Avanços em semeadoras impulsionam o cultivo de milho
Por Luan Solér Francischinelli e Paulo Roberto Arbex Silva, da Unesp
02.01.2025 | 16:54 (UTC -3)
O milho (Zeamays L.), com centro de origem na América Central, é uma das plantas mais importantes do mundo e mais domesticadas pelo homem ao longo de sua história. Bem adaptada ao Brasil, a cultura do milho possui papel de destaque na economia nacional, haja vista que 30% das áreas agricultáveis em nosso país foram semeadas na safra 2017/2018, segundo a Conab (2018). Além disso, o último levantamento feito aponta que as produtividades na primeira e na segunda safra foram de 5.556 e 5.564 quilos por hectare, respectivamente. Diversas tecnologias novas vêm contribuindo para que a safrinha produza mais, e neste aspecto a área de mecanização tem sido uma das que mais evoluíram nos últimos anos.
No quesito semeadura, cada vez mais os produtores rurais e as empresas do ramo estão adquirindo consciência de que a boa realização deste processo é extremamente importante para que o milho atinja altas produtividades. Plantabilidade é um termo novo que pode ser classificado como característica qualitativa e que na prática significa realizar uma boa instalação da lavoura, sempre buscando ser o mais satisfatório possível. Isso envolve diversos aspectos ligados à regulagem da semeadora, como o bom corte da palha, a boa dosagem de adubo, o bom fechamento de sulco, dentre outros. No entanto, o ponto mais importante é a distribuição das sementes, no espaçamento e na profundidade corretos.
A irregularidade na distribuição longitudinal das sementes na linha pode comprometer o aproveitamento eficiente de água, luz e nutrientes, aumentando o número de plantas com desenvolvimento fenológico retardado, colmos frágeis, produzindo espigas pequenas e se apresentando dominadas na lavoura (Sangoi et al, 2012).
No mercado, existem dois tipos de dosadores de sementes para semeadoras de precisão, os de disco alveolar horizontal (popularmente denominados de mecânicos) e os dosadores-apanhadores com auxílio pneumático (comumente chamados apenas de pneumático), segundo Dias (2009). Recentemente, algumas empresas do mercado têm investido em tecnologias que favorecessem o avanço das semeadoras mecânicas, e que ainda são as mais usadas no Brasil.
Uma tecnologia que surgiu para contribuir com a qualidade dos discos horizontais foi a chamada Rampflow, que se caracteriza por possuir rampas estriadas nos furos, que facilita a raspagem e a retirada de possíveis sementes duplas.
O Grupo de Plantio Direto (GPD) pertencente à Unesp de Botucatu realizou um estudo avaliando a distribuição longitudinal de sementes de milho utilizando os dois discos em esteira simuladora de bancada trabalhando a uma velocidade de 4km/h. Na ocasião, foi utilizada a peneira de 11 milímetros para ambos e os espaçamentos entre sementes foram medidos com o auxílio de uma trena. Os valores obtidos foram submetidos à análise de estatística descritiva e classificados como aceitáveis, falhos e duplos segundo a metodologia de Kurachi (1989), que trata como aceitável as sementes espaçadas entre 50% abaixo e acima do ideal. Valores menores que a margem de 50% são classificados como espaçamentos duplos, e maiores como espaçamentos falhos.
A Tabela 1 mostra que o espaçamento médio mais próximo ao ideal (23,9cm) foi verificado no disco Rampflow, resultados semelhantes foram encontrados por Correia et al (2015). O maior desvio padrão (DP) foi verificado no Convencional, com aumento de 59,39% em relação ao Rampflow. O maior coeficiente de variação (CV) foi obtido pelo disco convencional.
A Tabela 2 mostra melhor desempenho para o disco Rampflow que atingiu o maior índice de espaçamentos aceitáveis. Para os espaçamentos duplos houve uma diferença grande para o convencional, que obteve também o maior índice de falhas.
O que se pretende mostrar com esse trabalho é que o produtor rural pode melhorar bastante a semeadura em sua propriedade investindo pouco dinheiro, haja vista que discos de plantio não costumam custar muito. Claro que isso não substitui a boa regulagem da semeadora aliada a baixas velocidades de deslocamento do trator.
Além de tudo isso, é importante realizar inspeções nas semeadoras nos períodos de entressafra com a máquina no barracão. Com base nisso, surgiu o programa Inspeção Periódica de Semeadoras (IPS) realizado pelo Grupo de Plantio Direto, que tem rodado pelo Brasil inteiro e que consiste na visita às propriedades rurais para realizar um check-list do estado da máquina e entregar um relatório final para o produtor, de modo que ele possa realizar as tomadas de decisão, que algumas vezes são apenas nas regulagens, ou até mesmo troca de peças em que foi constatado desgaste.
Principalmente para a cultura do milho, o potencial produtivo da lavoura é definido no momento da semeadura, pois esta cultura não possui hábito de engalhamento que compense algumas falhas cometidas no campo. Seguindo este raciocínio, cada semente que deixa de ser depositada no sulco significará para o produtor uma planta a menos, deixando de produzir uma espiga. Às vezes, um erro de, por exemplo, 5% que possa parecer pouco, se torna três mil plantas a menos por hectare, se a população desejada fosse de 60 mil plantas. E esse mesmo número de falhas será a quantidade a menos de espigas que serão colhidas no fim da safra. Portanto, os prejuízos são muito grandes, e toda atenção para a etapa de semeadura é necessária. Os investimentos realizados para melhorar este cenário conseguem trazer bom retorno financeiro, pois estão diretamente relacionados com o aumento da produtividade final de grãos.
*Por Luan Solér Francischinelli e Paulo Roberto Arbex Silva, da Unesp
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