Manejo da mancha de fitóftora em soja

O grau de tolerância genética da cultivar escolhida para o plantio tem papel importante na prevenção deste patógeno

06.04.2022 | 15:26 (UTC -3)

A podridão radicular de fitóftora, causada por Phytophthora sojae, é uma doença que causa danos em qualquer fase de desenvolvimento das plantas de soja, com poder para leva-las a morte. Anos chuvosos e com longos períodos de encharcamento favorecem a enfermidade. O grau de tolerância genética da cultivar escolhida para o plantio tem papel importante na prevenção deste patógeno.

A podridão radicular de fitóftora, causada por Phytophthora sojae, é uma doença que causa danos em qualquer fase de desenvolvimento das plantas de soja, com poder para leva-las a morte. Anos chuvosos e com longos períodos de encharcamento favorecem a enfermidade. O grau de tolerância genética da cultivar escolhida para o plantio tem papel importante na prevenção deste patógeno

A soja é uma das culturas mais importantes do Brasil. Todavia, anualmente a perda de produtividade causada por doenças pode chegar a 20%. No país, já foram identificadas aproximadamente 40 enfermidades causadas por fungos, bactérias, nematoides e vírus, e este numero tende a aumentar devido à expansão das áreas cultivadas de soja e também pela prática da monocultura (HENNING, 2009).

No início da safra 2016/2017 foram registrados em áreas do interior da região centro-oeste do Paraná relatos de produtores sobre mortes de plântulas de soja em reboleiras. Visualmente a campo muitos destes sintomas podem ser característicos de ataque de pragas, problemas físicos de solo e injurias por doenças, porém, em coletas das plântulas que apresentavam murchas e morte, observou-se por meio de lâminas em microscópio eletrônico óptico, a ocorrência de uma diversidade de fungos colonizando essas plântulas. Entre estes patógenos, o que prevalecia era Phytophthora sojae, agente causal da doença conhecida popularmente como podridão radicular de fitóftora, que provoca danos em qualquer fase de desenvolvimento das plantas, podendo levar a morte dependendo do grau de tolerância genética da cultivar.

A podridão radicular de fitóftora ocorre em anos mais chuvosos com períodos prolongados de encharcamento. Em solos argilosos o agravante reside na compactação, dificultando a drenagem das águas.

De acordo com Godoy, et al., (2016), a temperatura ótima para proliferação do patógeno é de 25ºC, sendo que pode atacar as sementes no solo causando podridão. Plantas jovens atacadas podem registrar amarelecimento e murcha das folhas, sendo possível encontrar plântulas mortas na linha de semeadura tanto isoladas quanto em pequenas reboleiras. Em plantas adultas os sintomas são clorose de folhas (secam e ficam presas à haste, voltadas para baixo), murcha de plantas e apodrecimento radicular.

Por apresentar mutação genética já foram identificadas algumas raças distintas de Phytophthora sojae, como a raça 1 (que apresenta reação compatível ao gene Rps7) e a raça 3 (reação compatível aos genes Rps1a e Rps7). Por se tratar de doença monocíclica os oósporos (estruturas de reprodução) do patógeno podem sobreviver por muitos anos no solo sem a presença do hospedeiro (COSTAMILAN et al., 2007).

Em virtude da frequente ocorrência deste patógeno, das condições climáticas na época de semeadura e do tipo de solo da região, a equipe do Centro de Pesquisa Agrícola (CPA), avaliou a resistência ou suscetibilidade de diferentes cultivares de soja a isolados de Phytopthora sojae. O experimento foi conduzido entre setembro de 2016 a março de 2017, em estufa com ambiente controlado, utilizando as 20 cultivares mais semeadas na região, com três repetições a um delineamento inteiramente casualizado.

Para o isolamento do patógeno da região Oeste do Paraná utilizou-se plantas de soja da safra 2016/2017, com sintomas da doença (Figura 1), retirando pequenos cortes das partes infectadas da planta, colocando-os em placas de Petri com meio de cultura específico e esterilizadas.

Figura 1
Figura 1

Para a realização do experimento foi empregada a metodologia do palito-de-dente, adaptada de Keeling (1982), consistindo na repicagem do isolado de Phytophthora sojae cedido pela Embrapa Trigo, Passo Fundo, Rio Grande do Sul, da raça 4, e isolado proveniente de lavouras da região Oeste do Paraná, que está em processo de identificação. Os isolados foram mantidos em câmara B.O.D a 25°C por 15 dias, em placas de Petri, contendo meio de cultura cenoura-ágar e palitos-de-dente (cortados em um quarto do tamanho e com as pontas afinadas), conforme figura 2, previamente autoclavados em 127°C por 20 minutos.

Figura 2
Figura 2

As cultivares de soja utilizadas no teste foram semeadas em vasos plásticos com substrato a base de compostos orgânicos, permanecendo 10 plantas por vaso. Permaneceram por 15 dias em estufa com irrigação controlada, e após esse período realizou-se a inoculação do patógeno nas plantas, introduzindo o palito-de-dente contendo micélio a aproximadamente um centímetro abaixo do nó cotiledonar, com cuidado para não atravessar o hipocótilo. As plantas inoculadas receberam irrigação controlada, por sete dias, a cada duas horas, por 20 minutos (Figura 3), e após esse período foi realizada a avaliação.

Figura 3
Figura 3

A avaliação observou a incidência de plantas mortas, infectadas e sadias. Plantas sadias são as que apresentaram leve ou nenhuma necrose acima ou abaixo do ponto de inoculação. Plantas infectadas apresentaram necrose estendendo até cerca de um centímetro acima e abaixo do ponto de inoculação. E, plantas mortas apresentaram extensa necrose acima e abaixo do ponto de inoculação, levando à morte da planta.

Para a classificação das reações das cultivares foi levada em consideração a porcentagem de plantas mortas (PM) (número de plantas mortas, somado a quantidade de plantas infectadas dividido por 2, multiplicado por 100 dividido pelo total de plantas utilizadas (%PM=PM+(PI/2)*100/TP). Sendo assim, considerou-se plantas resistentes (R) com 0% de PM; plantas moderadamente resistente (MR) com 1% a 20% PM; plantas moderadamente suscetível (MS) com 21% a 50% PM; e, plantas suscetíveis (S) com mais de 50% PM.

Através deste experimento, utilizando dois isolados de P.sojae distintos, foi possível observar que há diferenças na reação dos cultivares, confirmando que as raças de P.sojae influenciam diretamente na infecção da planta. Quando analisada a incidência de plantas resistentes, que não apresentam sinais de lesão (Figura 4), o isolado cedido pela Embrapa Trigo apresentou maior incidência (Tabela 1, Ps1), quando comparado ao isolado proveniente da região Oeste do Paraná, que apresentou menor quantidade de plantas resistentes (Tabela 1, Ps2), o que torna possível concluir que o isolado da região Oeste apresenta maior severidade.

Figura 4
Figura 4
Tabela
Tabela

Através da observação das plantas que apresentaram moderada resistência e moderada suscetibilidade foi possível diferenciá-las pelo tamanho da lesão e numero de plantas infectadas por repetição. Nas plantas com moderada resistência observou-se menor quantidade de plantas infectadas, e as lesões próximas ao ponto de inoculação foram menores (Figura 5), quando comparadas às plantas com moderadas suscetibilidade, que apresentaram maior quantidade de plantas infectadas por repetição e maior tamanho de lesão próximo ao ponto de inoculação (Figura 6).

Figura 5
Figura 5
Figura 6
Figura 6

As plantas suscetíveis foram as que apresentaram lesões de tamanho maiores próximo ao ponto de inserção, podendo em alguns casos chegar próximo ao ponto de inserção das primeiras folhas. Consequentemente essas plantas apresentaram número maior de plantas infectadas e/ou mortas por repetição (Figura 7).

Figura 7
Figura 7

A partir dos resultados deste trabalho foi possível identificar as reações das principais cultivares semeadas na região quanto a este patógeno. E também avançar na busca de diferentes recursos para o manejo, como descompactação dos solos, evitar semeaduras em épocas com excesso de chuvas, utilizar tratamento de sementes com metalaxil e principalmente escolher cultivares que apresentam tolerância para serem utilizadas em áreas que já apresentaram ou podem vir a mostrar problemas com Phytophthora sojae.

Artigo publicado na edição 219 da Cultivar Grandes Culturas, mês agosto, ano 2017. 

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