Boas práticas agrícolas para o manejo da resistência

Por Bruna Barboza Marchesi, Corteva Agriscience

13.11.2024 | 14:34 (UTC -3)
Fotos: Camila Gamarra
Fotos: Camila Gamarra

A “seleção natural”, termo proposto por Charles Darwin há muitos anos, é o ponto central que explica um dos principais desafios da agricultura moderna: a evolução da resistência de plantas daninhas, insetos e pragas. Existem na natureza alguns indivíduos que são naturalmente tolerantes ou resistentes a determinado fator, como a algum princípio ativo ou molécula.

Porém, o uso intensivo e extensivo do mesmo fator ou da mesma prática de controle, com mesmo modo de ação, leva à seleção desses indivíduos tolerantes ou resistentes que irão reproduzir e, com o tempo, podem ser predominantes na população de daninhas ou pragas.

A evolução da resistência é um processo natural e irá existir de qualquer maneira, mas a boa notícia é que é possível manejar esse processo por meio da adoção das boas práticas agrícolas, como o Manejo Integrado de Pragas e Plantas Daninhas, incluindo o Manejo da Resistência.

Monitoramento da área

O primeiro passo é o monitoramento da área. Estar sempre atento a qualquer mudança que ocorra na lavoura possibilita o controle no momento correto e, diante de uma possibilidade de resistência, permite a tomada de decisão mais assertiva.

Os agricultores e agrônomos que utilizam essa técnica podem definir as melhores práticas de manejo, com base nas informações obtidas por meio do monitoramento. Isso pode incluir a escolha do melhor momento para a aplicação de pesticidas, a seleção de produtos mais apropriados e a implementação de práticas de manejo específicas. Além disso, o acompanhamento permite que os produtos sejam usados de maneira mais precisa e direcionada.

Rotação de culturas

Outro fator que desempenha importante papel no manejo é a rotação de culturas. A diversificação da produção é importante para fazer a quebra do ciclo de uma possível praga que está na lavoura e que pode não ter preferência ou não se adaptar bem na outra lavoura de rotação.

Essa prática também pode proporcionar a rotação de tecnologias Bt de proteção contra insetos, o que reduz a pressão de seleção, retardando a evolução da resistência às proteínas Bt. A prática ainda adiciona ganhos de sustentabilidade - preservação da biodiversidade e do equilíbrio ambiental, e melhoria do solo -, com preservação dos nutrientes.

Defensivos agrícolas

A utilização correta dos defensivos agrícolas é outro fator significativo para manter a saúde da lavoura e retardar a evolução da resistência. Fazer a aplicação de inseticida, herbicida ou fungicida com indicação e dose corretas, recomendadas na bula do produto, é um dos cuidados essenciais.

Outra prática importante é a utilização da tecnologia de aplicação, com o principal objetivo de atingir corretamente o alvo, reduzindo perdas, como a deriva, e evitando problemas, como a chegada de doses menores no alvo (subdose), a qual pode colaborar com a evolução da resistência. Seguir esses passos contribui para a preservação da durabilidade e eficácia dos produtos, otimizando o controle correto das pragas e plantas daninhas, além de promover a economia de recursos. Durante o processo de manejo e de aplicação de defensivos podem surgir dúvidas, por isso, seguir a bula é sempre o melhor caminho para fazer o melhor uso dos produtos.

Sementes certificadas

Durante o plantio também é importante se assegurar que seja utilizada semente certificada, para ter mais segurança da origem do produto, evitando sementes contaminadas com plantas daninhas, pragas e doenças. Outra prática importante é o tratamento de sementes, o qual auxilia no controle de pragas e doenças e no estande inicial da lavoura.

Dessecação antes do plantio

Mais um passo importante no manejo integrado é fazer a dessecação antes do plantio. Essa prática consiste em eliminar plantas daninhas ou voluntárias, que podem ser hospedeiras de pragas e doenças, além de evitar a matocompetição no início da cultura que será plantada, promovendo um manejo mais eficiente.

Foto: Camila Gamarra
Foto: Camila Gamarra

Presença de inimigos naturais

Adicionalmente a todas as ferramentas já mencionadas, é importante acrescentar os benefícios da presença de inimigos naturais no Manejo Integrado de Pragas (MIP), como os predadores, parasitoides e patógenos, o que oferece uma tática complementar ao controle de pragas.

Preservar os inimigos naturais com o uso de princípios ativos de inseticidas seletivos é muito importante, do ponto de vista do controle biológico. Essa prática é eficaz na redução das populações de pragas e pode atuar como uma prática complementar aos pesticidas. De modo geral, preservar os inimigos naturais é uma estratégia que pode melhorar a eficácia do controle de pragas, além de promover sistemas agrícolas mais sustentáveis e equilibrados.

Tecnologia Bt

Aos produtores que utilizam a tecnologia Bt de proteção contra insetos, reforço a necessidade de manter áreas de refúgio estruturado, cujo principal objetivo é retardar a evolução da resistência de insetos pragas.

O plantio do refúgio estruturado é hoje a melhor prática para sustentar as tecnologias Bt e garantir a longevidade. Além disso, é importante ressaltar que o uso de plantas Bt é uma das ferramentas do MIP e do Manejo da Resistência a Insetos (MRI), a qual deve ser utilizada em conjunto com as demais práticas.

Limpeza dos equipamentos

Também não posso deixar de mencionar um detalhe importante que pode passar despercebido: a importância da limpeza dos equipamentos. A limpeza regular e minuciosa dos equipamentos agrícolas é fundamental para evitar a disseminação de propágulos de doenças e plantas daninhas.

Ações da Corteva

Dentro do MIP e do MRI, são diversas as práticas. Para que elas sejam aplicadas corretamente, apoiando quem está no campo, a Corteva possui dois programas que levam orientação técnica ao produtor, baseados nas Boas Práticas Agrícolas. Um deles é o Programa de Aplicação Responsável (PAR), o qual oferece treinamento sobre boas práticas na aplicação de defensivos, com os objetivos de aumentar a conscientização e incentivar a adoção de iniciativas seguras, para otimizar recursos, reduzir o impacto no meio ambiente e fornecer sustentabilidade à agricultura.

Já o projeto Expedição da Agricultura para a Vida é um caminhão itinerante que tem como objetivo disseminar os conceitos de Boas Práticas Agrícolas para um público tecnicamente qualificado. O foco é promover as melhores recomendações sobre os cinco pilares de Boas Práticas Agrícolas, que são: tecnologia de aplicação, segurança do trabalhador, manejo integrado de plantas daninhas, pragas e doenças, por meio de práticas integradas em todas as etapas do cultivo e produção.

Práticas de MIP e MRI

Finalizo ressaltando a importância da adoção das práticas de MIP e MRI, as quais, aplicadas em conjunto, são extremamente eficientes para retardar a evolução da resistência de plantas daninhas e insetos, tornando a agricultura mais sustentável e produtiva, além de colaborar com a longevidade das tecnologias.

*Por Bruna Barboza Marchesi (na foto), Corteva Agriscience

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