​Questão agrária dá início ao Congresso Brasileiro de Sistema de Produção, em Pelotas, RS

A intenção é alcançar uma harmonização entre princípios e conceitos de outras áreas do conhecimento

07.07.2016 | 20:59 (UTC -3)
Cristiane Betemps

A escolha do tipo de sistemas de produção agropecuário – suas práticas agrícolas - adotado pelo produtor rural indicará a presença, mais intensa ou não, de sustentabilidade. A realização de uma agricultura mais intensiva ou extensiva, marcada pelo uso de técnicas e tecnologias, vai depender também da utilização de uma visão sistêmica. Essa abordagem é que permite o uso de estratégias na Agricultura que possam se basear em diversos conceitos que interagem com inúmeras ciências. A intenção é alcançar uma harmonização entre princípios e conceitos de outras áreas do conhecimento.

Com essa proposta de aprofundar mais sobre a Abordagem Sistêmica e Sustentabilidade, a Sociedade Brasileira de Sistema de Produção (SBSP) e a Embrapa Clima Temperado (Pelotas,RS) realizaram a abertura do XI Congresso da Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção pela primeira vez no Estado gaúcho, tendo o enfoque da Abordagem Sistêmica e Sustentabilidade: Produção Agropecuária, Consumo e Saúde, que iniciou nesta quarta-feira(6/07), no auditório da UCPel, em Pelotas/RS.

Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Sistema de Produção, o engenheiro agronônomo Lírio Reichert, da Embrapa, os Congressos da SBSP sempre pautaram temas abrangentes. “A abordagem sistêmica, com foco nos sistemas de produção desenvolvidos na Agricultura Familiar, tem sido utilizada no ensino, na pesquisa e na extensão com distintas concepções teóricas e metodológicas. Esse tema não se esgota num congresso, vamos reacender a chama da discussão de maneira a torná-la mais presente nas melhorias dos processos de produção”, explicou Lírio.

Os protagonistas desse evento, conforme as instituições promotoras, são os agricultores e suas organizações, que terão espaço, durante todo o Congresso, para agregar informações e promover o intercâmbio de conhecimentos, através da formação de grupos de trabalho, que foram divididos em quatro sessões temáticas, com mais de 40 relatos de experiências compartilhadas. “A intenção é valorizar o agricultor, sua lógica, sua racionalidade e suas estratégias, cuidando e preservando o meio ambiente”, esclareceu Lírio.

A primeira Conferência

A Conferência de abertura trouxe motivação ao Congresso e à debate A Nova Questão Agrária no Brasil, tratada pelo professor pesquisador Guilherme Costa Delgado, do IPEA. Ele falou sobre o cenário agrário hoje, onde há uma dominada ultra concentração fundiária. “Conforme o Cadastro de Imóveis Rurais há um processo intenso de áreas de hectares ocupadas nos últimos 10 anos, cerca de 300 milhões imóveis rurais e um avanço nos índices de concentração”, pontuou Delgado.

Do ponto de vista ambiental, o professor identificou uma Agricultura de alta entropia, de danificação dos recursos naturais, não vislumbrando normas vigentes que façam as limitações necessárias para essas práticas. Delgado também fez referência às inovações que podem ser utilizadas pelos agricultores: a produção de energia sustentável – eólica e solar – e a produção de alimentos saudáveis, com técnicas agroecológicas, que estabelecem o convívio com a natureza e com a saúde pública adaptadas às exigências civilizadas.

O professor é doutor em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (1984). Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia, atuando principalmente em: agricultura, política agrícola, política social, previdência social e previdência rural.

Solenidade de abertura

O XI Congresso contou com uma cerimônia de abertura para cerca de 150 congressistas, vindos de diversas regiões do país, além da participação de palestrantes estrangeiros. O ato foi prestigiado pelo prefeito municipal de Pelotas, Eduardo Leite, o chefe-geral da Embrapa Clima Temperado, Clenio Pillon, o pró-reitor administrativo da Universidade Católica de Pelotas, Eduardo Santos, o reitor da Universidade Federal de Pelotas, Mauro Del Pino, o professor do Instituto Federal Farroupilha, Rafael Bonadiman, o presidente da Fundação de Apoio à Pesquisa e Desenvolvimento Edmundo Gastal, Laércio Nunes e Nunes, o presidente da Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção, Lírio Reichert e o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e presidente do Congresso, Lovois de Andrade Miguel.

O chefe-geral, Clenio Pillon, lembrou da importância do fazer e do saber dos agricultores do passado em manter práticas de uma agricultura sustentável. “A sociedade nos dão sinais que não quer comer qualquer produto. A Agricultura deve ser de recursos naturais e nossa articulação técnica deve ser tomada com o papel de coadjuvantes, pois os grandes protagonistas são os agricultores familiares”, defendeu Pillon. Ele ressaltou ainda o compromisso que este Congresso traz a todos como cidadãos em trazer experiências que possam subsidiar boas políticas públicas para o país.

O prefeito municipal, Eduardo Leite, destacou o momento como uma oportunidade de concertação entre as ações, instituições e as pessoas para um futuro mais sustentável. “O período do Congresso coincide também com a Semana de aniversário de Pelotas, elegendo o tema Pelotas Sustentável, visando estimular a adoção de práticas eficientes voltadas para a melhoria da qualidade de vida da população”, enfatizou o prefeito. O município completa nesta quinta-feira (7/07) seus 204 anos e recebe a visita da Tocha Olímpíca.


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