Manejo integrado de brusone em arroz irrigado

Controle químico preventivo e medidas de controle cultural e genético são indispensáveis para combater a doença

10.02.2020 | 20:59 (UTC -3)

A brusone é a principal doença em arroz irrigado no Rio Grande do Sul. Com alto potencial de dano pode comprometer em 100% a produtividade quando presentes condições favoráveis ao patógeno. O emprego do controle químico preventivo, com intervalos entre aplicações reduzidos, é uma ferramenta importante para o manejo integrado, que não deve dispensar também medidas de controle cultural e genético.

Os danos da brusone na produtividade e na qualidade do arroz variam em função de uma série de fatores, tais como as práticas culturais adotadas, o grau de suscetibilidade do genótipo, as condições climáticas, o nível de inóculo do patógeno, o momento em que a doença se instala na cultura, entre outros. Os sintomas da brusone nas folhas iniciam-se com pequenas manchas necróticas que aumentam de tamanho, adquirindo forma elíptica, com os bordos marrons e centro cinza ou esbranquiçado. Na região do colar das folhas é comum a ocorrência da brusone, podendo ocasionar a queda e morte das folhas (Figura 1). Ao infectar as folhas do arroz, a brusone causa danos indiretos na produção, reduzindo a área foliar ativa e, consequentemente, o potencial produtivo da cultura.

A brusone também pode incidir nas panículas do arroz, colonizando o primeiro nó abaixo da panícula (Figura 2). Essa incidência é chamada de brusone de base de panícula, também conhecida como “brusone de pescoço”, onde a doença afeta diretamente a produtividade do arroz, impedindo o acúmulo de carboidratos nos grãos, reduzindo o peso de grãos e a porcentagem de grãos formados.

O elevado potencial produtivo que os atuais híbridos e cultivares de arroz apresentam está atrelado, na maioria das vezes, a uma baixa rusticidade dos genótipos. Dessa forma, como resultado há materiais bastante suscetíveis à ocorrência de doenças e com elevada sensibilidade a fatores de estresses, tanto bióticos como abióticos. A adoção de práticas de manejo integradas, tais como utilização de cultivares resistentes, semeadura dentro da época preferencial, adubação equilibrada, irrigação adequada e o emprego do controle químico por meio da aplicação de fungicidas, é fundamental para o eficiente manejo da brusone na cultura do arroz irrigado.

O emprego de fungicidas para o manejo da brusone deve ser utilizado como uma ferramenta dentro do Manejo Integrado da Doença e não apenas como um método isolado de controle. A utilização do controle químico de doenças na cultura do arroz irrigado objetiva a manutenção do potencial produtivo e da qualidade da produção, protegendo a cultura dos efeitos prejudiciais das doenças.

    A escolha do momento e o número ideal de aplicações de fungicidas na cultura do arroz irrigado é uma decisão difícil e que depende de uma série de fatores. É possível citar o nível de suscetibilidade da cultivar, o manejo utilizado na condução da lavoura, a presença de inóculo do patógeno e de focos da doença na lavoura, o histórico de ocorrência de brusone na área, o estádio fenológico da cultura, a presença de condições climáticas favoráveis à brusone, entre outros.

    Na safra 2013/14, no município de São Sepé, Rio Grande do Sul, foi conduzido um experimento com o objetivo de avaliar o desempenho de sete programas de manejo químico de brusone. Os programas foram compostos por um tratamento Testemunha (sem aplicação de fungicida) e seis tratamentos com controle químico, que diferiram entre si apenas quanto ao número e ao momento em que foram realizadas as aplicações dosfungicidas (Tabela 1).

O efeito dos tratamentos foi avaliado no controle da brusone nas folhas, na incidência de brusone na base da panícula e na produtividade do arroz irrigado (Figuras 3 e 4). A intensidade e a severidade da ocorrência da brusone na cultura do arroz, durante a condução do experimento, foram extremamente altas (Figura 3). Os primeiros sintomas da doença foram observados quando o arroz ainda estava na fase vegetativa, antes do ponto de algodão, sendo que a doença apresentou aumento significativo até a maturação fisiológica da cultura. Pode-se observar que nenhum dos tratamentos testados promoveu o controle total da doença, ou seja, mesmo com a aplicação dos programas de manejo químico houve ocorrência de brusone nas folhas e incidência nas panículas do arroz. Essa é uma situação que comprova a importância de se realizar o Manejo Integrado de Doenças, com a integração entre os métodos de controle cultural, genético e químico, pois ao empregar apenas a aplicação de fungicidas como uma ferramenta isolada haverá dificuldades no controle eficiente da brusone.

Devido ao elevado ataque da brusone, o dano na produtividade da testemunha foi de 73,4%, quando comparada com o tratamento onde realizaram-se três aplicações (Figura 4). Esse resultado indica o enorme potencial de dano da brusone na cultura do arroz e a importância de realizar um manejo adequado da doença, a fim de evitar a ocorrência de elevados danos.

O emprego do controle químico preventivo, com intervalos entre aplicações reduzidos, é uma ferramenta importante para o manejo da brusone. Contudo, é fundamental a integração entre os métodos de controle cultural, genético e químico para o eficiente manejo da brusone na cultura do arroz irrigado.

Tabela 1 – Estádios fenológicos no momento das aplicações para o controle de Pyricularia oryzae. São Sepé (RS), 2014
Tabela 1 – Estádios fenológicos no momento das aplicações para o controle de Pyricularia oryzae. São Sepé (RS), 2014

Figura 1 – Sintomas de brusone nas folhas e no colar da folha bandeira do arroz Foto: Felipe Frigo Pinto
Figura 1 – Sintomas de brusone nas folhas e no colar da folha bandeira do arroz Foto: Felipe Frigo Pinto

Figura 2 – Sintomas de brusone na base da panícula do arroz (brusone de “pescoço”) Foto: Felipe Frigo Pinto
Figura 2 – Sintomas de brusone na base da panícula do arroz (brusone de “pescoço”) Foto: Felipe Frigo Pinto

Figura 3 – Área abaixo da curva de progresso da brusone e incidência de brusone na base da panícula na cultura do arroz irrigado sob diferentes programas de manejo químico. São Sepé (RS), 2014  *Médias seguidas por letras distintas, minúsculas para AACPB e maiúsculas para Incidência, diferem entre si, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Skott Knott. CV % para AACPB = 57,89; CV % para Incidência = 11,75.
Figura 3 – Área abaixo da curva de progresso da brusone e incidência de brusone na base da panícula na cultura do arroz irrigado sob diferentes programas de manejo químico. São Sepé (RS), 2014 *Médias seguidas por letras distintas, minúsculas para AACPB e maiúsculas para Incidência, diferem entre si, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Skott Knott. CV % para AACPB = 57,89; CV % para Incidência = 11,75.

Figura 4 – Produtividade arroz irrigado sob diferentes programas de manejo químico. São Sepé (RS), 2014  *Médias seguidas por letras distintas, diferem entre si, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Skott Knott. CV % = 22,47.
Figura 4 – Produtividade arroz irrigado sob diferentes programas de manejo químico. São Sepé (RS), 2014 *Médias seguidas por letras distintas, diferem entre si, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Skott Knott. CV % = 22,47.


Felipe Frigo Pinto, Ricardo Silveiro Balardin, Marcos BelinazzoTomazetti, Jacson Zuhl, Bruno Pedro Lazzaretti, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Colaboradores do Instituto Phytus (IP)


Artigo publicado na edição 193 da Cultivar Grandes Culturas. 

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