Impacto do déficit hídrico em diferentes fases do desenvolvimento da soja
Por Solange Rocha Monteiro de Andrade, Embrapa Cerrados
O Projeto Biológicos é um trabalho com objetivo de estudar a importância e a viabilidade técnica-econômica das ferramentas biológicas aplicadas ao manejo de pragas e doenças no sistema de produção. É desenvolvido pela Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato grosso (Fundação MT) com apoio de empresas parcerias.
O projeto teve início na safra de soja 2022/23 e foi desenvolvido no município de Sapezal (MT), uma região caracterizada fortemente pelo sistema de produção soja-algodão. O manejo executado na cultura do algodão se iniciou no tratamento de sementes, tendo continuidade com as aplicações foliares para controle de pragas e doenças, conforme cada tratamento:
1 – Testemunha: neste ambiente não foi realizado nenhuma ação de manejo químico ou biológico.
2 – Padrão químico: os produtos utilizados no tratamento de sementes, aplicação contra pragas e doenças foram exclusivamente químicos, sem nenhuma entrada com produtos biológicos.
3 – Substituição (menos químico e mais biológico): neste tratamento foram reduzidos, em pelo menos duas aplicações, os fungicidas e inseticidas químicos.
4 – Adição: os produtos biológicos foram adicionados aos programas de fungicidas e inseticidas, sem que houvesse qualquer substituição de moléculas químicas.
Na safra 2022/23, o projeto teve o apoio de três importantes empresas atuantes no segmento dos biológicos atualmente, sendo a Lallemand, Biocontrol - Nitro e Biotrop. Cada uma posicionou seus produtos biológicos, bioinseticidas, biofungicidas e bionematicidas, conforme a estrutura dos tratamentos "substituição" e "adição". Contudo, para fins de apresentação neste artigo, os resultados das três propostas de manejo foram analisados por meio de análise estatística conjunta, e os resultados apresentados de forma sumarizada.
Cada tratamento compreendeu uma área de 0,56 hectares (112 x 50 m), em que todas os tratos culturais e as operações de adubação, plantio, aplicações e colheita foram realizadas de forma mecanizada, de acordo com as recomendações técnicas para a cultura do algodoeiro. Os produtos biológicos foram aplicados junto aos químicos quando sua compatibilidade foi atendida. Do contrário, foram aplicados de forma intercalada, com intervalos seguros de cinco dias. Os tratamentos foram mantidos no local após o cultivo da soja, alterando apenas a cultura, que neste caso foi o algodão. Na Figura 1 é possível observar as dimensões do projeto.
A safra de algodão 2023 ocorreu com boas condições ambientais ao desenvolvimento das plantas, com chuvas regulares durante as fases fenológicas críticas da cultura. Tais condições também favoreceram a ocorrência de microrganismos patogênicos e os agentes de biocontrole. Em relação às doenças iniciais, foi verificado incidência de plantas tombadas, causadas por fungos de solo, tendo menor perda de estande nos locais com aplicação do tratamento de semente ou sulco de semeadura (Figura 2).
Para as doenças foliares, foram verificadas a incidência de mancha-alvo e mancha de ramularia. As médias de severidade da mancha-alvo foram relativamente baixas, e não foram influenciadas pelos tratamentos. No controle da mancha de ramularia, verificou-se que os dois tratamentos com aplicação de biofungicidas apresentaram as melhores médias de controle da doença (Figura 3). Os tratamentos "substituição" e "adição" demonstraram claramente que o manejo integrado de químicos e biológicos foi sinérgico, reduzindo a evolução da doença e apresentando eficácia de controle melhor que o manejo exclusivamente químico.
Além dos efeitos diretos dos agentes de biocontrole sobre os patógenos, também se constatou que as plantas presentes nos dois tratamentos com aplicação de biológicos, as plantas aparentemente sofreram menos estresse com as baterias de aplicação para o controle do bicudo e baixas temperaturas do ar. Isso se dá, possivelmente, pelos efeitos indiretos que os agentes de biocontrole podem causar nas plantas do algodoeiro, como promoção de crescimento, produção de fitohormônios, e outros efeitos fisiológicos.
Para a incidência de pragas, foi observada a presença de lagartas do gênero Spodoptera spp., mosca-branca, pulgão e ácaro-rajado. Todas essas espécies apresentaram incidência relativamente baixa durante o ciclo da cultura do algodão. Para a população de Spodoptera spp. e mosca-branca, observou-se que todos os tratamentos apresentaram controle para essas espécies, em relação à testemunha sem aplicação (Figura 4 e Figura 5). Vale destacar que a eficiência de controle foi ligeiramente maior nos tratamentos com produtos biológicos, principalmente no tratamento "substituição".
Espera-se que, ao longo do tempo, dependendo da infestação da praga, os resultados possam ser mais evidentes, conforme os microrganismos se estabeleçam na área (Figura 7 e Figura 8). Dessa forma, este trabalho mostra a importância da continuidade do projeto, para que se tenha respostas mais assertivas e robustas ao longo do tempo, considerando que as infestações das pragas e severidade das doenças podem oscilar de acordo com o cenário de cada safra e do sistema de cultivo, o que pode impactar diretamente na eficiência dos produtos utilizados nos diferentes programas de manejo, especialmente para os biológicos.
Além de contribuir no manejo das pragas e doenças da cultura do algodoeiro, os programas com aplicação dos produtos biológicos apresentaram efeitos positivos também na produtividade da cultura. Os resultados de produtividade de pluma (algodão em caroço) demonstraram que nos tratamentos "adição" e "substituição" se observaram médias de produtividade tão boas quanto as verificadas no tratamento com manejo exclusivamente químico (Figura 8).
Por fim, foi possível perceber que o manejo integrado de fungicidas e inseticidas químicos e biológicos apresentou resultados promissores na redução da evolução de doenças e população de pragas, assim como reflexos positivos na produtividade do algodoeiro. Ambas as estratégias, quando bem-posicionadas, e de preferência integradas, podem contribuir para o manejo mais equilibrado das pragas e doenças do sistema de produção, cujas culturas podem sofrer severos danos no rendimento. Os agentes de biocontrole podem também, além da ação direta, contribuir indiretamente para o desenvolvimento mais vigoroso das plantas de algodoeiro. Este projeto é uma iniciativa, entre várias outras, que a Fundação MT vem desenvolvendo. Nesta safra 2022/23, contou com o apoio das empresas parceiras Lallemand, Biocontrol – Nitro e Biotrop. O plano é expandir em dimensão e cenário agrícola, para englobar também o sistema de produção da soja e milho.
Por João Paulo Ascari e Mariana Ortega, Fundação MT
Artigo publicado na edição 295 da Revista Cultivar Grandes Culturas
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