Preços do arroz caem 35% com excesso de oferta no mercado

Setor enfrenta estoques elevados, concorrência externa e liquidez limitada

28.10.2025 | 15:26 (UTC -3)
Revista Cultivar, a partir de informações de Camille Magri

O mercado de arroz vive um dos momentos mais desafiadores dos últimos anos. Após a colheita recorde da safra 2024/25, os preços acumulam retração de 35% desde março, atingindo os menores níveis em cinco anos. Segundo análise da Consultoria Agro do Itaú BBA, a forte oferta, somada à baixa competitividade internacional, sustenta o cenário de desvalorização e deve levar à redução de área e de investimentos na próxima temporada.

De acordo com a Conab, a produção nacional atingiu 12,7 milhões de toneladas em 2024/25, 21% acima do ciclo anterior. O avanço foi impulsionado por um aumento de quase 10% na área cultivada e por condições climáticas favoráveis, que garantiram excelente produtividade. No entanto, o consumo interno — estimado em 11 milhões de toneladas — cresceu apenas 5%, evidenciando a inelasticidade da demanda pelo cereal.

Com a oferta superando amplamente o consumo, os estoques finais saltaram para mais de 2 milhões de toneladas, quase quatro vezes o volume do ciclo anterior. Esse excedente explica boa parte da pressão sobre os preços, que estão abaixo do valor mínimo de R$ 63,64 por saca definido para a temporada.

Pacote emergencial tenta aliviar o setor

Diante da crise de rentabilidade, o governo federal anunciou, em 22 de outubro, um pacote emergencial de R$ 300 milhões para apoiar o setor arrozeiro. Os recursos serão aplicados por meio dos programas PEP, Pepro e AGF, com o objetivo de escoar até 630 mil toneladas do cereal e aliviar o mercado interno. A expectativa é de que as operações comecem nas próximas semanas, oferecendo alguma liquidez aos produtores.

Exportações e importações

Entre janeiro e setembro, o Brasil exportou 856 mil toneladas de arroz, aumento de 9,6% em relação ao mesmo período de 2024. Apesar do avanço, os embarques continuam abaixo dos volumes registrados em 2022 e 2023. A valorização do real frente ao dólar e a concorrência com o arroz norte-americano reduziram a competitividade do produto brasileiro no exterior.

Com a alta recente do dólar, houve ligeira melhora na paridade de exportação, mas o ambiente internacional continua desafiador. A produção recorde nos Estados Unidos e a retomada das exportações pela Índia — maior exportador global — intensificam a pressão sobre os preços internacionais.

Mesmo com a ampla oferta doméstica, o Brasil manteve um ritmo constante de importações, favorecido pela boa competitividade do arroz proveniente do Mercosul. O Paraguai respondeu por 72% do volume importado e o Uruguai por 20%, segundo dados da Secex. Os volumes se mantiveram próximos aos de 2023 e superiores aos observados em 2021 e 2022.

Perspectivas para 2025/26

A expectativa para a próxima safra é de retração. A Conab projeta queda de 5,7% na área plantada, que deve recuar de 1,76 milhão para 1,66 milhão de hectares. A produção estimada é de 11,5 milhões de toneladas — 10% menor que na safra passada. A redução reflete o desânimo dos produtores diante da baixa rentabilidade e a tendência de menor uso de tecnologia, como forma de conter custos.

No Rio Grande do Sul, principal estado produtor, o início do plantio foi irregular, com excesso de chuvas nas regiões da Fronteira Oeste e Campanha. Mesmo assim, as lavouras irrigadas não devem ser fortemente afetadas pela presença do fenômeno La Niña, já que o cultivo ocorre em áreas com inundação controlada.

Apesar da perspectiva de menor produção, o Itaú BBA e a Conab indicam que o mercado seguirá com oferta superior à demanda. Os estoques finais devem ficar próximos de 1,8 milhão de toneladas ao fim da temporada 2025/26 — volume ainda considerado alto. As exportações, estimadas em 2,1 milhões de toneladas, serão fundamentais para aliviar os estoques e tentar restabelecer o equilíbrio do setor.

Enquanto isso, o arroz brasileiro enfrenta um cenário de baixa liquidez e rentabilidade reduzida, que desafia a sustentabilidade do cultivo e exige ajustes estratégicos dos produtores para o próximo ciclo.

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