Mancha-parda, mancha dos grãos e podridão do colmo em arroz

Por Gil Rodrigues dos Santos, Dalmarcia de Souza Carlos Mourão, Maykon Rodrigo Gomes de Barros, Lorena Ribeiro Lima, João Victor de Almeida Oliveira, Ritielle Siqueira Batista, Joele Andressa Zanfra e Paulo Ricardo de Sena Fernandes, Universidade Federal do Tocantins

31.07.2024 | 14:41 (UTC -3)

O arroz (Oryza sativa L.) é considerado um dos cereais mais produzidos e consumidos no mundo, sendo o principal alimento para mais da metade da população brasileira. De acordo com o IBGE (2023), no Brasil, existe uma previsão de crescimento de produção de arroz em casca para 2024. A estimativa aponta para uma produção de 10,5 milhões de toneladas, o que pode representar crescimento de 2,5% com um aumento de 4,5% na área a ser colhida. A maior área plantada no país ocorre no ecossistema de várzeas, onde a cultura é irrigada, sendo responsável por cerca de 75% da produção nacional.

No ecossistema de várzeas, onde o cultivo é irrigado e também em terras altas, sob regime de chuvas ou de irrigação, as plantas de arroz são infectadas por fitopatógenos que afetam a produtividade da cultura. Entre elas, os fungos são os mais preocupantes devido à dificuldade de controle e dos danos provocados nas plantas. Apesar das tecnologias utilizadas no manejo das plantas, sabe-se que as doenças provocam grande parte das perdas na produção e na qualidade dos grãos. Entre as principais doenças, podemos citar as manchas dos grãos e a mancha parda das folhas.

Mancha-parda e mancha dos grãos

A mancha-parda é causada pelo fungo Bipolaris oryzae, na sua forma assexuada ou mitospórica (Figura 1) e Cochliobolus oryzae, na sua forma sexuada ou teleomórfica.

Pode se tornar importante sob temperatura e umidade alta. Nestas condições, a doença forma lesões escuras, pardo-avermelhadas, de formato oval e centro branco a acinzentado (Figura 2A), que podem reduzir significativamente a produtividade do arroz pela destruição da maior parte da área fotossintética das folhas de todas as plantas da lavoura (Figura 2B). 

Em algumas lavouras cultivadas em solos mais arenosos ou menos férteis, a incidência de mancha-parda pode ser mais severa, podendo comprometer a produção e a qualidade dos grãos. Essa doença vem assumindo grande importância econômica em todo território nacional, afetando principalmente em lavouras semeadas em outubro, e as plantas adultas próximas à maturação. A doença pode causar prejuízos de 12% a 30% por afetar o peso dos grãos.

Quando ocorre plantio de sementes infectadas com B. oryzae, ocorre redução significativa da germinação e emergência das plântulas. Naquelas sementes que conseguem germinar, as plântulas apresentam lesões no coleóptilo de cor marrom e formato circular ou oval. Mais tarde, o patógeno também pode infectar as bainhas as quais apresentam lesões semelhantes às folhas. Na fase reprodutiva, quando surge após a emissão das panículas, a infecção provoca a esterilidade das espiguetas. Infecções no início de formação dos grãos, as glumas apresentam manchas marrom-escuras que, muitas vezes, coalescem cobrindo o grão inteiro, afetando a qualidade dos grãos, por meio das manchas provocadas nos grãos. As sementes infectadas e os restos de plantas infectadas, além de plantas daninhas hospedeiras alternativas, constituem as principais fontes de inoculo primário. Nas sementes, o fungo localiza-se dentro dos tecidos internos da semente, causando descoloração e enrugamento, depreciando a qualidade industrial, após o beneficiamento.

A manchas dos grãos, pode ser causada por diversos outros patógenos, além de B. oryzae, e atualmente é considerada umas das mais importantes doenças do arroz devido às manchas afetarem diretamente a aparência e a qualidade dos grãos, externamente (Figura 3) e internamente, e diminuindo o peso e o rendimento industrial dos grãos beneficiados.

Entre os agentes etiológicos da mancha de grãos, podemos destacar: Bipolaris oryzae, Phoma sorghina, Rhynchosporium oryzae, Pyricularia oryzae, Sarocladium oryzae, Alternaria padwickii, Fusarium spp., Nigrospora spp., Curvularia lunata. Entre as bactérias que podem estar envolvidas, como agentes de manchas dos grãos, temos: Erwinia spp. e Pseudomonas spp.

Para o controle da mancha-parda e manchas dos grãos, é importante que o produtor adquira sementes de boa qualidade sanitária e bom vigor, pois a maioria dos microrganismos envolvidos nestas doenças têm também a transmissão por via das sementes. É recomendado fazer o tratamento de sementes com fungicidas sistêmicos para eliminar possíveis focos de infecção nos tecidos das sementes e também para proteger as plântulas até os primeiros 20 a 30 dias após a emergência. O tratamento biológico das sementes com cepas eficientes do fungo Trichoderma ou de bactérias Bacillus é recomendado devido ao efeito benéfico desses agentes sobre os patógenos e também pelo efeito na promoção do crescimento das plantas e na solubilização de fosfato presente no solo já seja comprovado.

É importante que os programas de melhoramento genético também priorizem o desenvolvimento de cultivares resistentes, com menor nível de severidade à estas doenças. Para plantios em regiões de clima quente e úmido é recomendado o uso de fungicidas sistêmicos e protetivos, registrados para a cultura do arroz, em alternância e em misturas no período de emissão de panículas e formação dos grãos, buscando a eliminação dos patógenos associados à estas doenças. Também é recomendado o controle de hospedeiros alternativos desses patógenos, como o arroz vermelho, capim arroz, além de outras gramíneas invasoras que hospedam alguns desses microrganismos na ausência das plantas do arroz. A destruição dos restos culturais, após a colheita, por meio da incorporação ao solo, é recomendada, visando reduzir o inóculo da área. A rotação de culturas com plantas de outras famílias também é medida importante de manejo dessas doenças.

Além destas doenças, recentemente foi constatado a presença de Sclerotium rolfsii, um fungo que é o agente causal da podridão-do-colmo, na região da Lagoa da confusão, em Tocantins.

Podridão do colmo

Esta doença é causada pelo fungo habitante do solo S. rolfsii Catt. Apresenta importância em outras áreas de arroz no mundo e também pode ser responsável por algumas perdas. No Brasil, foi registrado na cultura do arroz infectando plantas em cultivo da Lagoa da Confusão, Tocantins (Osório et al, 2021). Os autores chegaram ao diagnóstico da doença após o isolamento de S. rolfsii em meio de cultura, extração de DNA do patógeno, amplificação por PCR, sequenciamento e posterior análise filogenética.

Devido ao modo de propagação e persistência de S. rolfsii no solo, além de sua diversificada gama de hospedeiros que são cerca de 500 espécies botânicas, seu controle torna-se difícil, devido a também haver a formação de escleródios, estruturas de resistência do patógeno que pode ficar anos no solo sem a presença do arroz. Os sintomas da doença nas plantas aparecem como lesões acastanhadas aquosas e tecido necrótico presente nas regiões do colmo. Posteriormente, o caule escurece e apodrece com o aparecimento de micélio branco ao redor do caule, o que resulta na destruição do córtex e da raiz principal, ocasionando a morte dos perfilhos (Figura 4).

Como se trata de uma doença nova no Tocantins e pouco disseminada na cultura do arroz, ainda não se recomendam medidas de controle, porém este patógeno também ataca outras espécies de plantas, onde se recomenda o uso de cultivares resistentes, sementes sadias, tratamento de sementes com fungicidas e o plantio em solos bem drenados. O controle biológico com Trichoderma e Bacillus também pode ser uma medida eficiente devido estes antagonistas apresentarem ação de antibiose e micoparasitismo sobre os escleródios presentes no solo.

Por Gil Rodrigues dos Santos, Dalmarcia de Souza Carlos Mourão, Maykon Rodrigo Gomes de Barros, Lorena Ribeiro Lima, João Victor de Almeida Oliveira, Ritielle Siqueira Batista, Joele Andressa Zanfra e Paulo Ricardo de Sena Fernandes, Universidade Federal do Tocantins

Artigo publicado na edição 295 da Revista Cultivar Grandes Culturas

5 Gil Rodrigues dos Santos - 2 Dalmarcia de Souza Carlos Mourão - 6 Maykon Rodrigo Gomes de Barros - 1 Lorena Ribeiro Lima - 4 João Victor de Almeida Oliveira - 7 Ritielle Siqueira Batista - 3 Joele Andressa Zanfra - 8 Paulo Ricardo de Sena Fernandes
5 Gil Rodrigues dos Santos - 2 Dalmarcia de Souza Carlos Mourão - 6 Maykon Rodrigo Gomes de Barros - 1 Lorena Ribeiro Lima - 4 João Victor de Almeida Oliveira - 7 Ritielle Siqueira Batista - 3 Joele Andressa Zanfra - 8 Paulo Ricardo de Sena Fernandes

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