador é fundamental para evitar erros do sistema dosador.
Existem basicamente no mercado de semeadoras três tipos de sistemas de distribuição de sementes: condutor gravitacional, pneumático e centrífugo. Os condutores gravitacional e pneumático estão presentes em semeadoras de precisão, já o centrífugo está presente em semeadoras para distribuição a lanço. A distribuição centrífuga é aleatória, diante disto, o erro de distribuição está a cargo da rotação do mecanismo centrífugo. Já nos sistemas pneumático e gravitacional, o erro de distribuição está associado ao tempo gasto até a semente atingir o fundo do sulco, o que implica espaçamento entre sementes na linha de plantio.
Os principais fatores que provocam o erro de distribuição das sementes ao solo são: a distância vertical entre a saída do dosador e o fundo do sulco (deve ser a menor possível), a forma de deposição (por gravidade ou por fluxo de ar), a velocidade da semente de saída do dosador (quanto maior a velocidade, menor a precisão) e as características do tubo condutor (diâmetro, rugosidade interna e inclinação).
A quantidade de solo que cobre a semente, assim como o grau de compactação produzido no solo, influencia na quantidade de água e de ar disponibilizados à semente, e a resistência do solo imposta à plântula durante a emergência. Diante disto, qualquer falha no recobrimento da semente, bem como a presença de solos compactados, é fator que dificulta a emergência de plântula e reduz o vigor de desenvolvimento das plantas.
As semeadoras apresentam diferentes mecanismos de fechamento de sulco, mecanismos de enxadas, discos, correntes, chapas e rodas. Cada mecanismo é adequado para determinado tipo de semente. Nas semeadoras modernas, o fechamento do sulco e a compactação do solo em volta da semente são realizados por uma única roda, denominada roda aterradora-compactadora em “V”. Após a roda aterradora-compactadora, pode ser acoplada uma roda compactadora adicional, conhecida como compactadora flutuante.
Fatores que provocam o erro de fechamento e compactação são principalmente na escolha do mecanismo recobridor e do compactador e nas regulagens destes. Cada tipo de mecanismo recobridor e compactador é adequado para cada tipo de semente, seja esta miúda ou graúda.
Estudos mostram que regular a carga vertical do mecanismo recobridor e compactador em 20,3kgf, implicam reduzir a velocidade e a porcentagem de emergência da cultura do algodão. Já cargas entre 10,2kgf e 15,3kgf foram benéficas para o desenvolvimento. Para a cultura do feijoeiro, as cargas verticais de 30,6kgf ou acima, afetaram negativamente a emergência do feijoeiro e que a melhor seria entre 15,3kgf e 20,4kgf. Cada cultivar tem uma carga ideal e esta informação é obtida do fabricante de sementes.
Uma semeadura correta e com sementes de qualidade é fundamental para maximizar o potencial produtivo da cultura. A falta de manutenção e/ou regulagens dos mecanismos de função da semeadora implica falhas no estande da cultura, dificuldade de germinação das sementes e emergências das plântulas. Isso reduz a produtividade, e como consequência diminui o lucro da lavoura.
A semeadora é uma máquina com mecanismos funcionais complexos e interligados. Desta forma, o erro presente em um mecanismo não deve ser tratado isoladamente, a manutenção deve ser periódica e preventiva, e feita em conjunto com todos os mecanismos dos processos funcionais.
Todo fabricante de semeadoras fornece manuais com informações sobre as regulagens necessárias e manutenções periódicas da máquina, portanto é de suma responsabilidade do operador e gerente da propriedade estarem atentos, uma vez que máquina bem regulada é “sinônimo” de maior produtividade.
*Por Lucas de Arruda Viana, Fernando Ferreira Lima dos Santos, Guilherme de Moura Araújo, Rodrigo Nogueira Martins, Jorge Tadeu Fim Rosas, Samira Luns Hatum de Almeida e Laércio Zambolim, da UFV
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