Programa Labex Invertido permite avanço em pesquisa com nanofibras

18.06.2012 | 20:59 (UTC -3)
Joana Silva

Após um ano no Brasil, o pesquisador norte-americano Gregory M. Glenn já tem bem mais que experiências científicas para levar na bagagem de volta aos Estados Unidos, na próxima semana. Ao fazer um balanço do período de um ano em que esteve na Embrapa Instrumentação (São Carlos – SP), desenvolvendo pesquisas no âmbito do programa Labex Invertido, Glenn apontou os avanços na produção de nanofibras empregando um novo método, cujo processo chega a ter um rendimento 50 vezes maior que o convencional. O método usado atualmente é uma reação em solução ácida e exige várias etapas de purificação.

Glenn ainda aplicou a nova metodologia em projetos em desenvolvimento na Embrapa, usou métodos exclusivos para a produção de materiais compósitos com fibras vegetais e nanofibras de mandioca e eucalipto, além de conquistas na área pessoal, como o domínio da língua portuguesa, as novas amizades e o encantamento por São Carlos.

A relação de Glenn com o Brasil teve início ainda nos Estados Unidos, quando junto com os cientistas brasileiros teve a oportunidade de colaborar no desenvolvimento deste novo método para a produção de nanofibras nas dependências do Serviço de Pesquisa Agrícola (ARS), órgão vinculado ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), onde está o Laboratório Virtual da Embrapa, em Washington. A parceria com o ARS envolve nanotecnologia, desde que essa área foi criada na instituição americana. O pesquisador Luiz Henrique Capparelli Mattoso, atual chefe-geral da Embrapa Instrumentação, foi o responsável pela área de nanotecnologia (2005-2007) no programa Labex.

Glenn é o primeiro pesquisador recebido na Embrapa Instrumentação dentro do programa “Labex Invertido”, no qual cientistas de outros países trabalham com pesquisadores da Embrapa no Brasil. É um novo formato de cooperação internacional, nos mesmos moldes que o programa original da Embrapa - denominado Labex (Laboratórios Virtuais da Embrapa no Exterior) - faz com instituições na América do Norte, Europa e Ásia. A vinda do pesquisador americano para o Brasil representou um esforço das duas instituições – Embrapa e ARS – e implica na possibilidade de reforço no intercâmbio científico, no reconhecimento da pesquisa agropecuária brasileira e dos resultados que ajudaram o Brasil a se tornar líder em Agricultura Tropical.

Doutor em fisiologia de plantas, o pesquisador americano avaliou como muito produtivo o período em que permaneceu na Embrapa Instrumentação, durante o qual conheceu programas de pesquisa também de outras unidades da Embrapa, como a Embrapa Agroindústria de Alimentos e Embrapa Solos, ambas no Rio de Janeiro; Embrapa Agroindústria Tropical, em Fortaleza, Embrapa Hortaliças, Embrapa Agroenergia, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília. “ Eu tive a oportunidade de conhecer vários cientistas excelentes e identificar as áreas que eu vou ser capaz de colaborar ainda mais no futuro”, afirmou. A partir de agora, Glenn acredita que poderá aconselhar colegas do ARS sobre os programas de pesquisa existentes no Brasil e sugerir outras áreas com potencial colaboração entre as duas instituições. De acordo com ele, grande parte da pesquisa que é realizada no ARS está intimamente relacionada com programas de pesquisa da Embrapa, o que permite um avanço. “É possível se trabalhar junto e evitar a replicação do mesmo estudo, resolver problemas com maior eficiência e desenvolver novas tecnologias mais rapidamente”, avalia.

Glenn disse que avalia o programa Labex Invertido pelo número de colaborações e pelo número de artigos científicos publicados em conjunto. Além do desenvolvimento e aperfeiçoamento das pesquisas, o pesquisador americano apontou como resultados científicos da parceria entre a Embrapa e o ARS a elaboração e apresentação de cinco artigos científicos, além de outros que estão sendo produzidos, trabalhos para apresentação em congressos científicos, além de uma videoconferência realizada em março sobre as pesquisas desenvolvidas na área de nanotecnologia envolvendo bioprodutos como embalagens de alimentos, nanofibras, liberação controlada, dispositivos eletrônicos e combustíveis . “Minha participação neste programa me permitiu conhecer vários cientistas excelentes que eu não conhecia previamente para colaborar em projetos. Esta colaboração tem resultado em vários artigos e co-autorias”, lembra.

O pesquisador disse que o governo americano apoiou fortemente a pesquisa agrícola por muitos anos, assim como o governo brasileiro também tem um compromisso muito forte com a pesquisa agropecuária. “Isto é evidente pelos centros de pesquisa em expansão, como a Embrapa Instrumentação e outros centros da Embrapa que visitei no Brasil”. A excelência da pesquisa brasileira chamou a atenção de Glenn, não só pela formação altamente qualificada dos cientistas, mas também pela qualidade dos equipamentos existentes nos laboratórios de pesquisas. “ Sinto-me encorajado por toda a nova construção e os novos equipamentos. Parece que o governo brasileiro assumiu um compromisso de longo prazo para pesquisa agrícola”, comentou.

Glenn deixa o Brasil no dia 18 de junho, mas com a promessa de retornar para ver os amigos que ele e a esposa fizeram em São Carlos, mesmo tendo enfrentado dificuldades no início, devido ao idioma. “ A bondade e simpatia do povo de São Carlos tornou o ajuste muito mais fácil. Quanto mais tempo estávamos em São Carlos, mais crescemos e amamos as pessoas e a cultura. Fizemos muitos amigos, que vamos sentir saudades e esperamos ser capazes de retornar para uma visita”, afirma. Para a Embrapa Instrumentação o pesquisador deixa um recado, continuar fazendo o que já tem feito – apoiar o desenvolvimento de jovens cientistas. “ Estes alunos são a próxima geração de pesquisadores do Brasil. É importante orientar e incentivar esses jovens a serem criativos

na abordagem da ciência. Isso vai garantir que a agricultura no Brasil continue a crescer e melhorar no futuro”, conclui.

Glenn foi editor da Revista Carbohydrate Polymers por vários anos, trabalha no ARS/USPA há 24 anos, recebeu várias premiações, dentre as quais se destaca uma recebida do secretário de Agricultura dos EUA pelo trabalho em embalagens para alimentos. Possui 125 artigos e 16 patentes e foi presidente da Sociedade Bioenvironmental Polymers, para a qual organizou várias conferências com especialistas do mundo todo.

A consolidação do programa Labex Invertido é uma iniciativa do ex-coordenador do Labex Estados Unidos, Ladislau Martin Neto, que durante sua gestão de dois anos - 2009 a 2011 - à frente do laboratório se empenhou para tornar realidade a vinda de pesquisadores americanos ao Brasil, no mesmo formato em que os pesquisadores brasileiros deixavam o país para trabalhar em laboratórios de instituições estrangeiras.

“A estratégia para consolidar algo desejado pelo programa Labex desde o início de suas atividades foi sensibilizar a alta direção do Serviço de Pesquisa Agrícola (ARS) o que foi conseguido, em grande parte, através da primeira visita do presidente do ARS, Edward Knipling, à Embrapa - em dezembro de 2010 - e às discussões e entendimentos que se sucederam e contaram também com o apoio do diretor-presidente da Embrapa, Pedro Arraes”, explica Martin Neto. A proposta de trazer pesquisadores altamente qualificados, segundo ele, é gerar novos avanços na pesquisa agrícola como um todo e de agregar valor a produtos de origem agrícola, no caso particular de plásticos biodegradáveis de fonte renováveis.

Na Embrapa Instrumentação, Glenn desenvolveu suas atividades de pesquisa no Laboratório Nacional de Nanotecnologia para o Agronegócio, na área de produção de plástico biodegradável e de fonte renovável, na qual o próprio chefe-geral Luiz Henrique Capparelli Mattoso atua, junto com o pesquisador José Manoel Marconcini.

Para Mattoso, ter tido uma pessoa com a experiência do pesquisador Glenn por um ano no Brasil foi uma oportunidade única de desenvolver trabalho conjunto no desenvolvimento de plásticos biodegradáveis de fontes agrícolas brasileiras. “Ele é um dos maiores especialistas neste tema e certamente trouxe contribuições significativas para as pesquisas realizadas na Embrapa”, afirma.

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