Escolha e utilização de bioinsumos em culturas de inverno

Por Thomas Newton Martin, Anderson Cesar Ramos Marques, Edgar Salis Brasil Neto, Fernando Sintra Fulaneti, Janaina de Fatima Spanevello e Laís de Paula Ribeiro (Universidade Federal de Santa Maria); Rosana Taschetto Vey (Inocular Soluções Agrícolas); Tânia Maria Bayer da Silva (Sociedade Educacional Três de Maio); Vitor Sauzem Rumpel e Yago Muller Alves (Universidade Federal de Santa Maria)

26.01.2024 | 10:40 (UTC -3)

A agricultura atual possui o desafio de aumentar a produtividade agrícola, com sustentabilidade econômica, ambiental e social, diminuindo os impactos nos biomas estabelecidos e a utilização de insumos químicos. A utilização de micro-organismos atuantes na promoção de crescimento, fixação de nitrogênio, solubilização de nutrientes e controle de pragas e doenças é mais uma contribuição da microbiologia para a agricultura. As pesquisas nessa área crescem exponencialmente, gerando registros, patentes e produtos utilizados em vários setores, principalmente na agricultura. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) conceitua como bioinsumos os produtos de origem biológica (vegetal, animal, microbiana e mineral) utilizados na agricultura para combater pragas e doenças, melhorar a fertilidade do solo e aumentar a disponibilidade de nutrientes para as plantas.

Além disso, a multifuncionalidade dos micro-organismos proporciona diversas funções no ambiente, porém muitas vezes é atribuída a eles apenas uma função principal. A nomenclatura científica dos micro-organismos é composta por gênero, espécie e, mais recentemente, as cepas estão se destacando, pois com isso pode existir maior especificidade na função atribuída a ela. Se por um lado existe uma maior precisão científica, por outro o produtor rural encontra dificuldades em reconhecer as funções aos diferentes micro-organismos. Dessa forma, o presente texto pretende apresentar opções de manejo para as culturas de inverno com base nas informações geradas pelo Grupo de Pesquisas Manejo Sustentável de Grandes Culturas de Terras Altas (Coxilha-UFSM).

Considerando as culturas de inverno (com foco em trigo, cevada, aveia e ervilhaca), estão sendo apresentados micro-organismos capazes de auxiliar produtores e técnicos na tomada de decisão para resolução dos problemas mais comuns das culturas. Destaca-se que a concentração do micro-organismo, a viabilidade e o manejo de aplicação dos mesmos também são fundamentais para sua efetiva ação nas plantas. O Quadro 1 exemplifica uma proposta de utilização de micro-organismos. Deve-se considerar que existem diversas alternativas, mas em geral é dessa forma que os micro-organismos são utilizados na área didática experimental da Coxilha-UFSM. E apresentam resultados promissores nas pesquisas realizadas. Outras variações são possíveis quando se consideram micro-organismos, cepas e culturas.

Inoculação via sementes

Alguns detalhes que fazem a diferença na inoculação merecem destaque. Quando a inoculação for via semente, deve-se evitar mistura do bioinsumo com fungicidas e inseticidas. Após a realização do tratamento químico das sementes, aguardar sua completa secagem e posteriormente realizar o tratamento biológico. As doses de micro-organismos devem ser estabelecidas para obtenção de uma elevada concentração de unidades formadoras de colônia (UFCs) por semente. Esta informação não está disponível para muitos micro-organismos, culturas ou propósitos de utilização.

Segundo Hungria, os inoculantes devem ter uma concentração mínima de 108 células de Azospirillum por grama (g) (inoculante turfoso) ou por mililitro (ml) (inoculante líquido). A aplicação com inoculante líquido na concentração destacada pode ser realizada com 150 ml/50 kg de sementes de milho e 200 ml/50 kg de sementes de trigo. Com isso, a estimativa teórica de UFCs é de 270.000 UFCs/semente (milho) e 36.000 UFCs/semente (trigo). Para a soja deve-se ter ao menos 1.200.000 UFCs/semente. Uma estratégia quando não estão estabelecidos cientificamente os valores por cultura ou micro-organismos: pode-se considerar de forma análoga o usual para as sementes de soja e o Bradyrhizobium sp. (1,2 x 10⁶ UFCs por semente).

Com base nisso, deve-se multiplicar o número mínimo de UFCs/semente pelo número de sementes que será utilizado na área (Figura 1). Com isso, o número de UFCs necessário para recobrir todas as sementes deve ser dividido pela concentração de UFCs que o bioinsumo a ser usado possui. Vejamos um exemplo para a cultura do trigo. Serão utilizadas 350 sementes por m² (350 sementes x 10.000 m² = 3.500.000 de sementes/ha). Agora, deve-se multiplicar o número de sementes por hectare por 36.000 UFCs/semente = 1,26 x 1011. Então, teremos que aplicar 1,26 x 1011 UFC por hectare (3.500.000 de sementes).

Como não é possível fazer a contagem de cada micro-organismo no momento da aplicação, deve-se observar a concentração do produto comercial e dividir por esse valor para termos o volume a ser aplicado. Considerando um produto comercial que tenha 2 x 10⁹, o volume de bioinsumos a ser aplicado é de 63 ml em 3.500.000 de sementes. Observação: deve-se diluir o bioinsumo em água para ser possível formar uma calda. O volume de calda pode variar de 300 ml a 500 ml/50 kg de sementes. Outros pontos que devem ser considerados é que se o produto comercial tiver o expoente 10⁸ e não 10⁹, o volume a ser aplicado deve ser de 630 ml por 50 kg de sementes. E isso não seria adequado para fazer o tratamento das sementes de trigo devido à diluição do tratamento químico de sementes, escorrimento e não presença do número adequado de UFCs por semente. Dessa forma, uma alternativa é a utilização da inoculação via pulverização em sulco de semeadura.

Inoculação via sulco

Para a pulverização via sulco de semeadura, deve-se considerar que o jato deve atingir as sementes e que parte da calda irá cobrir as paredes do sulco. Nesse sentido, deve-se utilizar ao menos 50 L/ha de calda e a dose do bioinsumo deve ser de 3x a dose recomendada por semente.

Pulverização via aérea

Essa forma de aplicação, geralmente, deve ser realizada em momentos do dia com temperaturas amenas e sem ou com baixa presença de radiação solar, sendo o ideal no final da tarde e início da noite, melhorando assim a eficiência da interação dos micro-organismos com as plantas. Quando não é seguida essa indicação, o percentual de UFCs cai drasticamente e o número efetivo de UFCs pode não ser eficiente para proporcionar a resposta esperada. Os volumes de bioinsumos aplicados via foliar possuem a tendência de ser maiores, pois o objetivo é ter uma elevada densidade de UFCs por área na folha.

Na Figura 2, pode-se observar o crescimento radicular pela utilização de bioinsumos via semente na semeadura da ervilhaca. A utilização da ervilhaca aumentou em 193% o comprimento radicular, em 175% a área superficial e em 160% o volume radicular, quando foram aplicados os bioinsumos.

A utilização em aveia branca (Figura 3) ampliou os contrastes em relação à testemunha sem aplicação de bioinsumos. Verificou-se 294% de incremento no comprimento radicular, 315% de incremento na área superficial e 337% de incremento no volume radicular com a utilização de bioinsumos. Mas deve-se sempre considerar qual o problema queremos resolver na cultura de interesse para definição da estratégia de utilização dos bioinsumos.

Últimas considerações

Atualmente, há uma grande diversidade de bioinsumos disponíveis para auxiliar o agricultor, seja pela produção on farm ou comercialmente pelas indústrias. Essa diversidade causa uma pressão sobre os produtores que, inicialmente, devem saber o problema que querem resolver. A partir disso, deve-se escolher os micro-organismos e suas cepas de forma adequada, com base em critérios científicos e características que garantam a qualidade dos produtos como concentração, validade e metodologia de aplicação.

Por Thomas Newton Martin, Anderson Cesar Ramos Marques, Edgar Salis Brasil Neto, Fernando Sintra Fulaneti, Janaina de Fatima Spanevello e Laís de Paula Ribeiro (Universidade Federal de Santa Maria); Rosana Taschetto Vey (Inocular Soluções Agrícolas); Tânia Maria Bayer da Silva (Sociedade Educacional Três de Maio); Vitor Sauzem Rumpel e Yago Muller Alves (Universidade Federal de Santa Maria). Publicado na edição 295 da Revista Cultivar Grandes Culturas

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