Medidas de manejo integrado para controle de percevejo em soja

Controle da praga exige estratégias eficientes como uso de inseticidas aliado a outras medidas de manejo integrado

11.02.2020 | 20:59 (UTC -3)

Percevejos são pragas capazes de provocar enormes prejuízos às lavouras de soja, principalmente na fase reprodutiva da cultura. Seu controle exige estratégias eficientes, como o uso de inseticidas que apresentem boa resposta à presença destes insetos nas áreas de cultivo, aliado a outras medidas de manejo integrado.

Nas últimas safras têm se observado mudanças no comportamento das pragas que ocorrem na cultura da soja. Dentre estes insetos, os percevejos que atacam a parte aérea das plantas apresentam enorme potencial de ocasionar prejuízos na cultura da soja, principalmente na fase reprodutiva. Embora estejam presentes desde o período vegetativo da cultura, é durante os estádios reprodutivos que o inseto causa o maior prejuízo, quando ataca vagens em formação. É um grupo de insetos que ocorre em todas as regiões produtoras de soja.

Com a intensificação e as mudanças nos sistemas agrícolas, com vários cultivos sucessivos e/ou concomitantes, que embora proporcionem aumento de produção e otimização do uso do solo, ocorre também um favorecimento à reprodução e dispersão das pragas, devido à constante oferta de hospedeiros e à movimentação dos insetos de uma área de cultivo para o outra, aumentando as populações de pragas e as dificuldades de controle. Assim, a cada nova safra constatam-se populações crescentes de percevejos, devido à alta oferta de hospedeiros alternativos e também manejo inadequado, com pulverizações fora do momento apropriado e que não atingem o alvo, desencadeando problemas como resistência aos inseticidas e reinfestação dos percevejos em curto espaço de tempo.

Com a introdução de variedades de soja geneticamente modificada com resistência a várias espécies de lagartas (Bt), os problemas com ataque de percevejo poderão se agravar, devido à baixa utilização do monitoramento, à demora para realizar a aplicação de inseticidas que favorece o aumento populacional da praga, ao uso de inseticidas com baixa eficácia e residual curto, à tecnologia de aplicação inadequada, à migração de percevejos de outras áreas e à resistência da praga aos inseticidas. 

Identificação das principais espécies

Para fazer o manejo adequado dos percevejos é importante conhecer as espécies, ou seja, identificá-las de maneira correta e conhecer a biologia e o comportamento da praga.  

Na cultura da soja, os percevejos da família Pentatomidae são os mais importantes. De todos, a espécie que merece destaque nas práticas de manejo da lavoura é o percevejo-marrom (Euschistus heros), por ser considerado o mais abundante nas lavouras de soja do Brasil.

O ciclo biológico do percevejo-marrom compreende a colocação dos ovos em forma de colunas, geralmente duas, ou agrupados. Após o período de incubação surgem as ninfas, que passam por cinco instares até se tornarem adultas.  

Danos

Os danos causados pelos percevejos resultam da sucção de seiva em ramos, hastes, vagens e grãos. Ao sugarem ramos e hastes, os percevejos injetam toxinas, provocando a “retenção foliar” ou “soja louca” (onde não há maturação fisiológica das folhas, enquanto que as vagens maturam), dificultando a colheita da lavoura. Quando o ataque ocorre em vagens e grãos, pode ocorrer diminuição na produtividade e qualidade fisiológica das sementes, pelo dano direto decorrente da picada do inseto e pelo dano indireto, com a inoculação do fungo Nematospora corylii.

Monitoramento e controle

O manejo de percevejos deve ser feito com base nos princípios do Manejo Integrado de Pragas, que consiste em tomadas de decisão baseadas nos níveis populacionais e no estádio de desenvolvimento da lavoura. Tais informações são obtidas por inspeções regulares na lavoura. 

Com relação ao ataque de percevejos, normalmente a colonização se inicia no final da fase vegetativa (Vn) e início da fase reprodutiva (R1 e R2) com a migração dos percevejos de hospedeiros alternativos e áreas vizinhas, com expressivo aumento do número de ninfas a partir da fase R3.

Deve-se tomar maior cuidado com a lavoura ao ataque de percevejos, na fase R4 (final do desenvolvimento das vagens) e fase R5.1 (início de enchimento dos grãos), quando ocorre um aumento das populações. A fase crítica se estende até a fase R6 (grão verde ou vagem cheia), quando os percevejos atingem o pico populacional, e tende a decrescer a partir da fase R7 (início da maturidade) e os grãos estão mais suscetíveis ao ataque.

As amostragens de percevejos são realizadas pelo método da batida de pano, que consiste em um pano branco com 1m de comprimento, preso a duas varas, que deve ser posicionado em uma fileira de plantas, que são agitadas vigorosamente, para derrubar os insetos sobre o pano, permitindo a contagem. Este procedimento deve ser repetido em vários pontos da lavoura, preferencialmente nas horas mais frescas do dia, quando os percevejos se movimentam menos, com maior intensidade nas bordas da lavoura, onde, em geral, os insetos iniciam seu ataque, e repetidas com intervalo semanal, do início da formação de vagens (R3) até a maturação fisiológica (R7).

Para lavouras destinadas à produção de grãos, o valor de referência indicado para a tomada de decisão para pulverizações é de dois percevejos (maiores que 0,5cm) por batida de pano e para lavouras destinadas à produção de sementes, o valor de referência para o controle químico é de um percevejo (maior que 0,5cm) por batida de pano, considerando uma fileira de plantas. Deve-se tomar cuidado com as diferentes datas de plantio nas propriedades e na região, pois lavouras mais tardias sofrem maior ataque da praga, pelo aumento populacional proporcionado pelas maiores áreas de cultivo semeadas anteriormente, aumentando o potencial de danos nestas áreas. Assim, os valores de nível de dano devem ser usados como referência. Entretanto, de acordo com informações específicas de cada região e considerando variáveis específicas de cada propriedade como histórico de danos, cultivares, idade da lavoura, época de semeadura, entre outras, os técnicos de cada região podem antecipar o início das pulverizações, lembrando que se deve sempre usar inseticidas registrados, seguir as recomendações do fabricante e os princípios que norteiam o manejo integrado de pragas como o uso de produtos seletivos aos principais inimigos naturais da praga.

Em certas situações, o controle químico pode ser efetuado apenas nas bordas da lavoura, sem necessidade de aplicação de inseticida na totalidade da área, pois o ataque se inicia pelas áreas marginais. Outra medida que pode ser recomendada é a aplicação de inseticidas no manejo da palhada dos sistemas de semeadura direta visando reduzir as populações iniciais. Estas medidas são válidas, desde que sejam feitas amostragens prévias, para detecção dos insetos na área. Outro aspecto a se considerar é a diminuição das populações de final de safra que costumam migrar para outras áreas, com aplicação de final de safra, que devem ser criteriosamente baseadas em amostragens e levando em conta as restrições quanto ao intervalo de segurança (carência) do agroquímico utilizado.

Para que o problema de populações de percevejos resistentes a inseticidas não seja intensificado, indica-se que inseticidas com o mesmo mecanismo de ação não sejam utilizados, na mesma área, de forma repetida.

Pesquisa

Experimentos realizados por Geraldo Papa, da Unesp de Ilha Solteira, São Paulo, demonstraram a eficiência de alguns dos principais inseticidas utilizados no controle do percevejo-marrom (Euschistus heros) em soja, verificando a ação e forma de contaminação do grupo dos organofosforados (acefato), da mistura dos inseticidas do grupo dos piretoides (lambdacialotrina) e neonicotinoides (tiametoxam) e de cada componente da mistura isoladamente.

Metodologia

- Efeito de contato: em laboratório, os inseticidas foram aplicados diretamente sobre os percevejos, nas mesmas condições de volume de calda e doses utilizados em campo.

- Efeito da contaminação via tarso: os inseticidas foram pulverizados em plantas de soja em campo. As folhas tratadas foram colhidas e colocadas nas paredes internas de tubos de PVC, fazendo-se com que os percevejos caminhassem sobre as folhas de soja tratadas.

- Efeito de ingestão: os inseticidas foram pulverizados em plantas de soja em campo. As vagens foram coletadas e colocadas sobre a tampa de tela de gaiolas contendo os percevejos. Para evitar o contato dos percevejos com as vagens, essas foram colocadas sobre palitos de madeira.

Resultados 


Geraldo Papa, Fernando Juari Celoto, João Antonio Zanardi Júnior, Unesp/Ilha Solteira


Artigo publicado na edição 194 da Cultivar Grandes Culturas. 


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