Tendências em tecnologia de semeadura
Por Yves Reckleben, professor da Universidade de Ciências Aplicadas de Kiel
Fortes chuvas e longos períodos de estiagem não são novidade para quem trabalha no campo. Lidar com essas intempéries requer planejamento estratégico na busca por produtividade e rendimento das lavouras. Contudo, com as mudanças climáticas, cada vez mais extremas, o obstáculo agora se refere à frequência e à intensidade desses fenômenos da natureza e os impactos que podem causar aos cultivos.
Essa realidade sem precedentes desafia o agronegócio no mundo. No primeiro semestre de 2023, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), que reúne grupo de cientistas estabelecido pela ONU para assessorar toda a ciência global relacionada às mudanças climáticas, alertou para o agravamento da insegurança alimentar e hídrica, mesmo com o aumento da produtividade agrícola. A disponibilidade de água, com reflexo na cultura de grãos, e o volume pluviométrico mal distribuído com secas prolongadas e precipitações rigorosas em curto espaço de tempo estão entre as preocupações mencionadas no relatório.
No Brasil, um levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) mostra que perdemos R$ 287 bilhões da nossa produção agropecuária entre 2013 e 2022, justamente em razão das secas e do excesso de chuvas. Nesse intervalo, o maior prejuízo foi registrado no ano passado, R$ 85 bilhões. O Rio Grande do Sul foi o estado mais prejudicado pela seca em 10 anos, R$ 38,5 bilhões em perdas, e sofreu com as chuvas, R$ 6,04 bilhões em perdas. Neste ano, o estado enfrentou, até setembro, ao menos quatro eventos extremos de chuva, o que levou o governo gaúcho a criar um gabinete de crise climática permanente.
Diante desse cenário, o produtor se pergunta o que fazer para amenizar as consequências de eventos climáticos. Antes de tudo, é importante ter em mente que o enfrentamento a essas intempéries deve ser pautado por ações preventivas e, neste aspecto, o equilíbrio dos nutrientes no solo é essencial. A adoção de boas práticas agrícolas, da rotação de culturas e do uso adequado de nitrogênio tornam o solo mais fértil, resiliente e produtivo.
Neste contexto, a análise de solo é uma ferramenta indispensável para avaliar a saúde do terreno na busca por bons resultados e qualidade das culturas. A análise permite a tomada de decisão desde a seleção de culturas, à aplicação de fertilizantes e até a implementação de práticas de manejo apropriadas. O processo ajuda a determinar quais nutrientes estão em falta na área a ser cultivada e quais estão em excesso, oferecendo uma dosagem exata que irá guiar os próximos passos da lavoura.
Para uma adubação adequada, contudo, é necessária uma correta interpretação desses dados. Além de auxiliar no planejamento para a compra de insumos, a precisão na leitura e interpretação das informações coletadas influencia na recomendação nutricional para a fertilização de diferentes cultivos. A nutrição ideal, no local certo, no tempo adequado e no volume indicado são a chave para alcançar o bom desempenho da cultura, com foco na sustentabilidade e lucratividade.
Em outra frente, também voltada a amenizar as perdas provocadas pelo clima, o uso de biofertilizantes se coloca como alternativa complementar. Um dos benefícios está em conter e superar condições de estresse abiótico e biótico. Na prática, os biofertilizantes atuam no metabolismo das plantas, promovendo melhor absorção e aproveitamento dos recursos do solo.
O mercado de biofertilizantes e de produtos que contém biofertilizantes como um todo, inclusive, está em ascensão. Entre 2019 e 2022, faturou R$ 4,8 bilhões, conforme dados da Abisolo, a Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal. Os resultados de produtividade e de qualidade obtidos a partir da sua utilização, além do efeito auxiliar referente às condições climáticas, tornam o segmento ainda mais promissor na utilização de soluções agrícolas sustentáveis.
Reflexo do comportamento humano na relação com o planeta, as mudanças climáticas há tempos deixaram de ser uma preocupação futura. As consequências sociais, econômicas e ambientais se expandem rapidamente. No agronegócio, o aumento do calor e a mudança nos padrões de chuva afetam a produtividade das safras. Para o produtor, é imprescindível adaptar-se à essa nova realidade, não somente para amenizar perdas, mas, sobretudo, para garantir que o alimento continue a chegar à mesa de todos.
Por João Benetti, diretor comercial Yara Brasil (Regional Sul)
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