“Gigante” minúsculo

Com comprimento superior a um centímetro na fase adulta, o nematoide Tubixaba tuxaua é parasita em culturas como soja, trigo, algodão e milho

18.05.2016 | 20:59 (UTC -3)

Os termos Tubixaba e Tuxaua são sinônimos de Morubixaba, cuja tradução de dialeto indígena para o português é patrão, chefe, cacique, significando o cacique dos caciques ou chefe dos chefes. Certamente, o nome escolhido teve como inspiração as dimensões do corpo de nematoides adultos, em especial o seu comprimento, que pode ser superior a um centímetro.

O nematoide Tubixaba tuxaua (Aporcelaimidae) teve o seu primeiro relato na década de 80, quando descrito em associação à rizosfera de plantas de soja cultivar Bragg com sintoma de nanismo. Por ser diferente dos demais nematoides fitoparasitas, T. tuxaua foi considerado, à época de sua descrição, um parasita potencial da soja e do trigo.

Além dessas culturas, T. tuxaua afeta culturas como milho, algodão e mandioca, além de plantas de cobertura de verão como Dolichos lab-lab (labelabe), Crotalaria juncea (crotalária), Mucuna aterrima (mucuna preta), Mucuna deeringiana (mucuna anã), Canavalia ensiformis (feijão de porco) e plantas de cobertura de inverno como Lupinus albus (tremoço branco), Lathyrus clymenum (ervilhaca forrageira), Vicia villosa (ervilhaca peluda), Pisum sativum var. arvense cultivar Iapar 83 (ervilhaca comum) e Avena strigosa (aveia preta).

O amplo círculo de hospedeiras de T. tuxaua é um indicativo de que este nematoide apresenta um hábito alimentar pouco especializado, com um odontoestilete curto e largo, característico de nematoides onívoros. Nematoides onívoros obtêm seu alimento de diferentes fontes, incluindo pelos radiculares, mas são diferenciados dos fitoparasitas por não se alimentarem de raízes de plantas superiores.

Certamente T. tuxaua se adaptou à convivência com plantas cultivadas pelo homem e desenvolveu a capacidade de sugar em suas raízes. Esta hipótese é sustentada pela constante associação deste nematóide com plantas cultivadas que apresentam, entre outros sintomas, nanismo acentuado e também por ensaios realizados em condição controlada envolvendo a inoculação do nematoide em plantas cultivadas em vasos.

Durante a sua alimentação, T. tuxaua insere o seu curto estilete superficialmente em tecidos das raízes, alimentando-se de células individuais e levando-as à morte. Após sugar o conteúdo celular, o nematoide migra para outro local da raiz iniciando um novo processo de alimentação. Um número superior a 100 T. tuxaua pode ser encontrado junto à rizosfera de plantas cultivadas em áreas infestadas. No entanto, poucos nematoides (20 nematoides/raiz de planta) podem causar sintomas visíveis em campo.

Tendo em vista o manejo cultural de T. tuxaua, apenas Raphanus sativus var. oleiferus (nabo forrageiro) tem apresentado bom desenvolvimento e contribuído para a redução populacional do nematóide quando cultivado em áreas infestadas. No entanto, novas pesquisas necessitam ser realizadas no sentido de se descobrir outras plantas com potencial para uso em rotação.

O alqueive com revolvimento do solo (aração) também pode ser adotado como método de controle em áreas infestadas, contribuindo para a exposição do nematoide à luz solar e para a remoção de alimento (ausência de plantas cultivadas e de plantas daninhas).

Como fêmeas de T. tuxaua apresentam ciclo de vida longo (superior a seis meses) e baixa taxa de oviposição, as populações levam mais tempo para atingirem níveis populacionais elevados em campo. Portanto, táticas de manejo envolvendo a escassez de alimento ao nematoide podem contribuir para a redução populacional em campo.

A presença de T. tuxaua em diferentes municípios do oeste paranaense é um indicativo de que este nematoide encontra-se disseminado nesta região. No entanto, danos à cultura da soja têm sido também atribuídos a nematoides do gênero Tubixaba nos estados do Maranhão e Tocantins. No entanto, a confirmação da identidade dessas espécies ainda carece de futuros estudos.


Este artigo foi publicado na edição 185 da revista Cultivar Grandes Culturas. Clique aqui para ler a edição.

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