Efeito acelerador

Aumentar a velocidade de germinação, melhorar a uniformidade das plântulas e a porcentagem germinativa são alguns dos objetivos perseguidos na adoção do condicionamento osmótico de sementes de hortaliç

20.05.2016 | 20:59 (UTC -3)

A produção de sementes de alta qualidade é um dos principais desafios para os produtores de sementes. O estabelecimento rápido e uniforme das plântulas no campo é um pré-requisito fundamental para se atingir um bom estande e alcançar garantia da produtividade e qualidade do produto colhido. O desempenho das sementes após a semeadura é determinado principalmente pela sua qualidade fisiológica e sanitária, que irá determinar o estabelecimento adequado das plantas em campo ou em viveiro, aspecto fundamental para que sejam atingidos níveis satisfatórios de produtividade e de qualidade final do produto.

Para atender estes requisitos do produtor de hortaliças, diversas empresas vêm oferecendo sementes com características extras, sementes com alto vigor, boa sanidade, peletizadas, osmoticamente condicionadas, peliculizadas etc. Isto pode diferenciar o produto da companhia de semente, como também oferece vantagens na germinação e estabelecimento do cultivo.

Um dos principais problemas para o uso de sementes de várias espécies vegetais é a falta de uniformidade na germinação, pois dentro de um mesmo lote de sementes, no processo de hidratação, encontram-se indivíduos de diferentes fases da curva de embebição, originando uma germinação heterogênea. Nesse sentido, o atraso na emergência das plântulas pode reduzir a uniformidade das plantas por ocasião da colheita e a produção. A obtenção de uma população adequada e uniforme de plantas em campo é um dos principais fatores determinantes da qualidade final do produto olerícola. Os efeitos do vigor de sementes no estabelecimento do estande podem ser especialmente críticos para culturas que requerem distribuição espacial de plantas para maximizar seu rendimento como alface, repolho, cebola e couve-flor.

Para melhorar essa situação, a técnica de condicionamento osmótico vem sendo utilizada, principalmente em sementes de hortaliças e flores, com o objetivo de aumentar a velocidade de germinação, melhorar a uniformidade das plântulas e em alguns casos aumentar a porcentagem de germinação.

Durante o condicionamento osmótico, as sementes são submetidas a uma pré-embebição em água ou em uma solução de potencial osmótico conhecido, durante intervalos de tempo e temperaturas determinados, permitindo o controle da oferta hídrica, ou seja, consiste de uma hidratação controlada das sementes, a fim de promover atividades pré-metabólicas, sem a emissão da raiz primária. Após, as sementes podem sofrer secagem ou serem imediatamente utilizadas. Desta maneira, ao final do condicionamento todas as sementes estariam na mesma fase da curva de embebição, sem atingir a fase de protrusão da radícula (fase III).

Há relatos divergentes sobre os efeitos do condicionamento osmótico na porcentagem e velocidade de germinação. Alguns autores reportaram que o principal efeito deste tipo de tratamento é aumentar a porcentagem de germinação. Outros mencionam que o sucesso do condicionamento osmótico depende, dentre outros fatores, da qualidade inicial do lote. Em geral, lotes de alta qualidade fisiológica não respondem satisfatoriamente ao tratamento. Entretanto, o condicionamento osmótico tem revigorado lotes de sementes de baixa qualidade fisiológica de algumas espécies. Em um lote de sementes de repolho de baixa qualidade fisiológica, que inicialmente possuía 71% de germinação, atingiu 82% de germinação quando as sementes foram condicionadas por seis dias sem secagem, valor este que está acima do padrão mínimo de germinação estabelecido para a comercialização das sementes de repolho que é de 80%.

Vários estudos demonstram que o condicionamento fisiológico melhora o desempenho de sementes de diferentes espécies, como: berinjela (Solanummelongena), couve-flor (Brassicaoleracea), aspargo (Asparagusofficinalis L.), cenoura, tomate (Lycopersicun esculentum L.), alface (Lactuca sativa L.), pepino (Cucumis sativus) e pimentão.

O aumento da velocidade de germinação proporcionado pelo osmocondicionamento já foi verificado, também, para sementes como melão, alface e salsa. Em sementes de abóbora “brasileirinha” osmocondicionadas a germinação foi mais rápida quando comparadas com aquelas não condicionadas. Em sementes de cenoura é possível melhorar a germinação por meio do condicionamento com PEG 6000, pelo método de solução aerada. Porém, em sementes de couve-flor, cultivar Sharon, não houve efeito do condicionamento fisiológico sobre a porcentagem de germinação.

Sementes de couve flor osmocondicionadas apresentaram resultados superiores de emergência de plântulas quando as sementes eram de lotes com menor potencial fisiológico. Sementes de cenoura osmocondicionadas apresentaram maior emergência de plântulas em campo em todos os lotes testados. Essa situação é vantajosa porque acarreta menor período de exposição das sementes a fatores adversos de ambiente após a semeadura.

Sementes de repolho de alta qualidade fisiológica submetidas ao condicionamento osmótico por seis dias, seguido ou não de secagem, originaram plântulas com maior comprimento, ou seja, mais vigorosas. Entretanto, efeitos positivos do condicionamento osmótico na germinação e vigor das sementes foram mais evidentes em lotes de menor qualidade fisiológica, aumentando os valores de primeira contagem em, aproximadamente, 20%. Em relação ao comprimento de radícula, observa-se efeito negativo do condicionamento osmótico nesta característica, ou seja, na maioria dos tratamentos houve redução do comprimento da radícula. A secagem das sementes após o condicionamento osmótico pode diminuir os efeitos benéficos do osmocondicionamento em sementes de repolho.

Os efeitos benéficos do osmocondicionamento podem ser atribuídos ao reparo das membranas, aumento da síntese de proteínas e mobilização mais eficiente de açúcares e proteínas. Entretanto, as sementes atingem elevados teores de água ao final do osmocondicionamento, o que é inadequado para a conservação do potencial fisiológico durante o armazenamento.

Sendo assim, uma etapa importante após o condicionamento fisiológico é a secagem, uma vez que as técnicas utilizadas com a finalidade de diminuir o teor de água das sementes podem reverter os efeitos benéficos do condicionamento e diminuir o potencial de armazenamento das sementes. A secagem teria como intuito interromper os processos metabólicos que originaria a emissão da raiz primária, mas ao serem colocadas em condições favoráveis à germinação, esta se originaria de forma mais rápida e uniforme.

Existem controvérsias relacionadas ao efeito da secagem logo após o condicionamento osmótico. Em alguns estudos, a secagem reverteu os efeitos benéficos do osmocondicionamento, mas em alguns os resultados foram favoráveis. As respostas de sementes condicionadas parecem ser específicas para cada espécie e dependem das condições de secagem.

O vigor de sementes de berinjela secadas e não secadas após o osmocondicionamento, onde os valores de comprimento de parte aérea e matéria seca das plântulas, foi maior no lote com maior qualidade fisiológica, independentemente da secagem. O comprimento de hipocótilo e raiz de plântulas de pepino foi reduzido com o condicionamento das sementes em PEG 6000 no potencial de -1,2MPa, sem posterior secagem das sementes, quando comparado à testemunha não condicionada.

Em síntese, é possível concluir que a técnica de condicionamento fisiológico de sementes é uma ferramenta útil e passível de aplicação prática para a indústria de sementes de hortaliças, possibilitando o fornecimento aos produtores de lotes de sementes com nível de desempenho fisiológico uniforme, oportunizando, assim, que se obtenham padrões de produção mais homogêneos, agregando valor e qualidade aos produtos ofertados aos consumidores.

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