Colheita invadida: prejuízos causados por infestação de plantas daninhas tardias em lavouras de milho

Infestação de plantas daninhas tardias em lavouras de milho pode ser um grande problema na hora da colheita, dificultando o trabalho da colhedora e aumentando a quantidade de produto perdido na operação

19.05.2016 | 20:59 (UTC -3)

No Brasil observa-se um rápido crescimento da cultura do milho, especialmente daquele plantando na safrinha. Este crescimento se dá tanto em área cultivada quanto em produtividade. No exercício da safra 2011/2012, a produção brasileira de milho contando a primeira e segunda safrasatingiu 72,9 milhões de toneladas, com produtividade média nacional de 4,48 t/ha na primeira safra. Dados da CONAB/2012, revelam que na região Centro-oeste houve um aumento expressivo de área cultivada, em torno de 40,25% em relação a safra anterior, atingindo uma produtividade média de 7,67 t/ha.O aumento no cultivo deste cereal se deve principalmente aalta na demanda pelo consumo e a diversidade de produtos empregados na suplementação animal e humana.

O cultivo do milhoenvolve vários processos que levam ao sucesso na rentabilidade final da lavoura. Dentre estes processos,a colheita destaca-se como um dos mais importantes na cultura. Durante a colheita a ocorrência de perdas se dá, principalmente devido ao mau uso e regulagem inadequada da máquina, bem como outros fatores, como: condições ambientais, preparo inadequado do solo, época incorreta de semeadura, espaçamento e densidade de plantas, cultivares não adaptadas, infestação de plantas daninhas, teor de umidade dos grãos,idade e estado de conservação da máquina e falta de treinamento dos operadores.

No Brasil estima-se que as perdas de grãos por interferência de plantas daninhas ficam em torno de 20 a 30%. Nessas culturas, essas plantas podem proporcionar aumento no teor de água dos grãos, diminuindo-lhes seu valor comercial, e consequentemente influenciando no aumento do índice de perdas no momento da colheita. A sua presença na lavoura, exige a adoção de práticas minuciosas de controle, diminuindo o rendimento da operação de colheita, aumentando o custo de produção e, por conseguinte, diminuindo a eficiência agrícola.

A corda de viola (Ipomoeasp.) é uma planta anual, herbácea, trepadeira, de caules com densa pilosidade, germina, emerge e cresce podendo chegar até 3 metros de comprimento. Esta planta não chega a acarretar perdas na produção se incidir na cultura após o período crítico de competição, mas a sua alta população pode inviabilizar a operação de colheita, provocando embuchamento, arrastamento e tombamento da cultura, e posteriormente desgaste dos componentes da plataforma de corte, além de afetar o rendimento final da cultura trazendo prejuízos ao produtor.

Na colheita mecanizada é comum a ocorrência de perdas, sendo aceitáveis até o limite de 0,8 sc/ha. A rentabilidade final pela atividade está diretamente associada à redução máxima dessas perdas.Recente estudo sobre este problema, realizado na região sudeste do Estado de Goiás, quantificou as perdas originadas pela infestação da corda-de-viola. Os resultados mostraram que o problema é de grande relevância ao produtor pois levam a uma drástica queda na produtividade da cultura.

No estudo realizado foi acompanhada a colheita de um híbrido de alto nível tecnológico, destinado a produção de grãos de ciclo médio, com densidade de semeadura variando de 60 a 65 mil plantas por hectare. O plantio foi realizado na primeira quinzena de novembro de 2011, utilizando o sistema de plantio direto, com semadora-adubadora regulada para distribuir 2,9 sementes por metro linear, com espaçamento de 0,45 m entre fileiras. Foram aplicados no sulco de semeadura 400 kg/ha da fórmula 08-20-18 (N-P-K), e a adubação de cobertura com 200 kg/ha de ureia,realizadas nas fases de desenvolvimento V3 e V4. A colhedora utilizada, foi uma máquina derotorAxial, com plataforma de 13 linhas e espaçamento de 0,45m. A velocidade de trabalho adotada foi de 4 km/h.

Foram coletadas amostras constituídas de cinco repetições para os tratamentos com e sem a presença de corda de viola, cada repetição com distância de 50 metros entre elas. Cada bloco foi representado pela repetição, realizada em áreas distintas no campo, representando o total da área cultivada de 60 ha. A quantificação das perdas de grãos em espigas, foi realizadapor meio da colocação no solo, logo após a passagem da colhedora, de uma armação de madeira e barbante com área total correspondente a 30m², onde se coletou apenas as espigas dentro dos limites da armação, sendo em seguida, debulhadas e pesadas. Na quantificação das perdas de grãos soltos foi colocado uma armação de 2m², após a passagem da colhedora, onde se coletou e pesou os grãos caídos no solo, sendo a umidade corrigida para 13%. A perda total foi quantificada por meio da soma das perdas de grãos em espigas com as perdas de grãos soltos no solo.

As perdas ocorridas na área com corda de viola foram superiores àsencontradas na área isenta da planta daninha. Esse aumento esta relacionado ao fato de provocar embuchamento nos componentes da plataforma de corte, e tombamento de plantas, dificultando assim o recolhimento dessas espigas.

As perdas totais encontradas na área sem a infestação da corda de viola foram de 2,4sc/ha, e para a área com infestação foi de 20,3 sc/ha (Gráfico 1), ou seja, a corda de viola apresentou um aumento nas perdas de quase dez vezes a mais do que as áreas sem infestação.

Gráfico 1: Relação das perdas de grãos soltos, perdas de grãos em espigas, e perdas totais em sc/ha na colheita mecanizada de milho safra verão em função da infestação de corda de viola em áreas de cultivo, situadas no município de Ipameri(GO).

As perdas em grãos soltos quantificadas na área com infestação de corda de viola foram de 0,24 sc/ha, e de 0,44 para a área com infestação de corda de viola, ou seja, quase duas vezes a mais do que na área sem infestação.

As médias das perdas encontradas neste trabalho apresentaram índices da ordem de 11,94%, dos quais 97,79% estão localizados na plataforma de corte e 2,21% nos mecanismos internos. O alto índice de perdas na plataforma de corte pode ser devido ao arrastamento e tombamento da cultura, causado pela planta daninha que tem hábito de enrolamento na cultura. Um segundo fator seria a incompatibilidade do número de linhas da plataforma de corte com o número de linhas dasemadora-adubadora, favorecendo assim esse aumento na ocorrência das perdas de grãos em espigas. Afim de reduzir esse problema, torna-se necessário empregar práticas de manejo específica para plantas daninhas que interfiram na colheita mecanizada, visando otimizar a colheita, evitando a sua proliferação, e reduzindo o banco de sementes dessas plantasno solo, possibilitando a produção de milho nas safras seguintes. Dentre essas práticas pode-se empregar por meio da aplicação dirigida de herbicidas nas entrelinhas em caráter complementar, tendo como objetivo principal de melhorar as condições de colheita, ajudando o controle das chamadas plantas daninhas tardias. Esses herbicidas são aplicados nas entrelinhas do milho, de forma que o jato do pulverizador atinja somente as folhas baixeiras e não atinja as folhas superiores do milho, essas plantas devem estarcom altura mínima de 40 a 50 cm.

A corda de viola aumenta drasticamente as perdas na colheita mecanizada do milho. Recomenda-se o manejo destas plantas a fim de se evitar maiores prejuízos tanto no rendimento da cultura como na redução do desgaste da colhedora.

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