Impacto do déficit hídrico em diferentes fases do desenvolvimento da soja
Por Solange Rocha Monteiro de Andrade, Embrapa Cerrados
Nas conduções tropicais e subtropicais do Brasil a planta de batata tem ciclo relativamente curto, com elevadas taxas de crescimento e produções de tubérculos por unidade de área. Entretanto, devido ao sistema radicular relativamente delicado e superficial da batateira, adubações adequadas e equilibradas em momentos certos são preponderantes para se alcançar altas produtividades de tubérculos de melhor qualidade.
Conhecer as quantidades de nutrientes disponíveis no solo e os extraídos pela batateira em seus estádios de desenvolvimento é de suma importância para se maximizar a relação custo-benefício com a adubação. A extração de nutrientes pela cultura da batata é bastante variável, pois depende de diversos fatores, como: cultivar, solo, clima, espaçamento e irrigação. Além disso, deve-se considerar que, dependendo do nível de produtividade, as quantidades de nutrientes extraídos e exportados podem variar, embora não haja, necessariamente, uma relação entre esses fatores, pois existem diferenças entre cultivares de batata na eficiência de utilização dos nutrientes.
A adubação sem considerar as exigências da cultivar e a disponibilidade de nutrientes no solo são os principais fatores que levam ao uso inadequado, e algumas vezes até indiscriminado, de fertilizantes na cultura da batata, gerando desequilíbrio nutricional, declínio da produtividade com aumento desnecessário do custo de produção. Os corretivos e fertilizantes estão entre os itens que mais impactam o custo variável de produção da cultura da batata, podendo, em alguns casos, representar mais de 20% do custo total de produção, particularmente em cultivos para indústrias de fritura. Todavia, os potenciais de produtividades de tubérculos das cultivares modernas de batata podem ser alavancados expressivamente com o manejo adequado e equilibrado dos nutrientes nas fases certas, aumentando da mesma forma a relação custo-benefício e consequentemente o lucro do produtor.
O conhecimento apurado da disponibilidade de nutrientes para as plantas de batata depende de uma amostragem de solo adequada, etapa crítica e subestimada por técnicos e produtores que, por mais capacitados e tecnificados que sejam, nunca serão aptos a corrigirem os erros de uma amostragem de solo mal-feita. Além disso, conhecer com precisão os teores de nutrientes no solo passa a ter importância peculiar para as plantas de batata, pois possivelmente tão ou mais importante do que conhecer a disponibilidade dos teores dos nutrientes no solo é compreender a importância das interações entre os nutrientes para altas produtividades de tubérculos de cultivares modernas de batata. Estas interações começam com a correção da acidez do solo e os aportes de cálcio (Ca) e magnésio (Mg) para as plantas, e podem afetar todo um plano de adubação para a cultura da batata.
Apesar de a cultura da batata ser pouco exigente em reações de solo mais próximas da neutralidade, cultivares mais modernas e produtivas de batata são mais exigentes em nutrientes e extraem mais cátions básicos do solo (Ca, Mg e K). Quando adubadas com fertilizante nitrogenado de reação ácida, como o sulfato de amônio, resultam em acidificação intensa no solo dos camalhões. Em solos com potencial de liberação de alumínio (Al) tóxico (Al3+) para as plantas (como os solos gibsíticos do centro-sul do Paraná, entre outros) esta acidificação solubiliza esse Al3+ no solo dos camalhões que, por sua vez, reduz a absorção de Ca pelas plantas e, com isso, limita o enchimento dos tubérculos. Portanto, apesar de tolerantes à acidez do solo, a calagem é indispensável para cultivares modernas de batata.
O Ca é o terceiro nutriente mais extraído pela batateira, devendo estar disponível em níveis adequados no solo durante a tuberização e o crescimento dos tubérculos, uma vez que a translocação de Ca para os tubérculos é reduzida. Baixos teores desse nutriente nos tubérculos também têm sido associados à maior suscetibilidade a podridões e distúrbios fisiológicos, como manchas marrons e coração-negro (e coração oco, especialmente no caso da cultivar Atlantic). A máxima produtividade de tubérculos normalmente é obtida quando o ph (CaCl2) encontra-se em torno de 5,5 e 6,0 e a saturação por bases acima de 60%, situações que aumentam a eficiência das adubações posteriores.
Alguns produtores têm receio com relação à elevação do pH do solo a ser cultivado com a cultura da batata, devido à possibilidade de aumento da incidência de sarna comum (Streptomyces scabies) nos tubérculos. Apesar disso, nos últimos anos têm sido obtidas altas produtividades e tubérculos de excelente qualidade mesmo em solos férteis e com pH relativamente elevado, bem como há relatos da incidência de sarna em tubérculos de batata mesmo em solos com valores de pH de 3,9, sugerindo que o agente causal é adaptado a condições ácidas. Neste caso, uma alternativa que tem dado resultados interessantes é programar a calagem com maior antecedência e aplicá-la na cultura precedente à da batata. Isso faz com que o solo esteja corrigido por ocasião do cultivo da batata e evita alterações bruscas no pH durante o desenvolvimento dos tubérculos, minimizando assim a possibilidade de ocorrência de sarna.
Aportes excessivos, especialmente de Ca, via calagem podem resultar em desbalanceamento entre ele e as quantidades de K absorvidas pelas plantas, que são notadamente prejudicadas devido às interações antagônicas entre eles; isto é, a presença ou a absorção de um inibe a absorção do outro. Deficiências de magnésio (Mg) devido aportes excessivos de Ca com uso de calcários calcíticos e com fertilizantes fosfatados contendo Ca na linha de plantio são comuns e, mesmo que ocultas, repercutem na absorção de outro elemento importante para a batateira, o fósforo (P). Este nutriente, apesar de pouco absorvido pelas plantas de batata, é responsável especialmente pela iniciação dos tubérculos e é absorvido ativamente com gasto de energia pelas plantas precisando de Mg como carregador para sua absorção simplástica, ou aquela que faz com que os nutrientes adentrem às células vegetais. Em contrapartida, não se pode descartar a possibilidade de retrogradação do P com excesso de Ca no solo, fenômeno que o insolubiliza e o torna indisponível para ser absorvido pelas raízes das plantas de batata.
Desta forma, a calagem para a cultura da batata não deve também ser superestimada e muito menos subestimada. Desde que aplicada com critérios baseados em uma amostragem de solo rigorosamente conduzida, o incremento no desenvolvimento radicular e na consequente absorção de nutrientes com a aplicação de calcário, assim como a insolubilização de elementos tóxicos e o aumento da eficiência das adubações, são aspectos que a tornam um insumo de alta relação custo-benefício e pré-requisito básico na bataticultura brasileira, desde que na dose correta.
Aplicações tradicionais de doses altas da fórmula NPK 04-14-08 nos sulcos de plantio da cultura da batata extrapolam as quantidades de N e K demandadas na fase vegetativa da planta, causando aumento dos custos e redução das produtividades de tubérculos, principalmente em anos mais secos ou em áreas com irrigação deficiente.
O N tem grande influência no crescimento da parte aérea, na tuberização e na qualidade dos tubérculos da cultura da batata, porém, doses elevadas de N especialmente no início do ciclo, podem promover crescimento vegetativo excessivo, aumentar a incidência de doenças e ainda reduzir a taxa de crescimento dos tubérculos e de armazenamento de amido nos mesmos, refletindo em produtividades menores e qualidades piores de tubérculos. Contudo, as doses de N que propiciam a máxima produtividade de tubérculos na batateira são muito variáveis, dependendo de vários fatores: cultivar, tamanho do tubérculo-semente, densidade de hastes, época de plantio, tipo de solo e, principalmente, cultura anterior (histórico da área). Doses extras de N no plantio, como por exemplo, com altas doses NPK 04-14-08, não consideram o potencial de fornecimento de N pela mineralização da matéria orgânica dos solos, processo que pode se intensificar com o aporte de mais N via adubação de plantio. Além disso, deve se levar em conta que a absorção de N pela cultura só aumenta substancialmente após os 35-40 dias após o plantio, quando se inicia o desenvolvimento dos tubérculos. O manejo preciso da adubação nitrogenada na cultura da batata é um dos principais pré-requisitos para se obter altas produtividades de tubérculos de melhor qualidade.
Para definir a necessidade de aplicação de N dentro do período de máxima exigência nutricional da batata, ou seja, durante os cerca de 45 dias de tuberização, a diagnose foliar pode ser uma ferramenta muito útil que foi aprimorada para sistemas mais tecnificados de produção. Nestes, a possibilidade de diagnóstico nutricional foliar em fases mais adiantadas do ciclo, inclusive no início da tuberização, permite diagnosticar a responsividade ou não da cultura à aplicação de N em fase mais adiantada do processo. Alternativa para disponibilizar N gradualmente durante o ciclo da cultura é o uso de fontes de liberação controlada ou gradual, que dispensam inclusive a adubação nitrogenada de cobertura.
Em contrapartida, o K é o nutriente mais extraído e exportado pela batateira, sendo sua exportação pelos tubérculos, normalmente, 1,8 vezes maior que a do N e até 10 vezes superior a de P. A aplicação de elevadas doses de K no sulco de plantio, utilizando fórmulas com altas concentrações desse nutriente, pode reduzir a população de plantas e a produção de tubérculos, devido ao aumento significativo da condutividade elétrica e ao desequilíbrio da relação K/Ca+Mg no solo, o que pode gerar deficiência induzida de Mg por inibição competitiva do excesso de K. Além disso, doses excessivas de K causam redução na matéria seca de tubérculos. Em vista destes efeitos deletérios da aplicação maciça de K no plantio, parte dela pode ser transferida para o pré ou pós-plantio com possibilidade de ganhos em produtividades de tubérculos da classe especial e também em rendimento operacional na adubação e no plantio de tubérculos-sementes.
Com efeitos positivos sobre o enchimento de tubérculos, a aplicação de K também pode ser feita junto com a adubação nitrogenada de cobertura antes da amontoa. Efeitos sinérgicos com a aplicação de ambos, N e K, ocorrem mesmo em solos de média e alta fertilidades, porém nestes últimos e em anos com menos chuvas, doses maiores de ambos os nutrientes podem diminuir os percentuais de matéria seca nos tubérculos. Isto não é bom para aqueles destinados à fritura. Desta forma, é necessário cuidado, amostragem de solo muito bem feita para diagnosticar a disponibilidade de K e a contabilização da quantidade de K aplicada no plantio são essenciais para se programar a adubação potássica de cobertura.
Principalmente para batata destinada ao processamento industrial e quando não são necessárias aplicações de doses elevadas de K, o uso de outras fontes de K ao invés do cloreto de potássio pode ser interessante, levando à maior qualidade dos tubérculos, especialmente quanto a percentagem de matéria seca. Outro aspecto que deve ser considerado, tanto com a adubação potássica de plantio quanto a de cobertura, é que o Cl fornecido com o KCl pode vir a demandar a aplicação de mais N para as batateiras, uma vez que a absorção deste ânion é antagônica com a absorção de nitrato (NO3-) pelas plantas. Em solos corrigidos e bem aerados esta é a forma de N predominante.
Apesar de ser um dos macronutrientes absorvido em menores quantidades pela cultura da batata (cerca de 0,5 kg de P por tonelada de tubérculo produzida), o P é, normalmente, o nutriente aplicado em maiores quantidades nesse cultivo, com doses podendo ultrapassar 600 kg ha-1 de P2O5. Realmente, em solos com baixos teores de P disponível, as respostas da cultura à adubação fosfatada têm sido altas. Isso se deve à baixa eficiência da cultura em absorver P solo, o que está relacionado, principalmente, ao seu restrito comprimento radicular. Contudo, a resposta à adubação fosfatada é menor e ocorre até doses muito menores quando o teor de P disponível no solo é médio ou, principalmente, alto. Assim, é extremamente importante interpretar coerentemente os resultados científicos (ou tabelas de recomendação) e avaliar até que ponto os incrementos de produtividade alcançados com o aumento das doses de P são economicamente viáveis para o produtor. Em suma, a disponibilidade adequada de P é fundamental para se alcançar elevadas produtividades, porém a definição da dose de adubo fosfatado deve levar em conta a análise de solo, pois, em solos bem supridos com P, a sua adição pouco interfere na produção ou na qualidade dos tubérculos.
Com a cultura da batata demanda a aplicação de altas doses de K e eventualmente de Ca, pode haver desequilíbrio entre o Mg e esses outros cátions no solo. Mesmo não absorvendo quantidades elevadas de Mg (normalmente cerca de 0,32 kg de Mg para cada tonelada de tubérculo produzida), a deficiência de Mg pode afetar muito a produtividade, o tamanho e a qualidade dos tubérculos (matéria seca, amido e açúcares redutores). Assim, a adubação com Mg visando equilibrar a disponibilidade desse nutriente no solo perante o K e Ca é muito importante, especialmente crítica devido sua função na absorção de P pelas plantas. Estudos recentes têm indicado que a adubação magnesiana pode surtir efeitos positivos, mesmo em solos já com teores de Mg considerados altos. Isso porque elevados teores no solo e/ou as elevadas doses de Ca e/ou K aplicadas podem causar desequilíbrio e são antagônicos quanto a absorção de Mg.
O S é o macronutriente demandado em menores quantidades pela cultura da batata. Contudo, em solos com teores desse elemento considerados baixos (<5,0 mg dm-3 de S-SO42-) e também com teores baixos de matéria orgânica do solo (< 20 g dm-3), o mesmo deve ser fornecido via gessagem ou adubação, havendo várias fontes e fórmulas utilizadas na cultura da batata.
O B é o micronutriente que tem apresentado os maiores efeitos nas produtividades da cultura, especialmente quando os solos são deficientes nesse micronutriente, sendo recomendada a sua aplicação em solo cujo teor de B é médio ou baixo. Para definição da dose de B a ser aplicada a análise de solo também é ferramenta fundamental, uma vez que o limiar entre deficiência e fitotoxicidade para as plantas é muito estreito neste caso em particular.
Respostas da cultura da batata aos demais micronutrientes têm sido menos frequentes, provavelmente porque nos solos brasileiros, de maneira geral, há alta disponibilidade de Fe e Mn e defensivos frequentemente utilizados na cultura fornecem Cu, Mn e Zn. Mesmo assim, atenção à disponibilidade de todos os micronutrientes no solo, especialmente em solos mais corrigidos, bem como a aplicação de doses recomendadas via adubação são importantes estratégias para a obtenção de elevadas produtividades de batata. Associadas às pesadas adubações com P via fórmulas NPK, principalmente a 04-14-08, adubações foliares com micronutrientes catiônicos têm sido feitas por produtores, que em tese, podem ter um efeito paliativo diante dos excessos de P aplicados que podem causar precipitação e insolubilização de micronutrientes catiônicos.
Complementações com aplicações foliares, especialmente de micronutrientes, mas também de alguns macros, como Mg, K, N e S, e de elementos benéficos como o Si, podem se reverter em ganhos de produtividades. Além disso, o uso de bioestimulantes, bioativadores de plantas e microrganismos benéficos, seja no sulco, visando maior enraizamento, crescimento inicial e tuberização, seja via foliar, para proporcionar manutenção da área foliar ativa e, consequentemente, maior enchimento dos tubérculos, também podem contribuir para ganhos de produtividade e de qualidade tecnológica dos tubérculos. Contudo, não se deve esquecer que a base para elevadas produtividades de batata começa com uma precisa e correta análise de solo, adequada correção da acidez e fornecimento equilibrado de nutrientes via solo. Enfim, o “arroz com feijão” bem feito também garante batata na mesa com maior custo-benefício e lucratividade para o produtor.
Por Rogério Peres Soratto (FCA e CERAT/UNESP) e Renato Yagi (IDR-Paraná)
Artigo publicado na edição 145 da Revista Cultivar Hortaliças e Frutas
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