Rural Show aborda a sucessão na agricultura familiar

28.06.2012 | 20:59 (UTC -3)
Rejane Paludo

O êxodo rural é um desafio para a agricultura familiar. Por isso, a sucessão na atividade será assunto recorrente durante os quatro dias do Rural Show 2012, em Nova Petrópolis. A primeira palestra sobre o tema, coordenada pela Emater/RS-Ascar, aconteceu na manhã de quinta-feira (28), e a segunda será na sexta-feira (29), às 9h, no auditório do Centro de Eventos.

A agricultura familiar tem um papel fundamental na economia e no desenvolvimento do país. No RS, 85% dos 441.467 estabelecimentos rurais são de base familiar. Mas cerca de 13% destes estabelecimentos não têm mais jovens entre 14 e 24 anos. Além disso, verifica-se o envelhecimento e a masculinização do meio rural. Entre os fatores apontados pela assistente técnica estadual em juventude rural da Emater/RS-Ascar, Vera Carvalho da Silva, para a saída dos jovens do campo, estão a falta de independência financeira, ou seja, o jovem não tem um salário na unidade familiar, o que muitas vezes faz com que ele procure um emprego na cidade; os atrativos da vida urbana; a falta de diálogo entre gerações e de uma educação adequada à realidade do meio rural; e a estagnação da propriedade. “A isso se soma a desvalorização da agricultura familiar pelos pais, que incentivam os filhos a estudarem e saírem da propriedade para não ‘sofrerem’ como eles”, explica Vera. De acordo com ela, as mulheres saem mais do que os homens do meio rural porque o trabalho na agricultura é considerado muito pesado para elas e também porque não possuem poder de decisão na hierarquia familiar e os homens têm preferência na sucessão.

Para a assistente técnica estadual da Emater/RS-Ascar, é preciso questionar esse projeto de urbanização e pensar em como desenvolver um projeto de sustentabilidade, para que os jovens possam permanecer na propriedade rural. “É preciso que os jovens tenham autonomia e poder de decisão, o estímulo dos pais e que se sintam pertencendo ao empreendimento rural. A pluriatividade também é muito importante, além da inclusão digital e de incentivos para a agricultura familiar.

Conforme a palestrante, pesquisas realizadas com jovens apontam que eles ainda têm interesse e gostam da atividade rural. Por isso, ela defende que a sucessão familiar precisa ser debatida nas famílias, com as famílias, e também com gestores públicos e a sociedade (com base em dados estatísticos e nos impactos para a continuidade das unidades produtivas), gerando demandas e a construção de políticas públicas para a juventude rural e a sucessão na agricultura familiar.

No Rural Show, neste sábado, haverá um importante fórum de discussão sobre a sucessão na agricultura familiar, com a participação de representantes da Emater/RS-Ascar, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Cooperativa Piá, Fetag e outras entidades ligadas ao setor. O evento ocorre a partir das 10h30min, no auditório do Centro de Eventos.

Vera também apresentou algumas ações da Emater/RS-Ascar com a juventude rural, como a troca de experiências, a inclusão produtiva, a formação profissional, atividades de lazer, assistência técnica, dias de campo e trabalhos nas comunidades sobre a sucessão familiar, a promoção de espaços de convivência entre comunidade, famílias e jovens e a construção e monitoramento de políticas públicas.

Durante a palestra, o jovem Marcos Seefeld (22), de Nova Petrópolis, relatou sua experiência. Segundo ele, a formação como técnico em agropecuária foi um dos motivos que o fez ficar na agricultura. “A propriedade é boa, tem muito que produzir ainda, e era preciso alguém para tocar, pois meus pais estão com idade avançada e meus avós pararam. Além disso, eu gosto de trabalhar com leite, me sinto bem fazendo isso, acredito na atividade e que ela pode dar um bom retorno pra mim”, completa o jovem, que é associado da Cooperativa Piá.

Nos 28 hectares da propriedade, dos quais 16 são de terras úteis, além do leite, a família produz milho e frutas e cria de suínos. Marcos citou alguns investimentos feitos em tecnologias para facilitar o serviço, baixar custos e aumentar a produção e a qualidade, como a aquisição de um trator pelo Pronaf, equipamentos de ordenha e pastagem irrigada. De acordo com ele, a produção de leite, que é a principal atividade da família, deverá chegar a 165 mil litros neste ano. O custo de produção, conforme o jovem, fica em torno de R$ 0,45 a 0,50 o litro, e o preço médio recebido atualmente é de R$ 0,79. “Com trabalho, formação e investimentos, se consegue ter um retorno na agricultura também, não só na cidade”, concluiu.

O Rural Show acontece até domingo (1º/07), das 9h às 18 horas, no Centro de Eventos de Nova Petrópolis. A promoção é da Emater/RS-Ascar, Cooperativa Piá, Prefeitura e Sicredi Pioneira. O diretor administrativo da Emater/RS, Valdir Zonin, visitou o evento nesta quinta-feira.

O Rural Show conta com diversos espaços temáticos onde técnicos da Emater/RS-Ascar e da Cooperativa Piá apresentam tecnologias e sistemas de manejo e produção na área do leite, da fruticultura, olericultura, floricultura, armazenagem de grãos e apicultura, além da gestão sustentável da propriedade rural. Também há espaços onde os visitantes podem se informar sobre os cursos de qualificação profissional promovidos pela Emater/RS-Ascar, participar de oficinais de alimentação, conhecer e trocar sementes preservadas por produtores rurais, e adquirir produtos de 28 agroindústrias familiares e 28 artesãos da região, como mel, embutidos, cucas, doces, cestos e mantas.

Até domingo, o evento deverá receber cerca de 75 excursões de agricultores de dezenas município da Serra e outras regiões.

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