Doença azul em algodoeiro
Seu controle no Brasil está alicerçado no uso de cultivares resistentes e no emprego de inseticidas contra o vetor
A definição de um método que possibilite a distinção entre essas duas fontes de variação da produtividade da cultura da soja é de grande utilidade para os produtores e consultores, pois possibilita definir as estratégias a serem adotadas para minimizar as perdas e, consequentemente, otimizar a eficiência agrícola.
A produtividade da soja é o resultado da complexa interação entre o genótipo (cultivar) empregado, as condições meteorológicas e o manejo agrícola nas áreas de produção. Enquanto a radiação solar e o fotoperíodo controlam a quantidade de energia disponível para a fotossíntese, a temperatura do ar afeta o metabolismo das plantas, que por sua vez regula tanto a taxa de fotossíntese quanto a respiração de manutenção, além de controlar, juntamente com o fotoperíodo, a taxa de desenvolvimento da cultura, definindo a duração das diferentes fases fenológicas e do ciclo. Além disso, a temperatura atua também sobre o balanço hormonal das plantas de soja, com papel fundamental na fase reprodutiva, quando altas temperaturas podem causar abortamento de flores e vagens. A radiação solar, juntamente com a temperatura, a umidade do ar e a velocidade do vento, são responsáveis pela demanda hídrica das lavouras de soja, que se não forem atendidas pelas chuvas irão provocar déficits hídricos, altamente prejudiciais à produtividade. O volume e a distribuição das chuvas são fundamentais para garantir bons níveis de produtividade das lavouras. Anos muito secos resultam em baixas produtividades, porém, anos excessivamente nublados e chuvosos também podem levar à redução das produtividades em razão da diminuição da disponibilidade de energia solar para a fotossíntese. Sendo assim, pode-se dizer que os anos de melhores produtividades são aqueles que combinam uma boa distribuição das chuvas ao longo ciclo com períodos suficientemente longos de elevada radiação solar para que as plantas possam fazer uso da água do solo de forma a maximizar o processo da fotossíntese, gerando altas produtividades.
No Brasil, o efeito da variabilidade climática sobre a produtividade da soja é bastante evidente, tanto entre as diferentes safras de cultivo como entre as diversas regiões produtoras e até mesmo entre as várias datas de semeadura. Entre as diferentes safras, a variabilidade da produtividade da soja é principalmente condicionada por eventos climáticos como o El Niño Oscilação Sul (ENOS), cujas fases quente (El Niño) e fria (La Niña) afetam os regimes térmicos e de chuva de diferentes regiões brasileiras. Assim, enquanto no estado do Mato Grosso há pouca variabilidade da produtividade da soja, no Rio Grande do Sul, mais afetado pelo ENOS, tal variabilidade é mais acentuada, o que condiciona um maior risco climático para a cultura da soja. Em situação intermediária se encontra a região do MAPITOBA, aonde apesar dos efeitos prejudiciais do El Niño, as produtividade não chegam a oscilar tanto como na região Sul.
Além do efeito do clima na produtividade da soja, o manejo da cultura também apresenta uma grande influência, já que a combinação da cultivar/grupo de maturação, da época de semeadura e das práticas de fertilização do solo e de proteção da cultura (controle de pragas, doenças e daninhas) é fundamental para a definição do nível de produtividade a ser atingindo. Apesar dessa distinção entre os efeitos do clima e do manejo agrícola sobre a produtividade da soja, nem sempre é possível se distinguir facilmente o quanto de perdas de produtividade é causado pelas adversidades climáticas (especialmente o déficit hídrico) e quanto pelas deficiências de manejo. Dessa forma, a definição de um método que possibilite a distinção entre essas duas fontes de variação da produtividade da cultura da soja é de grande utilidade para os produtores e consultores, pois possibilita definir as estratégias a serem adotadas para minimizar as perdas e, consequentemente, otimizar a eficiência agrícola.
Uma das formas de se quantificar os impactos do clima e do manejo na produtividade da soja é por meio do uso de técnicas que permitem simular o crescimento e o desenvolvimento da cultura da soja, de modo que se definam as produtividades potencial (máximo a ser alcançado pelo genótipo em dada condição climática, sem falta de água e com manejo ótimo) e atingível (máximo a ser obtido pela cultura em condição de sequeiro com manejo ótimo). Uma vez definidas essas produtividades, respectivamente denominadas de PP e PA, pode-se compará-las às produtividades reais (PR), obtidos pelos produtores, definindo-se assim, o quanto da quebra de produtividade foi advindo das limitações do clima (especialmente do déficit hídrico), pela diferença entre PP e PA, e o quanto foi causado pelas deficiências de manejo, pela diferença entre PA e PR.
A Figura 1 apresenta os dados de produtividade dos campeões do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb) nas três últimas safras (2014-15, 2015-16 e 2016-17), assim como os valores de PP e PA para cada uma das localidades dos vencedores. Observa-se que a PP atingiu o valor máximo de 214 sc /ha para o campeão do N/NE na safra 2014/15 (Figura 1), fato associado à maior oferta de radiação solar que ocorreu durante a safra nessa região. Nas demais safras analisadas, os campeões da região N/NE também apresentaram as maiores produtividades potenciais, sempre acima de 180 sc /ha. Por outro lado, o valor mínimo, de 167 sc/ha ocorreu na safra 2014/15 para o campeão da região S (Figura 1), provavelmente condicionada por dias nublados e com baixa oferta de radiação solar. Apesar dessa grande variação, esses valores demonstram o alto potencial de produtividade da soja disponível nos ambientes de produção do Brasil, o que, no entanto, é difícil de ser obtido em função das limitações impostas pelos períodos de déficit hídrico e pelo manejo sub-ótimo que é realizado no campo.
Quando houve a penalização da PP pelo déficit hídrico, obtendo-se a PA, maiores diferenças entre os valores mínimo e máximo foram observadas. A menor PA foi de 99 sc /ha para o campeão da região N/NE na safra 2015/16 (Figura 1), local que teve uma perda de 107 sc/ ha devido ao déficit hídrico. Já o maior valor de PA foi de 164 sc/ ha para o campeão da região CO na safra 2014/15, onde as perdas por déficit hídrico totalizaram 37 sc/ ha (Figura 2). Em média, o déficit hídrico foi responsável pela redução de 44 sc/ ha nas áreas dos campeões, incluindo as áreas irrigadas, oscilando entre um mínimo de 14 sc/ ha para o campeão da região CO na safra 2016/17 e um máximo de 107 sc/ ha para o campeão da região N/NE na safra de 2015/16 (Figura 1).
Para a PR foi observada uma variação de 83sc/ha a 149sc/ha. O valor mínimo foi obtido pelo campeão da região N/NE na safra 2015/16, área com maior redução por déficit hídrico, da ordem de 107 sc/ ha, e de apenas 16 sc/ ha devido ao manejo. Já o maior valor foi alcançado na safra 2016/17 na área do campeão da região S, onde houve redução de apenas 26 sc/ ha devido ao déficit hídrico e de somente 1 sc/ ha devido ao déficit de manejo, o que indica a excelente condição hídrica para a lavoura de soja nessa área/safra e a excepcional performance do produtor campeão no manejo da sua cultura. Baixas perdas por manejo também foram observadas nas áreas dos campeões da região S na safra 2014/15 (2 sc/ha), da região N/NE na safra 2014/15 (8 sc/ ha), e da região SE na safra 2016/17 (6 sc/ ha). Por outro lado, há casos em que as perdas por manejo superaram as perdas por déficit hídrico, o que indica que há ainda espaço para melhoria das práticas agrícolas e, consequentemente, para incrementar as produtividades.
De um modo geral, considerando-se uma média de todas as áreas dos campeões, as maiores perdas de produtividade da soja se deram em função do déficit hídrico, que contabilizou em média 43,4 sc/ ha, enquanto as perdas decorrentes do déficit de manejo agrícola foram da ordem de 28,0 sc/ ha. Isso mostra que 61% do total de perdas de produtividade das lavouras se deram em função do déficit hídrico, enquanto 39% em função do déficit de manejo.
Os resultados do CESB evidenciam que atualmente, nas áreas produtoras, há um maior efeito do clima na limitação da produtividade da soja. No entanto, quando se analisa a média da produtividade nacional das últimas três safras da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), da ordem de 51 sc/ha, e se compara esses dados aos valores médios dos campeões do Cesb (115 sc/ha), observa-se claramente que esse efeito é muito maior, o que provavelmente está associado ao limitado volume de solo disponível para o crescimento do sistema radicular, o que faz com que os déficits hídricos sejam mais pronunciados que aqueles que ocorrem nas áreas dos campeões, onde invariavelmente o perfil de solo é mais profundo. Nessa linha, ações que maximizem a produtividade são requeridas, de modo a minimizar os impactos do déficit hídrico na produtividade da soja. Entre essas ações, a escolha de datas de semeadura com menor risco climático, conforme recomendações do zoneamento de risco climático do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a seleção de cultivares melhor adaptadas à região, especialmente com relação à tolerância à seca, e investimentos em ações de manejo do solo (química, física e biológica) para aumentar o perfil de exploração do sistema radicular, de modo a aumentar a água disponível para as plantas, são algumas das quais permitirão aos produtores brasileiros atingirem altas produtividades em curto-médio prazo.
Artigo publicado na edição 228 da Cultivar Grandes Culturas, mês maio, ano 2018.
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