Gramíneas resistentes a glifosato
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Considerada pouco expressiva ao longo de muito tempo, a mancha de ramulária detém atualmente o status de principal doença na cultura do algodoeiro. Com controle baseado principalmente no uso de fungicidas essa enfermidade demanda manejo correto, com o estabelecimento de programas que privilegiem mais de um modo de ação e o emprego de todos os grupos químicos disponíveis a fim de evitar a seleção de isolados de fungos menos sensíveis ou resistentes.
A fibra do algodão é o principal produto oriundo do algodoeiro, porém os subprodutos originados do processamento (caroço, farelo, torta e casca), apresentam valor econômico e são utilizados como fonte de nutrientes para a alimentação animal (PAIM et al., 2010).
No Brasil, desde o ano agrícola de 2014, a área cultivada com algodoeiro ficou estagnada e em alguns momentos houve até redução. Já a expectativa para a próxima safra é de crescimento, podendo atingir a média de 15,4% a mais que a safra 2016/17 (CONAB, 2017). Esse período de redução foi influenciado por diversos fatores como o baixo preço pago pela fibra e altos custos de produção, especialmente pela grande quantidade de uso de inseticidas e fungicidas para o controle de pragas e doenças.
O atual sistema de produção do algodoeiro, na região central do Brasil, é caracterizado pelo cultivo em extensas áreas aliado a sucessão de cultura (soja e algodão). Este monocultivo pode levar ao agravamento de enfermidades antes consideradas pouco expressivas, ou determinadas doenças que sejam comuns às duas culturas, como o Mofo Branco e a Mancha Alvo. A mancha de ramulária, causada pelo fungo Ramularia areola, é um exemplo de doença que foi considerada pouco expressiva por vários anos e que atualmente tornou-se principal no algodoeiro.
A região nordeste do Mato Grosso do Sul é responsável por uma grande parcela de produção do estado e utiliza um sistema de cultivo de rotação de culturas. Na próxima safra aproximadamente 87% da área será semeada no mês de Dezembro, favorecendo a rotação de culturas. Este é um dos principais motivos pelo qual o produtor tem conseguido conviver com algumas doenças como a Mancha alvo (Gráfico 01) ocasionando pequeno impacto econômico.
As condições climáticas de baixa precipitação ocorridas nos meses de Abril e Maio têm favorecido o menor apodrecimento de maçãs. No entanto, a chuva que ocorreu nestes meses desencadeou uma das mais fortes epidemias da Mancha de ramulária (Gráfico 02) na região. Tal constatação foi possível através do monitoramento realizado pela Fundação Chapadão em sua área experimental.
Várias doenças afetam o algodoeiro e podem ocasionar danos consideráveis à produção. Sua importância depende de cada local, sendo que algumas consideradas pouco expressivas em determinadas regiões, podem reduzir significativamente a produtividade em outra região produtora.
O aparecimento e o desenvolvimento de doenças são resultantes da interação entre planta suscetível, agente patogênico e fatores ambientais favoráveis. O ambiente, portanto, é um componente relevante nesta interação, podendo, inclusive, impedir a ocorrência da doença mesmo na presença do hospedeiro e do patógeno. Os fatores ambientais podem determinar o grau de predisposição do hospedeiro, influenciando desde o estabelecimento da doença em uma cultura até o desencadeamento de epidemia (BERGAMIM FILHO et al., 1996).
O acompanhamento e conhecimento das doenças são imprescindíveis para qualquer cultura, sendo este o primeiro fator a ser considerado quando se pensa no controle integrado de doenças, para que a partir daí se determine as práticas de controle adequado.
As medidas de controle para a mancha de ramulária adotadas na região dos Chapadões, assim como nas principais regiões produtoras de algodão do Brasil, são baseadas principalmente na utilização de fungicidas. Este fato se deve à ação rápida que esses produtos promovem para a supressão da doença e se utilizados no momento correto e com rotação promovem uma boa eficiência para o controle da doença.
Na busca de soluções e para melhor entender a estratégia de controle químico da mancha de ramulária na região, a Fundação Chapadão realiza diversos trabalhos a campo desde 2010. Dentre as várias pesquisas nesta linha de controle, merece destaque o ensaio realizado a cada ano, em dois locais (Chapadão do Sul e Costa Rica, Mato Grosso do Sul), para a comparação da eficiência de fungicidas registrados, possibilitando um acompanhamento da eficácia destes produtos ao longo dos anos (Gráfico 03).
Os resultados das últimas três safras acendeu uma “luz vermelha” sobre a eficácia destes fungicidas. Foi constatada uma redução de eficiência sobre a Mancha de ramulária. Um exemplo reside no tratamento com Tetraconazol, usado de maneira isolada, que apresentava 91% de eficácia na safra 2013/2014 e registrou redução para 23% de controle na safra 2016/2017. No entanto, quando o mesmo triazol foi utilizado em produto comercial associado a uma estrobilurina (Azoxistrobina+Tetraconazol), notou-se menor perda de eficácia, demonstrando melhor estabilidade ao longo dos anos em relação ao uso do triazol sozinho, conforme dados apresentados no Gráfico 03.
Resultado semelhante está sendo constatado com outro triazol de formulação isolada, o Difenoconazol, que também na safra 2013/2014 apresentava eficácia de 95% e recentemente obteve média de 61% sobre o controle da doença. Mas quando utilizado o fungicida registrado, em associação com outro grupo químico (Azoxistrobina+Difenocozol) novamente apresentou melhor estabilidade em sua eficácia (Gráfico 04).
As carboxamidas foram recentemente introduzidas na cultura, por isso pouco se sabe sobre a questão de durabilidade dessa tecnologia ao longo dos anos. No entanto, é possível afirmar a sua importância para compor um programa de fungicidas utilizado no controle da mancha de ramulária. Na área experimental da Fundação Chapadão, este grupo de fungicidas esta sendo acompanhado desde a safra 2012/13 conforme apresentado no Gráfico 05. Utilizou-se como exemplo a mistura comercial de estrobilurina e triazol (Piraclostrobina+Metconazol) em comparativo com estrobilurina e carboxamida (Piraclostrobina+Fluxapiroxade).
É valido ressaltar a importância de trabalhos regionais, para avaliar individualmente os fungicidas, em aplicações sequenciais, para assim determinar a eficiência. Essas informações devem ser utilizadas na determinação de programas de controle, priorizando sempre a rotação de fungicidas com diferentes modos de ação.
Sendo assim, para um programa de fungicidas na cultura do algodoeiro atualmente se faz necessário utilizar produtos comerciais que possuam dois modos de ação. Também é importante, devido ao grande número de pulverizações em função do ciclo da cultura, adotar programas com todos os grupos químicos disponíveis (Triazóis, Estrobilurinas, Carboxamidas e Multi-sitios), a fim de evitar a seleção de isolados de fungos menos sensíveis ou resistentes.
No Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) está disponível a listagem de vários produtos químicos registrados e recomendados para a cultura do algodoeiro, com informações detalhadas sobre principio ativo e dosagens, no Agrofit.
Artigo publicado na edição 228 da Cultivar Grandes Culturas, mês maio, ano 2018.
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