Práticas ESG no agro: a importância das certificações sustentáveis
Por Nayara Marcato Sanders, Marcato Sanders Advocacia
A pujança da agricultura brasileira é cada vez mais notória em todos os seus segmentos e a demanda progressiva de consumo de grãos, fibras, biomassa para a geração de energia, proteína animal tem levado o país a obter altas produtividades a cada ano. Porém, há uma cobrança por parte da sociedade que essas altas produtividades devem estar alinhadas ao emprego de processos com vistas à biodiversidade e a sustentabilidade nos agroecossistemas.
Para garantir essa sustentabilidade os agricultores estão recorrendo a técnicas utilizando os processos biológicos, a dita Agricultura Biológica. Neste viés, o emprego das culturas de cobertura do solo e adubação verde vem se propagando em grandes proporções, principalmente utilizado no sistema plantio direto, agricultura conservacionista. O uso destas plantas remonta a 2.500 anos antes de Cristo, quando na China foram registrados os primeiros trabalhos técnicos sobre o uso de adubos verdes para melhoria da qualidade do solo. No Brasil, em 1919, a Secretaria de Agricultura de São Paulo lançou a publicação intitulada “Adubos verdes: sua produção e modo de emprego” e, desde então, o uso de adubos verdes e plantas de cobertura entrou no contexto da produção no país. Com o emprego dos fertilizantes minerais essas plantas caíram em desuso, nas décadas de 50 e 60 - século XX. Nas décadas de 70 e 80 novamente passaram a ser utilizadas para melhoria dos solos degradados ou de baixa fertilidade, principalmente em função da matéria orgânica produzida, ciclagem de nutrientes, fixação de nitrogênio e cobertura do solo.
Essas plantas necessitam de um manejo específico, pois não são utilizadas para a produção de grãos. Existem várias opções de manejo, químico e mecânico, associados ou não, mas de acordo com especialistas e produtores rurais, o mais adequado e utilizado atualmente é o uso do rolo faca. Este implemento promove a rolagem das plantas sem fragmentação do material vegetal, porém com o amassamento dos caules/fibras longas cessa o fluxo da seiva levando a morte da planta.
O rolo faca atualmente tem sido fundamental, sobretudo, no sistema plantio direto, que visa eliminar a perturbação da estrutura do solo. Do ponto de vista agronômico, a realização dessa operação traz diversos benefícios, uma vez que é criada uma cobertura sobre o solo, minimizando a evaporação da água, aumentando a retenção de umidade e a proteção contra raios solares atuando positivamente na regulação térmica. Além disso, este implemento é bastante eficaz, sendo capaz de derrubar 100% da cobertura verde em uma única passada, reduzindo custos com combustível e diminuindo horas de trabalho.
No passado, foi muito utilizado no Brasil rolo faca com uma estrutura pesada nas áreas de desmatamento para picagem da vegetação residual de menor porte. Muito utilizado também no manejo de plantas daninhas em lavouras de café em pequenas propriedades agrícolas, tracionados por animais, fabricados em pequenas oficinas mecânicas.
O rolo faca é constituído por um cilindro, chapas – facas e uma moldura metálica com cabeçalho para acoplamento ao trator. O cilindro é de aço e oco para inserção de lastro - água/areia cujas dimensões quanto ao diâmetro variam de acordo com o fabricante. As facas, cegas ou afiadas, são fixadas paralelamente ao cilindro, dispostas de forma alinhadas - 90º ou desalinhadas com diferentes angulações; podem ser confeccionadas em chapa única ou bipartida, as dimensões e o número variam de acordo com o fabricante.
Os rolos equipados com facas cegas sem fio cortante são utilizados para o manejo das culturas de cobertura de modo que não ocorre o corte dos tecidos das plantas, já os com facas afiadas são utilizados para fragmentar os restos culturais das culturas comerciais e facilitar a semeadura da cultura em sucessão.
A largura de trabalho varia de acordo com a dimensão do cilindro e pelo número de cilindros que compõem o implemento, podendo ser de um, dois ou três cilindros. O rolo faca é equipado com mecanismo hidráulico ou mecânico para realizar o transporte.
Quanto ao princípio de funcionamento, o rolo com as facas cegas/rombudas espreme o caule das plantas contra a superfície do solo, sem segmentar as plantas, promovendo o acamamento da fitomassa da cultura de cobertura sobre o solo.
O período de manejo das culturas de cobertura com rolo faca dependerá da forma como foram cultivadas, solteiras (uma única espécie) ou consorciadas (duas ou mais espécies). Quando semeadas solteiras o momento ideal para realizar a rolagem será de acordo com o desenvolvimento fisiológico, ou seja, o ciclo de espécie utilizada, que poderá ser no pico de florescimento ou em função da maturação de grãos. A realização da rolagem no tempo fisiológico de cada espécie assegurará a mortandade das plantas sem o uso auxiliar de herbicida; o máximo de produção de matéria verde e seca – matéria verde está relacionada à quantidade e qualidade da cobertura do solo e a seca com o tempo de decomposição; a melhor cobertura do solo mantendo-o por mais tempo coberto; redução do escoamento superficial da água e redução dos riscos de erosão; o aumento da disponibilidade de água no solo; a inibição da germinação e emergência das plantas espontâneas.
Como exemplo do período para manejo de uma espécie com rolo faca tem-se as crotalária que deverão ser manejadas no pleno florescimento e quando se inicia a formação das primeiras vagens e a aveia preta que deverá ser manejada na fase de grãos leitosos. O período de manejo dos consórcios deverá ser no pico de florescimento da espécie mais precoce utilizando apenas o rolo faca.
Em ambas as formas de cultivo, o manejo das espécies com rolo faca deverá ocorrer com certa antecedência de forma a evitar a semeadura da cultura em sucessão com as plantas ainda em processo de murchamento que interferirá negativamente no corte da fitomassa do mecanismo de corte da semeadora.
O processo propriamente dito de rolagem das culturas de cobertura deverá sempre ser realizado no mesmo sentido e em áreas com declividade a rolagem será em nível acompanhando os terraços. Desta forma as plantas acamadas terão efeito sobre o escoamento superficial das águas das chuvas evitando o arraste de solo.
A semeadura da cultura comercial será sempre realizada no mesmo sentido da rolagem, sendo assim, facilitará o corte pelos discos da semeadora e evitará o arraste da manta/palhada. A semeadura realizada transversalmente ao sentido da rolagem arrastará a palhada e descobrirá a linha de semeadura. A linha de semeadura descoberta propiciará a incidência de plantas espontâneas, o aumento de temperatura com o solo exposto interferindo no desempenho das plântulas e sem contar o risco de erosão no sulco de semeadura.
A elucidação científica dos benefícios do uso culturas de cobertura denominadas atualmente como plantas de serviço, a mudança de postura com foco no manejo sustentável do solo e na funcionalidade dos mesmos, a produção e disponibilização de sementes de alta qualidade por empresas especializadas têm estimulado a adoção crescente pelos produtores de todos os segmentos agrícolas e atrelado às essas mudanças a fabricação e disponibilização de rolos facas pelas indústrias brasileiras é extraordinária e crescente. Esse crescimento na oferta de modelos de rolo faca é recente, cerca de 10 anos atrás as indústrias de maquinaria agrícola começaram a entender a demanda específica para o manejo e passaram a produzir implementos com alta tecnologia e modelos adequados para as pequenas, médias e grandes áreas.
Os fabricantes destes implementos estão distribuídos pelo sul do país, onde ocorre a maior demanda, são empresas familiares e de pequeno porte atendendo demandas locais com seu modelos para pequenos produtores, empresas familiares de médio porte atendendo com seus modelos demandas de manejo para todos os extratos de áreas, inclusive exportando suas tecnologias para outros países e empresas multinacionais com operação no Brasil com alta tecnologia nos seus produtos.
No mercado brasileira foram encontradas 21 indústrias metalúrgicas agrícolas que disponibilizam comercialmente 90 modelos de rolos facas.
Os rolos facas estão disponibilizados na sua maioria na versão de arrasto, alguns modelos podem ser utilizados na parte frontal com sistema de levante hidráulico frontal e também numa versão de rolo de pequena dimensão acoplado a barra porta ferramenta da semeadora. Esses dois modelos supracitados são utilizados simultaneamente com a semeadura da cultura em sucessão.
Há uma grande diversidade de modelos ofertados no mercado, se adequando às características de cada propriedade agrícola. A largura de trabalho dos modelos varia de 1.900 a 20.400 mm. O rolo faca que apresenta a maior largura de trabalho é um modelo em tandem (Tandem - é acoplamento de dois implementos ao mesmo trator unidos através de seus cabeçalhos). Ainda quanto a largura, algumas empresas fabricam modelos de acordo com a demanda do produtor, sob encomenda, a exemplo do modelo frontal que é customizado na largura de semeadura da semeadora adubadora.
O diâmetro do rolo tradicional é um dos elementos mecânicos mais importante. Quanto maior, maior será o número de lâminas e, como consequência melhor será o desempenho da rolagem das culturas de cobertura, comprimindo contra a superfície do solo as plantas por toda extensão do seu comprimento, com mais eficiência. Outros modelos mais modernos, utilizam rolos com diâmetros menores, que trabalham em altas rotações e dispensam uso de lastros. Os modelos disponibilizados no mercado apresentam diâmetros variando entre 20 e 1.300 mm, podendo ser compostos de 6 a 68 lâminas por rolo e a depender do conjunto de cilindros que compõem o modelo de rolo faca o número de lâminas chega a 256 lâminas.
Outro fator nos rolos tradicionais é a lastragem, quanto maior o diâmetro do cilindro maior volume, podendo-se inserir peso na parte interna dos cilindros, fazendo que aumente a massa do implemento, atuando assim para usos diversificados com melhor desempenho na rolagem.
A potência requerida de tração no trator nos modelos avaliados está entre 60 a 450 cv - 44,1 a 331,0 kW, dependendo da largura de trabalho, diâmetro do rolo, lastragem e massa total.
Confira abaixo os modelos de rolo faca disponíveis no Brasil:
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Por Nayara Marcato Sanders, Marcato Sanders Advocacia
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