Avaliação da eficiência de inseticidas no controle do bicudo-do-algodoeiro em 2023
Por Guilherme Gomes Rolim e Jacob Crosariol Netto (Instituto Mato-Grossense do Algodão); e Karolayne Lopes Campos (UFRPE)
23.02.2024 | 15:28 (UTC -3)
A safra 2022/23 de algodão apresentou uma produção total de 7,69 milhões de toneladas de algodão em caroço, e a produção em pluma estimada em aproximadamente 3,16 milhões de toneladas. No entanto, as mesmas condições edafoclimáticas que favorecem o desenvolvimento da cotonicultura também propiciam condições ótimas para o desenvolvimento e a multiplicação de aproximadamente 250 espécies de insetos e ácaros e, dessas, cerca 60 espécies se destacam pela capacidade de ocasionar danos, diretos ou indiretos, e de atingir o status de praga em algumas das fases de desenvolvimento da cultura.
Apesar desse grande complexo de pragas se fazer presente durante todo o desenvolvimento da cultura, nenhuma outra deixa os produtores de algodão tão preocupados como o bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis grandis (Boh.) (Coleoptera: Curculionidae). A infestação dessa praga ocorre na lavoura a partir do surgimento das primeiras estruturas reprodutivas, os botões florais, ou até mesmo antes, mantendo-se em plantas tigueras em meio à soja ou ao milho cultivados antes do algodão e permanecendo até a colheita. As perdas de produtividade decorrentes das infestações do bicudo-do-algodoeiro são resultantes da alimentação e oviposição e, consequentemente, do desenvolvimento das larvas e pupas nos botões florais e maçãs, o que resulta em reduções significativas na produção de fibras. Em decorrência do ataque, até 95% da produtividade pode ser comprometida caso ações de manejo não sejam adotadas. Entretanto, mesmo com a adoção das medidas de controle no Cerrado, estimam-se perdas de até 15 arrobas/ha.
A safra 2022/23 de algodão apresentou uma produção total de 7,69 milhões de toneladas de algodão em caroço, e a produção em pluma estimada em aproximadamente 3,16 milhões de toneladas. No entanto, as mesmas condições edafoclimáticas que favorecem o desenvolvimento da cotonicultura também propiciam condições ótimas para o desenvolvimento e a multiplicação de aproximadamente 250 espécies de insetos e ácaros e, dessas, cerca 60 espécies se destacam pela capacidade de ocasionar danos, diretos ou indiretos, e de atingir o status de praga em algumas das fases de desenvolvimento da cultura.
Apesar desse grande complexo de pragas se fazer presente durante todo o desenvolvimento da cultura, nenhuma outra deixa os produtores de algodão tão preocupados como o bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis grandis (Boh.) (Coleoptera: Curculionidae). A infestação dessa praga ocorre na lavoura a partir do surgimento das primeiras estruturas reprodutivas, os botões florais, ou até mesmo antes, mantendo-se em plantas tigueras em meio à soja ou ao milho cultivados antes do algodão e permanecendo até a colheita. As perdas de produtividade decorrentes das infestações do bicudo-do-algodoeiro são resultantes da alimentação e oviposição e, consequentemente, do desenvolvimento das larvas e pupas nos botões florais e maçãs, o que resulta em reduções significativas na produção de fibras. Em decorrência do ataque, até 95% da produtividade pode ser comprometida caso ações de manejo não sejam adotadas. Entretanto, mesmo com a adoção das medidas de controle no Cerrado, estimam-se perdas de até 15 arrobas/ha.
O comportamento de ovipositar e completar o desenvolvimento no interior das estruturas reprodutivas do algodoeiro, além de destruir a parte produtiva da planta, dificulta o contato da praga com o inseticida, obrigando a adoção de práticas curativas (pulverizações) de controle destinadas exclusivamente para a fase adulta. Porém, os adultos não são alvos fáceis, visto que permanecem abrigados nos botões florias, sendo protegidos pelas brácteas e pelo próprio dossel da cultura. Além disso, após a colonização, as oviposições se tornam diárias a uma taxa de três a dez ovos/dia/fêmea e consequentemente a próxima geração irá surgir em emergências diárias, demandando aplicações consecutivas para tentar segurar as “ondas de infestação”. Essas aplicações em série resultam em elevado número de intervenções ao longo do ciclo cultural, sendo que em média são realizadas de 12 a 19, mas, não raramente, há relatos de até 25 aplicações específicas para o controle dessa praga.
Mesmo ainda sendo as melhores opções para o manejo do bicudo, é importante lembrar que o uso contínuo de inseticidas, em especial os de amplo espectro, contribui para a rápida seleção de populações resistentes, bem como surtos de pragas secundárias, devido principalmente à pressão de seleção e à eliminação de inimigos naturais. Devido a essas questões, desde a safra de 2015/2016, os pesquisadores da área de entomologia do IMAmt anualmente monitoram, por meio de testes em laboratório, a eficiência dos inseticidas que podem ser utilizados com intuito de controlar o bicudo na região do Mato Grosso. Esse estudo dá origem a uma circular técnica que serve de base para escolha de protos por protutores, consultores e equipes técnicas de fazendas.
Os insetos utilizados nos ensaios em laboratório são obtidos a partir de estruturas reprodutivas com sinal de ataque no fim da safra do algodão. Essas estruturas permanecem no laboratório em gaiolas de 30x45x50 cm até a emergência dos adultos. Após emergirem, os adultos são transferidos para potes de 500 ml e mantidos por um período de cinco-dez dias com disponibilidade de cotilédones, botões e/ou pasta de mel e levedura de cerveja (1:1), e então são utilizados nos testes de eficiência.
O teste de eficiência consiste em mergulhar discos de folha de algodoeiro com 6 cm de diâmetro e botões florais, nas caldas inseticidas, após isso os discos são mantidos sobre papel-toalha e deixados em temperatura ambiente para evaporar o excesso da calda, restando apenas o resíduo seco dos inseticidas a serem testados. Após a secagem do material vegetal, esses são transferidos para placas de petri juntamente com os insetos que ficam confinados sobre o material tratado por 48 horas, sendo contabilizada a mortalidade após esse período.
De maneira similar aos resultados encontrados desde o início do monitoramento, nessa safra (2022/23) a mortalidade do bicudo foi variável a depender do inseticida. Por meio de análises estatísticas foram formados grupos de inseticidas que apresentaram médias similares.
Considerando o grupo de inseticidas com mortalidade acima de 80% e, portanto, compondo o grupo dos inseticidas de maior eficiência nas condições em que o teste foi realizado, os inseticidas Malathion, Sponta, Pirephos/Legion e Suprathion apresentaram 100% de mortalidade e os inseticidas Chaser, Marshal Star, Curbix, Politryn, Actara e Fipronil Nortox ocasionaram mortalidades variando de 80% a 98% (Figura 2).
Enquanto os inseticidas Engeo Pleno S e Pirate diferiram dos inseticidas anteriormente citados e foram classificados como moderadamente eficientes, tendo causado mortalidades de 52% e 72,5%, respectivamente.
No caso dos tratamentos com Talisman, Mustang, Bulldock, Bold, Hero, Talstar e Sperto, quando utilizados nas doses recomendadas, não ultrapassaram os 50% de mortalidade, podendo ser considerados como ineficientes para o controle do bicudo-do-algodoeiro (Figura 1).
De acordo com os resultados, todos os inseticidas compostos apenas por piretroides ou as misturas de dois piretroides ou piretroides com neonicotinoide apresentaram eficiência inferior a 55%. Essa baixa eficiência vem sendo observada pelos levantamentos toxicológicos realizados pelo IMAmt desde a safra 2015/2016. Além disso, é possível notar que, a cada safra, a performance de três ingredientes ativos pertencentes ao grupo dos piretroides testados desde 2014/2015, com exceção de pequenas oscilações, vem se reduzindo (Figura 2).
A redução da eficiência dos piretroides vem sendo observada há alguns anos por pesquisadores, produtores e consultores. Porém, só a partir de 2018, com a documentação da resistência de populações de bicudo a beta-ciflutrina (piretroide), foi possível entender o tamanho do problema: a resistência foi caracterizada como uma mutação que confere insensibilidade do “sítio-alvo” (local do sistema nervoso onde o inseticida atua). Esse tipo de mutação pode conferir resistência a todo o grupo químico. Isso pode explicar a redução da eficiência que vem ocorrendo ano a ano para todos os piretroides testados.
A perda de eficácia dos piretroides para o controle do bicudo-do-algodoeiro tem impactos diretos sobre o manejo de pragas da cultura, tanto pelo fato de serem de baixo custo, baixa toxicidade, largo espectro quanto de participar de várias misturas recomendadas para pulverização em algodoeiro. Dessa maneira, o uso racional dos inseticidas (seguindo os princípios do MIP), a rotação de ingredientes ativos e o monitoramento constante das populações quanto à suscetibilidade aos principais ativos utilizados na cotonicultura são dispositivos essenciais para a manutenção da eficácia das ferramentas disponíveis (inseticidas) bem como têm papel crucial no manejo da resistência do bicudo-do-algodoeiro a inseticidas, retardando ou até mesmo revertendo evoluções em andamento.
O IMAmt realiza esse ensaio sob condições laboratoriais e enfatiza que seus resultados não devem ser utilizados como recomendação de produtos para o controle do bicudo-do-algodoeiro. Ressalta-se que qualquer inseticida utilizado para o controle de Anthonomus grandis grandis deve ser previamente registrado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Por Guilherme Gomes Rolim e Jacob Crosariol Netto (Instituto Mato-Grossense do Algodão); e Karolayne Lopes Campos (UFRPE)
Artigo publicado na edição 296 da Revista Cultivar Grandes Culturas
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