Pulverização com assistência de ar e gotas carregadas eletricamente contra a mosca-branca

Por Gabriela Pelegrini, Felipe Feliz Rodrigues e Marcelo da Costa Ferreira, FCAV - Unesp

25.01.2024 | 07:59 (UTC -3)

A soja é a cultura mais amplamente cultivada no Brasil e um dos maiores produtores globais de soja em grãos. No entanto, a produtividade pode ser afetada por insetos fitófagos, como a mosca-branca, que é desafiadora de controlar devido ao seu comportamento e desenvolvimento de resistência a inseticidas. A tecnologia de pulverização com gotas carregadas eletricamente, combinada com a assistência de ar, oferece uma solução promissora para melhorar o controle da mosca-branca na soja. Esse método envolve a eletrificação das gotas de pulverização e o uso de um ventilador para direcioná-las, aumentando a eficiência do controle e reduzindo a deriva.

Este texto aborda aspectos da tecnologia de aplicação na cultura da soja, visando oferecer os fundamentos do uso de pulverização com gotas carregadas eletricamente e assistência de ar no controle de mosca-branca.

Controle da mosca-branca na soja

A soja, originária da China, é a cultura de maior área cultivada no Brasil, com crescente importância para atender à demanda de óleos, consumo humano, animal e setores industriais. Na safra 2022/23, o Brasil produziu 156 milhões de toneladas de soja, tornando-se um dos maiores produtores mundiais. Estima-se que a produção atingirá cerca de 163 milhões de toneladas na safra 2023/24. No entanto, diversos fatores, incluindo problemas fitossanitários como insetos fitófagos, afetam a produtividade e a qualidade dos grãos. A mosca-branca (Bemisia tabaci), em particular, destaca-se devido à dificuldade de controle e aumento de infestações, especialmente o biótipo B introduzido no Brasil na década de 1990.

A mosca-branca, um inseto medindo de 1 mm a 2 mm (milímetros) de comprimento, da família Aleyrodidae, causa danos diretos ao se alimentar da seiva do floema e transmite mais de 200 vírus, incluindo o begomovírus, afetando a soja. Sua excreção de honeydew leva ao crescimento de fumagina nas folhas, prejudicando a taxa fotossintética, dano indireto causado. Controlá-la é desafiador devido ao seu alojamento, preferencialmente, na face abaxial das folhas, resistência a inseticidas, reprodução rápida e adaptação a várias condições. Os ovos são preferencialmente depositados no terço superior das plantas na face abaxial pelos adultos, enquanto as ninfas se desenvolvem no terço médio na face abaxial das folhas, tornando o controle mais complexo.

O principal método para controlar a mosca-branca atualmente é o uso de inseticidas com ênfase principalmente nos adultos, o que pode explicar a baixa eficácia no controle em muitos casos. Além disso, a aplicação de produtos fitossanitários em toda a área com pulverizadores convencionais dificulta a cobertura na parte abaxial das folhas, muitas vezes resultando em doses insuficientes. Isso leva a uma redução na eficácia do controle e favorece a seleção de indivíduos resistentes aos inseticidas. Portanto, é essencial adotar estratégias e tecnologias mais adequadas para melhorar a eficiência das aplicações e controlar a mosca-branca de maneira mais eficaz.

A tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários desempenha um papel fundamental na agricultura, incluindo a cultura da soja. Ela se baseia em conhecimentos científicos para garantir que os produtos sejam aplicados corretamente no alvo, na quantidade necessária, no momento certo, de forma econômica e com o mínimo de contaminação em áreas não alvo. Para obter sucesso nas aplicações, é crucial considerar diversos fatores, como o conhecimento da cultura, do alvo, do produto, do equipamento de pulverização adequado e das condições meteorológicas.

Aplicação com assistência de ar e eletrostática aumenta a eficiência na entrega do produto no lugar correto
Aplicação com assistência de ar e eletrostática aumenta a eficiência na entrega do produto no lugar correto

Gotas carregadas eletricamente

Gotas pequenas, com menos de 100 µm, são eficazes para o controle fitossanitário, garantindo boa cobertura do alvo. Recomendadas para fungicidas e inseticidas de contato, essas gotas precisam de energia extra para alcançar efetivamente o alvo, pois são suscetíveis ao vento e à evaporação. A eletrificação das gotas finas e muito finas com carga adequada melhora seu movimento, incluindo contra a gravidade, e aumenta o depósito da calda, especialmente na face inferior das folhas. A pesquisa sobre gotas eletrificadas cresceu após o sucesso do pulverizador "Electrodyn" de Coffee em 1981 e atualmente é usada em uma variedade de equipamentos, incluindo pulverizadores semiestacionários, tracionados e automotrizes com barras equipadas com essa tecnologia, além de aeronaves agrícolas.

Mais recente, essa tecnologia envolve o uso de gotas formadas por pontas de energia hidráulica (pressurização), com a eletrificação ocorrendo após a formação das gotas pelo pulverizador. Nesse caso, a eletrificação tem o propósito de atrair as gotas para a superfície das plantas e vice-versa. Esse processo é baseado em duas leis básicas da eletrostática: a atração de cargas de polaridades opostas e a repulsão entre cargas da mesma polaridade. A eletrização de gotas próximas a plantas aterradas cria linhas de fluxo, semelhantes aos polos de um ímã, fazendo com que as gotas se movam ao longo dessas linhas e atinjam todos os lados das plantas, incluindo a face abaxial das folhas, onde a mosca-branca costuma se alojar preferencialmente.

Existem diferentes processos de eletrificação de gotas, incluindo eletrificação por efeito corona, indução com eletrificação direta e indução com eletrificação indireta. Atualmente, o método mais comum é a eletrificação de gotas por indução indireta. Nesse processo, a calda fitossanitária permanece aterrada (com voltagem igual a zero), e as gotas adquirem carga em um campo eletrostático intenso formado entre um eletrodo de alta voltagem e o jato de gotas na região da borda do jato, onde as gotas se formam. Uma vantagem desse sistema é que o líquido no tanque de pulverização e as tubulações não são eletrificados. No entanto, as gotas adquirem uma carga oposta à do eletrodo de indução e podem ser atraídas por ele, o que pode levar ao molhamento do eletrodo e ao colapso do sistema de eletrificação. Para solucionar esse problema, foram desenvolvidos bicos que utilizam corrente de ar para afastar as gotas carregadas do eletrodo, evitando o molhamento indesejado.

O sucesso da pulverização eletrostática depende da tecnologia que permite a formação de gotas com diâmetros entre 30 µm e 80 µm e uma intensidade de carga superior a 4 microampères por mililitro de calda pulverizada por segundo. Quando essas condições são atendidas, a pulverização eletrostática oferece o benefício direto de aumentar a eficiência no controle de pragas e doenças. No entanto, para que a tecnologia funcione efetivamente em culturas com alta densidade de folhas, como a soja em estágios reprodutivos, é necessário o uso de jatos de ar (assistência de ar) para auxiliar no transporte das gotas carregadas para o interior do dossel das plantas. Isso garante que a eficácia da tecnologia se estenda ao dossel da cultura.

A pulverização com assistência de ar

A tecnologia de pulverizadores assistidos por ar nas barras horizontais é empregada no tratamento fitossanitário de culturas perenes arbóreas desde a década de 1930 e em culturas anuais. Esses pulverizadores possuem ventiladores posicionados perto da seção central da barra e acima dos bicos de pulverização, para culturas anuais. No entanto, à medida que a distância entre o ventilador e a extremidade da barra aumenta, é necessário reduzir a seção do ducto para compensar a diminuição da velocidade do ar. Isso resulta na saída do ar em forma de "cortina de ar".

A assistência de ar através da cortina de ar é uma ferramenta importante na tecnologia de pulverização, pois melhora a penetração da calda fitossanitária no dossel da cultura, principalmente nos terços médio e inferior das plantas. Isso ocorre porque o fluxo de ar movimenta as folhas do dossel, criando espaços entre elas. Essa técnica contribui para reduzir perdas de produtividade causadas por problemas fitossanitários, como insetos, doenças e plantas daninhas. No entanto, o sucesso da assistência de ar depende de vários fatores, como a espécie cultivada, o estágio de desenvolvimento das plantas, o índice de área foliar, o nível de infestação da praga, a localização do alvo, o tamanho das gotas, as condições de vento e umidade e a cobertura de pulverização desejada.

O estudo realizado com alta densidade de folhas nas plantas, como o caso de brócolis, mostrou que a eficiência pode ser muito elevada se as gotas carregadas eletricamente forem transportadas por assistência de ar para o interior do dossel da cultura. No estudo, o pulverizador assistido de ar associado à eletrificação das gotas promoveu depósito 72% maior, quando comparado à pulverização convencional, e deposição 49% maior em relação à assistida por ar sem carga elétrica nas gotas.

Direto no alvo

O uso de pulverização assistida de ar associada à eletrificação das gotas, desde que estejam sendo usados adequadamente para determinada situação, pensando na espécie cultivada, no desenvolvimento e arquitetura da planta, no índice de área foliar e no alvo em questão, pode promover redução de deriva, maior penetração e uniformidade na distribuição das aplicações, menor efeito do vento ambiente durante as aplicações, consequentemente, maior eficiência de controle e redução da contaminação ambiental.

Por Gabriela Pelegrini, Felipe Feliz Rodrigues e Marcelo da Costa Ferreira, FCAV - Unesp. Artigo publicado na edição 242 da Revista Cultivar Máquinas

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