Frutos enegrecidos: manejo da podridão-preta-do-fruto do maracujá
Causada pelo fungo Lasiodiplodia theobromae a podridão-preta-do-fruto em maracujazeiro favorece a ocorrência de problemas pós-colheita
A cana-de-açúcar é afetada por diversas pragas desde sua implantação até a reforma. Dentre as que ganharam importância nos últimos anos está Sphenophorus levis Vaurie, 1978 (Coleoptera: Curculionidae), considerado fator limitante para essa cultura, devido aos prejuízos que causa e às dificuldades de controle (Almeida, 2005; Dinardo-Miranda, 2008).
Os primeiros relatos de incidência dessa praga datam do final da década de 1970 na região de Piracicaba, São Paulo (Precetti e Arrigoni, 1990), mas, atualmente, esse inseto é encontrado nas principais regiões produtoras de cana-de-açúcar de São Paulo, Paraná e Minas Gerais (Dinardo-Miranda, 2008).
As larvas de S. levis são as responsáveis pelos danos pois, ao se alimentarem, escavam galerias e danificam os tecidos no interior dos rizomas nas bases dos perfilhos ou colmos da cana, causando a morte das plantas, falhas nas brotações das soqueiras e redução da longevidade dos canaviais. Estes sintomas são mais facilmente visualizados na época seca do ano (junho a agosto), quando são encontradas as maiores populações de larvas (Figuras 1 e 2). Em algumas áreas críticas, o ataque da praga se dá de forma tão intensa que o canavial é reformado logo após o primeiro corte (Dinardo-Miranda, 2008). Precetti e Arigoni (1990) relataram essa praga como responsável por causar a morte de 50% a 60% dos perfilhos ainda na fase de cana-planta, com cinco a sete meses de crescimento. Terán e Precetti (1982) reportaram o potencial de dano de S. levis em cana-de-açúcar com perdas anuais que podem atingir 20 toneladas de cana por hectare a 30 toneladas de cana por hectare.
Nos últimos anos tem ocorrido registros de novas áreas infestadas, que podem estar relacionados à dispersão dessa praga junto às mudas retiradas de locais infestados, já que a capacidade de dispersão desse inseto é pequena (Precetti e Arrigoni, 1990). Além de novas áreas infestadas, também ocorreram incrementos nas populações da praga em áreas onde ela já estava presente, em virtude de dificuldades de controle e a mudança do sistema de colheita para cana crua. Com a adoção do sistema colheita da cana crua em larga escala, as populações da praga aumentaram drástica e rapidamente, pois, quando a cana era colhida queimada, muitos adultos da praga morriam por causa do fogo. Com a colheita da cana crua, além de não haver a morte dos adultos pelo fogo, a palha lhes serve de abrigo (Dinardo-Miranda e Fracasso, 2013).
Diversas são as medidas de controle que podem ser tomadas em áreas infestadas. Devem ser adotadas em conjunto, pois, nenhuma delas, isolada, é altamente eficiente. O controle começa com o preparo da área antiga para plantio, através da destruição mecânica da soqueira infestada, por meio de gradagens, aração ou pelo uso de implementos específicos para a destruição de soqueiras, que deve ser realizada, de preferência, no período mais seco do ano, época em que grande parte da população se encontra na fase de larva. Juntamente com a destruição mecânica da soqueira infestada, é imprescindível a aplicação de inseticidas no sulco de plantio e, em alguns casos, na soqueira, utilizando implemento que corta a linha de cana e deposita o inseticida em seu interior. Vale ressaltar que ainda há muito a ser estudado e, nas melhores condições, a eficiência do controle químico chega, no máximo, de 70% a 80%. Adicionalmente a todas as medidas de controle também se recomenda dar atenção ao uso de mudas sadias no plantio, provenientes de viveiros que se encontrem livres da praga.
O sucesso das estratégias de controle para uma praga pode ser atribuído a diversos fatores, mas certamente o conhecimento da situação em que o inseto se encontra nas áreas cultivadas, através de monitoramentos e amostragens, é um dos aspectos fundamentais não só para a determinação do momento de controle da praga, mas também para avaliar se a estratégia de combate adotada está trazendo resultados eficazes.
O levantamento populacional de S. levis pode ser feito por meio da avaliação da presença de formas imaturas da praga e dos danos que causam. Geralmente, tanto usinas como fornecedores usam metodologia que consiste na abertura de trincheiras de 50cm de largura x 50cm de comprimento e 30cm de profundidade, feitas nas linhas de cana, à razão de 2 por hectare. Essa amostragem é feita nas áreas de reforma e é utilizada para estimar as populações de todas as pragas de solo, não só de S. levis.
Nos últimos anos, o Centro de Cana-de-açúcar do Instituto Agronômico (IAC) e a FCAV/Unesp conduziram uma série de estudos a fim de se conhecer melhor o comportamento e a flutuação populacional de S. levis em cana-de-açúcar e, através disso, sugerir novos métodos de amostragem e monitoramento para as condições atuais de cultivo de cana, contribuindo para o programa de manejo integrado para essa praga.
Resultados dos estudos mostram que as formas biológicas do inseto podem ser encontradas durante todo o ano em canaviais e que o atual sistema de monitoramento realizado com dois pontos por hectare é pouco preciso para se estimar a população da praga. Os dados dos trabalhos realizados sugerem que seis pontos de amostragem por hectare seria o indicado para estimar a presença do inseto na maioria das situações. A amostragem deve ser realizada, preferencialmente, na época mais seca do ano (abril a setembro) logo após a colheita ou antes da reforma do canavial. Em cada ponto de amostragem deve ser retirada a touceira em 50cm da linha de cana, com o auxílio de um enxadão, e todo o material vegetal da touceira deve ser vistoriado à procura de formas imaturas do inseto (larvas e pupas) e dos danos (Figura 3). Os danos são expressos em porcentagem de rizomas atacados e, para isso, contam-se os rizomas totais e os rizomas danificados na touceira, que são utilizados no cálculo do dano [Dano = nº rizomas danificados/nº total de rizomas)*100].
Em certas épocas do ano, as populações do inseto são mais baixas e, por causa disso, os danos causados pela praga são um parâmetro mais confiável para a realização das amostragens, visto que, mesmo não se encontrando as formas biológicas do inseto no campo, o dano está presente; a presença do dano atesta a ocorrência do inseto.
Figura 3 - Esquema da amostragem por trincheira
Os adultos de S. levis também podem ser monitorados por meio da instalação de iscas tóxicas dispostas na base das touceiras. Tais iscas são confeccionadas com toletes de cana de 30cm rachados ao meio e embebidos em solução de inseticida com melaço. A época de utilização vai de outubro a março, que coincide com a maior ocorrência de adultos no campo. As iscas devem ser dispostas no campo em número de 100 por hectare e avaliadas após 15 dias, para a contagem dos adultos presentes (Figura 4). A técnica foi muito utilizada no final dos anos 80 e início dos anos 90. O objetivo principal era atrair adultos para o monitoramento das populações, mas tornou-se inviável pelo alto custo e grande demanda de mão de obra. Atualmente, este levantamento é indicado em áreas de viveiro para prevenir a liberação de mudas infestadas com S. levis, consideradas a principal forma de disseminação da praga (Precetti e Arrigoni, 1990; Dinardo-Miranda, 2008).
Figura 4 - Esquema de amostragem por iscas tóxicas
Por fim, além de uma correta amostragem e monitoramento da população da praga no campo, a tomada de decisão na adoção de táticas de controle deve também levar em consideração o estádio de desenvolvimento da cultura, o tamanho da área, as condições climáticas e a oferta de equipamentos e mão de obra, pois qualquer problema decorrente de um desses fatores pode levar ao insucesso na adoção das medidas de controle, podendo contribuir para o aumento dos danos causados por essa praga.
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