Gramíneas resistentes a glifosato

O uso de herbicidas aplicados em pré-emergência é uma das opções que ganha espaço no controle de plantas daninhas

19.08.2022 | 15:04 (UTC -3)

Azevém, campim amargoso, capim branco e capim-pé-de-galinha são as quatro gramíneas que representam maior preocupação ao agricultor brasileiro, em função de apresentarem resistência ao glifosato. O uso de herbicidas aplicados em pré-emergência é uma das opções que ganha espaço no controle destas plantas daninhas.

Embora a resistência de plantas daninhas aos herbicidas seja um problema mundial, as particularidades de um país de agricultura tropical intensiva como o Brasil levam ao desenvolvimento de problemas específicos para tais ambientes. A seleção de espécies de plantas daninhas resistentes ao glifosato compreende 22 espécies de folhas largas e 19 espécies de gramíneas. No Brasil, o número de espécies resistentes ao glifosato atualmente é de oito, sendo quatro folhas largas e quatro gramíneas. No entanto, dentre as folhas largas, três das quatro espécies são do gênero Conyza (buva) e o quarto caso é de Amaranthus palmeri, que até o momento permanece confinado a áreas específicas do Mato Grosso sob severa vigilância das entidades reguladoras. O clima quente e a oferta de água e de luz durante quase todo o ano favorecem a dispersão, o desenvolvimento e a multiplicação das gramíneas. Este é um dos itens que podem ajudar a explicar o crescimento do problema das gramíneas resistentes ao glifosato. A preocupação se agrava quando se constata que a disponibilidade de herbicidas destinados ao controle especificamente de gramíneas é muito mais limitada que a de produtos destinados ao controle de folhas largas. Nas áreas com problemas de resistência de gramíneas ao glifosato, a primeira alternativa de controle dos agricultores é normalmente um dos herbicidas inibidores da ACCase (DIM´s e FOP´s). Em função disso, três das quatro espécies que já apresentam resistência ao glifosato também já desenvolveram resistência para algum dos herbicidas deste grupo.

Todos os relatos de resistência do mundo podem ser encontrados no endereço eletrônico www.weedscience.org. Navegando no site, é possível encontrar informações sobre resistência de plantas daninhas, atualizadas e discriminadas por espécies, herbicidas, países, culturas e ano de ocorrência, não só no Brasil como em outros países do mundo.

O capim-amargoso é, sem dúvida, o caso de resistência ao glifosato que mais se disseminou no País
O capim-amargoso é, sem dúvida, o caso de resistência ao glifosato que mais se disseminou no País
O primeiro relato de capim-branco resistente ao glifosato ocorreu em 2014, em uma população proveniente de áreas de soja
O primeiro relato de capim-branco resistente ao glifosato ocorreu em 2014, em uma população proveniente de áreas de soja

As quatro gramíneas que representam uma preocupação para o agricultor brasileiro, em função de apresentarem resistência ao glifosato são azevém, campim amargoso, capim branco e capim-pé-de-galinha.

1 - Azevém (Lolium multiflorum)

Esta espécie é típica de ambientes temperados, portanto, os problemas com esta planta daninha estão limitados às regiões de clima mais ameno, na região Sul do Brasil.

O azevém foi a primeira espécie a desenvolver resistência ao glifosato no Brasil. As primeiras populações resistentes foram identificadas em lavouras de soja RR no Rio Grande do Sul em 2005. Embora seja uma espécie tipicamente presente nas áreas de clima mais temperado do país, a preocupação tem aumentado após relatos de resistência múltipla a glifosato e inibidores da ACCase na soja (2010), assim como a glifosato e inibidores da ALS em áreas de sucessão soja/trigo (2016).

2 - Capim-amargoso (Digitaria insularis)

O capim-amargoso é, sem dúvida, o caso de resistência ao glifosato que mais se disseminou no país. Este fato tem sido atribuído não só ao uso intensivo deste herbicida, mas também ao fato de se tratar de uma espécie perene, de apresentar transporte das sementes por meio de máquinas e do vento. Os primeiros casos de resistência ao glifosato foram registrados no Paraguai em 2005, no Brasil em 2008 e na Argentina em 2014. No Brasil, a partir da primeira constatação no Oeste do Paraná em 2008, rapidamente ocorreu a disseminação para praticamente todos os estados produtores de grãos. A amplitude de disseminação das áreas de capim-amargoso com resistência ao glifosato tem levado à intensificação da utilização de herbicidas inibidores da ACCase.  Recentemente, em 2016, foi registrado o primeiro caso de resistência a inibidores da ACCase (fenoxaprop e haloxyfop).

3 - Capim-branco (Chloris elata)

O primeiro relato de capim-branco resistente ao glifosato ocorreu em 2014, em uma população proveniente de áreas de soja. Aparentemente, os mecanismos de resistência desta população estão relacionados à menor absorção de glifosato e à maior retenção do herbicida nas folhas tratadas. Dos quatro casos descritos neste trabalho, é o caso de resistência ao glifosato com menor disseminação até o momento.

4 - Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica)

O capim pé-de-galinha é uma das plantas daninhas mais problemáticas, sendo encontrada em muitas regiões do mundo. É uma planta anual, de crescimento rápido e alto potencial de competição interespecífica, autógama, com ciclo C4 e elevada produção de sementes, disseminadas pelo vento. Seu centro de origem provavelmente é a Ásia e foi distribuída pelas regiões tropicais, subtropicais e temperadas do mundo, com maior presença em regiões entre os trópicos. Cada planta é capaz de produzir mais de 120 mil sementes.

O capim-pé-de-galinha é uma das plantas danihas mais problemáticas
O capim-pé-de-galinha é uma das plantas danihas mais problemáticas

No Brasil, o primeiro caso de resistência de capim pé-de-galinha a inibidores da ACCase (Acetil-CoA carboxilase), foi registrado em 2003 no Rio Grande do Sul e posteriormente no Paraná. Com a introdução da soja RR e com o aumento do uso de glifosato em pós-emergência, tais problemas aparentemente foram considerados de pouco impacto, em função da efetividade do glifosato para controle desta planta. Nos últimos anos muitas reclamações de escape de plantas de capim-pé-de-galinha foram registrados no Cerado, principalmente nas áreas produtoras de algodão. Trabalhos do pesquisador Anderson Cavenaghi em conjunto com o IMA-MT indicam que mais de 60% das amostras de capim-pé-de-galinha avaliadas são atualmente resistentes ao clethodim. Em 2016, o NAPD/UEM reportou o primeiro caso de resistência ao glifosato em pé-de-galinha no Brasil, na região de Campo Mourão (PR).  Por fim, em 2018, a  pesquisadora Núbia Correia (Embrapa Hortaliças) reportou o primeiro caso de resistência múltipla (glifosato, fenoxaprop-P-ethyl e haloxyfop-methyl).

Eleusine indica é uma planta anual, de crescimento rápido e alto potencial de competição interespecífica
Eleusine indica é uma planta anual, de crescimento rápido e alto potencial de competição interespecífica

Controle

Até o momento não existem herbicidas recomendados para o controle do capim-branco. Para a dessecação de áreas contendo estas gramíneas resistentes ao glifosato, as opções se resumem aos produtos de contato (paraquat, [paraquat+diuron] e amônio-glufosinato), que apresentam limitações com relação ao tamanho de plantas que controlam. Apesar dos casos de resistência, os inibidores da ACCase ainda são os herbicidas mais usados para o controle destas populações, tanto na dessecação quanto em pós, em função de serem sistêmicos e possibilitarem o controle de plantas adultas.

Outra opção interessante e que tem adquirido maior importância reside no uso de herbicidas aplicados em pré-emergência. As opções disponíveis no mercado brasileiro estão listadas na Tabela 1. É conveniente ressaltar que nem todas as opções de herbicidas que constam na Tabela 1 são seletivas para todas as culturas de maior importância, sendo necessário consultar a assistência técnica para avaliar a melhor opção para cada caso.

Tabela 1
Tabela 1

É importante salientar que também existem opções alternativas aos herbicidas que podem ser utilizadas em conjunto, tais como rotação de culturas, uso de cobertura viva ou morta sobre o solo, operações mecânicas como roçadas e capinas, aração e gradagem, entre outras. Não apenas para o controle em si, mas esses métodos também se enquadram como técnicas fundamentais na prevenção e no manejo da resistência.

Artigo publicado na edição 228 da Cultivar Grandes Culturas, mês maio, ano 2018.

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