Tecnologia agropecuária garante saneamento rural

Cuidar da contaminação do solo e da água são formas de garantir o saneamento básico em muitas propriedades rurais, que não têm acesso a essa condição. Com o uso da tecnologia da fossa séptica biodigestora desenvolvida pela Embrapa Instrumentação Agropecuária, em São Carlos/SP, e apoio da Embrapa Clima Temperado, em Pelotas/RS, é possível tratar o esgoto sanitário de forma eficiente e com baixo custo para os produtores rurais, além da produção do efluente que pode ser utilizado como fertilizante de alta qualidade na agricultura, com alguns devidos cuidados.

A fossa trata somente do esgoto do vaso sanitário (fezes e urina humana) de uma residência rural onde moram até cinco pessoas. "Até cinco pessoas, o sistema deve conter no mínimo três caixas d´água de 1 mil litros cada", explicou o analista responsável, na unidade de pesquisa, em Pelotas, Rafael Porto. Este processo, destinado apenas ao tratamento de esgoto proveniente de vasos sanitários, substitui as fossas negras que contaminam o lençol freático e poços caseiros com coliformes fecais e outros patógenos.

Segundo ele, o funcionamento da fossa biodigestora é aquela que usa o processo de fermentação anaeróbica, onde na ausência de ar, os microorganismos utilizam a matéria orgânica biodegradável para obter energia para suas atividades e para obter fonte de matéria-prima para sua reprodução. "Neste sistema se reduz os sólidos, os organismos patogênicos e se estabiliza as substâncias instáveis presentes no esgoto, descontaminando desta forma a água", considerou. Muitas doenças transmitidas pela água, como diarreia, hepatite e cólera, entre outros, são responsáveis por internações hospitalares e mortes no Brasil.

"No meio rural, ainda são muito comuns as fossas negras e muitas vezes elas se localizam perto de fontes de abastecimento e até rios. Com a biodigestão pelo sistema da fossa, as residências podem reverter o efluente em fertilizante, após passar pelo sistema de purificação", destaca.

Para se instalar uma fossa biodigestora é preciso um lista de materiais simples como tubos de pvc, alguns materiais hidráulicos e caixas de fibrocimento ou de fibra de vidro. O custo do material é relativamente baixo, sua instalação é feita de forma artesanal e não é encontrada pronta no mercado.

Na Metade Sul (Hulha Negra, Candiota, Aceguá e Pelotas), a Embrapa instalou quatro fossas sépticas biodigestoras em propriedades familiares e também em assentados da reforma agrária para monitorar os resultados da tecnologia e seus benefícios. Esta tecnologia vem sendo estudada desde 1998. Mas ao longo dos anos é que a tecnologia foi reconhecida e valorizada. No ano de 2003, recebeu o prêmio destaque como Tecnologia Social pela Fundação do Banco do Brasil.

Experiência do produtor

A propriedade familiar de José Luiz Portantiolo, localizada na Colônia Maciel, adotou a fossa séptica biodigestora, transformando-se em unidade demonstrativa da tecnologia. O produtor que já conhecia o sistema, através de outro vizinho, Nilo Schiavon, da Colônia São Marcos, passou a preocupar-se também com o tratamento do esgoto. "É um compromisso pra mim, fazer da minha propriedade um espaço demonstrativo", confirmou. Para Portantiolo, a tecnologia é de fácil adoção e acredita que os produtores tem condições de utililizá-la pela simplicidade do sistema e pelo baixo custo. "Eu tinha muito mais cheiro ruim dos dejetos e mais mosca quando usava a fossa tradicional, agora eu só tenho que cuidar o suspiro", chamou a atenção. "Tudo que for para preservar a água é importante, pois essa mesma água da Colônia é que abastece também a cidade", lembrou. A instalação da unidade demonstrativa em sua propriedade leva a receber muitas visitas, mas para ele isso não é problema. "Eu posso ajudar e posso servir para expressar meus pensamentos", destacou. Ele falou da importância de divulgar a tecnologia na Escola Garibaldi, próximo à residência rural, pelo fato de o professor ser um motivador para que os alunos possam passar uns para os outros um sistema que servirá para educar seus próprios pais. "A educação é fundamental para ver esse sistema tendo continuidade", exaltou.

Para quem quiser ver de perto esse sistema alternativo de saneamento rural, a Embrapa vai colocar à disposição na Expointer 2013 um modelo de fossa séptica biodigestora, em dimensões apropriadas ao local do evento, contendo manual de instruções de utilização, de montagem, de adequações a cada propriedade. Especialistas sobre a tecnologia também vão receber os visitantes para prestar explicações técnicas.

A fossa séptica biodigestora estará exposta no espaço Caminhos da Integração, da Emater/RS-Ascar, localizado na Quadra 37 do Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio/RS, de 24 de agosto a 1o de setembro.