Antes da compra: como escolher o pulverizador agrícola correto?
Por Fabiano Griesang, especialista de produto da Jacto
O arroz é alimento básico para mais de 2,4 bilhões de pessoas no mundo, representando importante papel, tanto econômico, social e também nutricional. O Brasil está entre os maiores produtores mundiais de arroz, com uma produção anual na safra 2022/23 superior a 10 milhões de toneladas. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), na safra 2022/23, a área plantada foi de 1.479.600 hectares (ha), e a produtividade média de 6.781 kg/ha. Maior parte da área plantada ocorre no ecossistema de várzeas, em que a cultura é irrigada, sendo responsável por cerca de 75% da produção nacional.
Tanto no sistema irrigado, como também nos cultivos em terras altas, as plantas são atacadas por doenças que podem infectar os diferentes tecidos, em todas as fases de desenvolvimento, reduzindo a produtividade da cultura e afetando a qualidade dos grãos. Entre os patógenos que podem atacar as plantas de arroz, temos principalmente os fungos, bactérias, nematoides e vírus. Desses, os fungos são considerados os mais importantes, devido a causarem maiores perdas, e também devido à dificuldade de controle, alta incidência e agressividade, infectando todas as cultivares, em maior ou menor grau de severidade, dependendo diretamente do grau de resistência genética, manejo adotado e das condições climáticas da região. A brusone é considerada a doença mais preocupante, seguida da queima das bainhas.
A brusone é considerada a principal doença do arroz em todo mundo, causada pelo fungo Pyricularia grisea, o qual, nas plantas de arroz, é encontrado na fase mitospórica ou assexuada, podendo provocar perda total da lavoura, devido aos danos nas folhas e nas panículas. A disseminação do patógeno ocorre por conídios (Figura 1a), formados sob molhamento foliar, nos tecidos infectados das plantas de arroz (Figura 1b), plantas daninhas hospedeiros alternativos ou em restos culturais.
Normalmente, os conídios formados nas lesões são levados pelo vento, de uma área para outra. Isso é um fator importante para a infecção de novas plantas dentro da mesma lavoura e para lavouras de arroz próximas de uma área infectada. Como o fungo P. grisea também é comprovadamente disseminado por sementes, esta pode ser uma via importante de disseminação a longas distâncias, incluindo municípios, estados ou até entre países.
Em ambientes agrícolas, as epidemias de brusone apresentam vários ciclos e a taxa de aumento da doença é influenciada diretamente pelo manejo, resistência e pelas condições climáticas. Sendo que, em regiões de clima mais frio, como é o caso da maioria das áreas plantadas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, as epidemias de brusone podem apresentar entre 6 a 8 ciclos de doença por período de cultivo; enquanto que nas regiões tropicais, como é o caso do Tocantins, é possível ocorrer de 10 a 15 ciclos de doença por cultivo. A brusone pode ocorrer nas plantas logo após a emergência, no estádio de plântula até a fase de maturação dos grãos, pouco antes da colheita. Os sintomas nas folhas iniciam-se com a formação de pequenas lesões necróticas, de coloração marrom, que aumentam de tamanho, tornando-se elípticas, com margem marrom e centro cinza ou esbranquiçado (Figura 2).
Quando a doença ocorre de forma severa, em cultivares suscetíveis, sob condições favoráveis (baixa luminosidade, alta umidade, molhamento foliar etc.), as lesões coalescem rapidamente, causando a morte das folhas e, frequentemente, da planta inteira em extensas áreas da lavoura (Figura 3A, B, C).
Os danos causados pela brusone nas panículas são significativos, devido ao seu efeito no enchimento de grãos. Quando a infecção ocorre logo após a floração, a panícula fica esbranquiçada e sem encher os grãos, ou seja, toda a produção e qualidade de grãos ficam comprometidos (Figura 4).
O controle sustentável da doença requer manejo, integrando várias medidas, como resistência genética, uso de sementes sadias, tratos culturais, controle com fungicidas e biológico, os quais, separadamente, não são eficientes, mas quando adotados em conjunto aumentam a sua eficácia. Entre as medidas a serem adotadas mais importantes, pode-se citar: uso de sementes sadias e tratadas com fungicidas sistêmicos; plantio de cultivares resistentes e em rotação; adubação nitrogenada equilibrada; controle de plantas invasoras hospedeiras alternativas de P. grisea; evitar stress hídrico; tratamento de sementes com cepas eficientes do fungo Trichoderma ou de bactérias Bacillus; controle com fungicidas sistêmicos e de contato, aplicados nas folhas e no período reprodutivo das plantas de arroz, cuja frequência de aplicação vai depender diretamente da resistência do cultivar e das condições climáticas verificadas na região de cultivo (chuva, temperatura, molhamento foliar, luminosidade etc.). Após a colheita, é muito importante a incorporação de restos culturais infectados e destruição de plantas hospedeiras alternativas de P. grisea, pois o patógeno, nessas condições, sob o solo, não sobrevive por muito tempo, devido à ação de microrganismos antagonistas, como Trichoderma spp., Bacillus spp.
A queima das bainhas é uma das mais importantes doenças do arroz no Brasil, causada pelo fungo necrotrófico Rhizoctonia solani Kühn. O fungo pertence à classe dos Basiodiomicetos, forma hifas ramificadas em ângulo de aproximadamente 90º, com constrição na base da ramificação (Figura 5) septos próximos à inserção da hifa lateral.
A doença ocorre em áreas de várzeas e também em terras altas, em maior ou menor grau de severidade, dependendo da resistência dos cultivares e do manejo. Os danos que provoca nas plantas afetam a produtividade e a qualidade de grãos e os sintomas ocorrem, geralmente, nas bainhas, colmos e nas folhas, com lesões encharcadas e bordas marrons (Figura 6).
O patógeno R. solani ataca, além do arroz, uma ampla gama de plantas hospedeiras de diferentes famílias, que dificulta o seu controle por meio da rotação de culturas. O fungo é considerado habitante do solo e pode sobreviver por anos na ausência do arroz, em restos culturais, plantas cultivadas, plantas daninhas diversas, ou na forma de escleródios, que são estruturas de resistência disseminados durante as práticas culturais, como por exemplo na aração e gradagem do solo e também pelo movimento da água de irrigação. R. solani também pode ser disseminado por sementes, nas camadas internas, ou os escleródios podem estar misturados entre as sementes. Neste caso, após a emergência, pode haver o tombamento da plântula ou, mais tarde, o desenvolvimento das lesões ocorrerá à medida em que aumenta o adensamento das plantas, entre o perfilhamento e o início do florescimento. Os maiores prejuízos causados pela doença são verificados sob alta severidade da infecção nos colmos e bainhas, resultando no acamamento das plantas e na esterilidade das espiguetas, afetando diretamente a produtividade e a qualidade dos grãos. As condições propícias à queima das bainhas são alta umidade relativa do ar, temperatura entre 25 a 35 ºC, baixa luminosidade, adubação nitrogenada acima de 90kg de N/ha, solos com histórico de cultivo intenso, com alta densidade de escleródios etc.
Apesar da importância atual da doença, existem poucos trabalhos desenvolvidos no Brasil buscando a identificação de novas fontes de resistência, controle com fungicidas no arroz e controle biológico. No Estado do Tocantins, nas várzeas em que ocorre o cultivo intenso de arroz, em rotação com outras culturas, como soja, melancia, milho, feijão, a queima das bainhas tem aumentado a cada estação de cultivo, devido à multiplicação constante de escleródios de R. solani que serve de inóculo infectivo para o arroz e para outras plantas cultivadas.
A única forma de controlar esta doença é adotando várias medidas, em um programa de manejo integrado, pois uma vez presente no solo, não há como erradicar o patógeno, devido a sua adaptabilidade em sobreviver por meio de estrutura de resistência (escleródio), ou infectando outras famílias de plantas, incluindo plantas daninhas presentes no local. Recomenda-se o uso de sementes de boa procedência, com sanidade e vigor. Também o uso de densidade de semeadura recomendada para cada cultivar, de acordo com a sua capacidade de perfilhamento. E não aplicar mais do que 90 kg de nitrogênio por hectare. A adubação de base com uma fonte de silício ajuda na diminuição da severidade da doença, devido ao fortalecimento da parede celular dos tecidos do caule e folhas.
A rotação do arroz com o milho ou sorgo é preferível, ao invés da soja, devido a esta última, ser hospedeiro altamente suscetível a R. solani e que ajuda na multiplicação rápida dos escleródios no solo. O sistema de plantio direto ajuda no manejo da doença devido à pouca movimentação do solo, reduzindo a disseminação dos escleródios. Com relação ao uso de fontes de resistência, é importante que os programas de melhoramento genético busquem novas fontes de resistência e disponibilizem cultivares demonstrando o grau de severidade à queima das bainhas, de modo que os produtores possam escolher variedades menos suscetíveis.
O uso do controle biológico é uma poderosa ferramenta contra R. solani, principalmente com o fungo Trichoderma ou bactérias dos gêneros Streptomyces e Bacillus. Estes antagonistas também habitam do solo e conseguem sobreviver no mesmo ambiente do patógeno. Nesse caso, é importante que se faça o tratamento de sementes, conforme a dosagem indicada. Também se pode fazer aplicações foliares sequenciais, de acordo com a recomendação do fabricante. No Brasil, praticamente não existe fungicida registrado para o controle da queima das bainhas, no arroz. Porém em países como os Estados Unidos, são relatados fungicidas eficientes no manejo da queima das bainhas, tais como Azoxistrobrina e Propiconazol. No Brasil, estes fungicidas são registrados para o controle de outras doenças na cultura do arroz.
Por Gil Rodrigues dos Santos, Dalmarcia de Souza Carlos Mourão, Maykon Rodrigo Gomes de Barros, Lorena Ribeiro Lima, João Victor de Almeida Oliveira, Ritielle Siqueira Batista, Joele Andressa Zanfra e Paulo Ricardo de Sena Fernandes, Universidade Federal do Tocantins
Artigo publicado na edição 294 da Revista Cultivar Grandes Culturas
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Deivid Sacon, Valéria C. Holtman e César M. de Oliveira (UFV); Maurício Silva Stefanelo e Guilherme Almeida Ohl (Ceres Consultoria Agronômica); Sérgio H. Brommonschenkel (UFV)