Manejo da mancha de fitóftora em soja
O grau de tolerância genética da cultivar escolhida para o plantio tem papel importante na prevenção deste patógeno
A incidência da cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) tem crescido nas lavouras brasileiras, principalmente no Cerrado durante a safrinha. Agressiva, a praga causa, além dos danos diretos, prejuízos por conta de ser vetora de doenças que afetam a cultura. A aplicação de inseticidas, associada a outras estratégias de manejo, tem apresentado bons resultados contra o inseto.
Com a possibilidade de cultivo do milho durante o ano inteiro no Brasil ocorreu a quebra de sazonalidade de plantio, resultando em aumento de pressão de pragas e doenças específicas desta cultura. Destaca-se a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis). Além dos danos diretos que causa às lavouras, este inseto pode ser vetor de doenças, podendo transmitir dois microrganismos denominados molicutes, o Spiroplasma kunkelii agente que causa a doença conhecida como enfezamento pálido (Corn Stunt – Espiroplasma) e o fitoplasma responsável pela ocorrência do enfezamento vermelho (Maize Busch Stunt Phytoplasma – MBSP) no milho. Além dos molicutes D. maidis pode ainda transmitir um vírus para as plantas sadias, conhecido como Risca (Maize Rayado Fino Marafivirus – MRFV). Waquil (2004).
Oliveira et al. (2002), já observavam que este inseto poderia acarretar grandes prejuízos às lavouras. Nas safras recentes tem sido verificado que essas doenças têm gerado prejuízo aos produtores que cultivam o milho em segunda época ou safrinha, em regiões produtoras do país, especialmente no Cerrado. Nessas regiões os produtores têm discutido a eficiência do manejo químico da praga, razão da dispersão e aumento da população muito rápida no início do verão. No manejo da safra há a busca também por associar o controle químico aos materiais mais plantados em cada região produtora. O comportamento dos híbridos ainda é uma questão de difícil equação para os produtores. Além dos híbridos, outra dificuldade se dá por fluxos frequentes da praga nas lavouras, o que dificulta o efeito residual e a eficiência dos inseticidas. Em algumas regiões foram realizadas aplicações de três em três dias na safra anterior, o que aumentou consideravelmente o custo de produção.
Com o objetivo de avaliar a eficiência na redução da população de D. maidis nas áreas cultivadas com milho em segunda safra, um experimento foi conduzido na safrinha de 2016, na estação experimental MRE Agropesquisa, localizada no município de Rio Verde, região sudoeste de Goiás. Utilizou-se delineamento experimental em bloco ao acaso com oito tratamentos (Tabela 1) e quatro repetições.
A aplicação dos tratamentos ocorreu quando as plantas de milho se encontravam em estádio vegetativo. Utilizou-se pulverizador costal pressurizado com CO2, provido de barra de pulverização contendo seis pontas espaçadas com 0,50 m, tipo leque Teejet-110.02, sob pressão de 2,0 Kgf cm-2, com volume de calda proporcional a 150 L/ha.
Após a aplicação foi realizada a contagem de indivíduos adultos de D. maidis por planta. Foram avaliadas 15 plantas aleatórias por repetição de cada tratamento. As avaliações ocorreram um, três e cinco dias após aplicação (daa). Os dados quantificados foram submetidos a análise de variância e as médias de indivíduos adultos por época de avaliação estão expressas na Figura 1. Posteriormente realizou-se o calculo de eficiência do produto, comparando a eficiência dos tratamentos em relação ao tratamento controle onde não houve aplicação de inseticida (Figura 2).
Observa-se na Figura 1 que todos os tratamentos com inseticida mostraram diminuição na população de indivíduos de D. maidis um dia após a aplicação, com destaque para o Acefato na dose 1000 g/ha e a Zeta-Cipermetrina + Bifentrina na dose de 200 g/ha, que foram os tratamentos com maior redução de indivíduos por plantas avaliadas. Aos 5 daa verificou-se uma redução na população de cigarrinha-do-milho presente nos tratamentos, deixando a população de adulto abaixo de 0,5 indivíduos por planta nos tratamentos que utilizaram os inseticidas Imidacloprido, Bifentrina, Acefato, Zeta-Cipermetrina + Bifentrina e Imidacloprido + Bifentrina.
A utilização de inseticidas do grupo químico neonicotinóide como tiametoxam, imidacloprido e acetamiprido tem apresentado bons resultados no controle dessa praga. A associação de grupos químicos diferentes em um mesmo produto permite um maior espectro de ação, possibilitando melhor manejo para importantes pragas na cultura do milho. Como exemplo é possível citar neonicotinóides com piretróides.
A Figura 2 apresenta a eficiência de controle obtida pelos inseticidas testados. Observa-se que apenas o tratamento com os inseticidas Acefato e Zeta-Cipermetrina + Bifentrina atingiram mais de 70% de controle da população de D. maidis no primeiro dia após aplicação. Os demais tratamentos obtiveram eficiência inferior a 60%.
A eficiência de controle ao 5 daa só foi superior aos 90% de controle para o tratamento onde foi aplicado o Acefato. As parcelas tratadas com Zeta-Cipermetrina + Bifentrina superaram 75% de controle do inseto adulto. Os tratamentos que utilizaram os inseticidas Imidacloprido e Bifentrina de formas isoladas e o tratamento composto pela mistura industrial de Imidacloprido + Bifentrina ultrapassaram 70% de controle da cigarrinha-do-milho aos 5 daa.
Aos 3 daa todos os tratamentos, inclusive o tratamento controle, tiveram um aumento na população dos indivíduos por planta (Figura 1), resultando em diminuição na eficácia do controle (Figura 2). Como este aumento de população foi geral, pode-se atribuí-lo ao fato de os insetos jovens (ninfas) terem se tornado adultos ou até mesmo pela dispersão de indivíduos de locais adjacentes para o lugar do experimento. Tais insetos podem ser oriundos de lavouras contaminadas para lavouras sadias, aumentando rapidamente a contaminação das regiões produtoras.
Várias estratégias devem ser adotadas para diminuir os problemas causados por D. maidis. Entretanto, uma estratégia isolada não é suficiente. Uma opção para o controle químico do inseto vetor pode ser o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos, bem como a utilização de materiais tolerantes.
Inseticidas de diferentes grupos químicos podem ser opção para aplicações sequenciais para a diminuição da população do inseto adulto. A aplicação do acefato mostrou ser uma das opções para redução desses insetos, apresentando eficácia superior a 90% quando aplicado no estádio vegetativo da cultura do milho.
O milho (Zea mays) é uma das culturas mais cultivadas no território brasileiro. Isso pode ser explicado pelo fato de o Brasil possuir fatores edafoclimáticos que proporcionam o cultivo da cultura durante todo o ano, seja em primeira safra, segunda safra e até mesmo como terceira safra (período de entre safra) em áreas irrigadas.
Segundo o IBGE (2017) a estimativa de área cultivada com a cultura do milho aumentou da safra de 2016 para a safra 2017, aproximadamente 4,67% para o primeiro cultivo e 10,19% para o cultivo de segunda safra “safrinha”.
Artigo publicado na edição 219 da Cultivar Grandes Culturas, mês agosto, ano 2017.
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