Preço da soja poderá continuar volátil

26.04.2009 | 20:59 (UTC -3)

O presidente da Aprosoja/MT, Glauber Silveira, pontuou durante o Circuito Aprosoja em Rondonópolis que na safra 2009/2010 um dos grandes problemas continuará sendo a volatilidade dos preços da soja que, aliada a outros fatores, gera incertezas.

“Não há sustentação do preço de soja, pode haver queda extra nos valores das commodities, o chamado risco China, aliado a elevação futura na taxa de juros, escassez de crédito além do risco da volta da inflação”.

Luciano Carvalho, da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SPA/Mapa), acrescentou que uma maneira de sair pela tangente é tentar ao máximo negociar os custos com insumos. “Houve 33,3% de recuo no preço da soja futura neste primeiro vencimento de março em relação ao ano passado. E para o cenário não piorar, não pode ocorrer a valorização da taxa de câmbio (real) frente ao dólar, pois a competitividade é reduzida. É necessário ter poder de barganha para tentar comprar a melhores preços os insumos”.

Carvalho frisa que a China é uma grande incógnita e que caso o Produto Interno Bruto (PIB) do país asiático não cresça, deverá haver renegociações nos preços da oleaginosa. “Por exemplo, se o gigante não crescer 8% e apenas 6%, provavelmente irá renegociar preço da soja. Isso já ocorreu com o aço brasileiro”.

O palestrante do Cepea/Esalq/USP, Mauro Osaki, lembra que as tradings estão balançadas com a falta de crédito no mercado internacional. “Quanto à tomada de crédito pelas tradings temos que ressaltar que elas tiveram que pagar a matriz e houve momentos de corte de crédito. O mercado futuro só se estabelece quando comprador e vendedor entram em consenso sobre o preço do produto. E o comprador está na mesma situação de escassez de crédito. É provável que só compre aquilo que realmente irá precisar”.

O produtor rural e conselheiro da Aprosoja/MT Carlos Ernesto Augustin ressalta a necessidade de fazer pressão sobre o governo, que deve disponibilizar mecanismos para que haja fixação de mercadorias no mercado futuro. “O governo de São Paulo anunciou recentemente que irá pagar metade do custo do margeamento para o mercado de opção de contrato futuro. Outro ponto crucial é a variação do custo do insumo. Devemos ter poder de fogo para comprar insumos e pressionar para que a renegociação de dívidas seja repactuada de acordo com a renda”.

Endividamento preocupa produtores de Rondonópolis

O endividamento do setor agrícola mato-grossense, que já está na casa dos R$ 13 bilhões, é a principal preocupação dos sojicultores de Rondonópolis. Ao participarem dos painéis “A Situação Atual da Agricultura em Mato Grosso – Oportunidades e Entraves” e “Cenários de Rentabilidade para próxima safra” durante a noite de quarta-feira (22.04) no Centro de Eventos Ipê, no município, muitos deles questionaram como irão fazer a próxima safra caso necessitem usar mais de 40% de capital próprio, já que até agora as tradings não sinalizaram quanto poderão financiar e a consultoria Agroconsult estima que o aporte das empresas será de pouco mais de 25% do total necessário.

O presidente da Aprosoja/MT, Glauber Silveira concorda que devido à escassez de crédito, agravada pela crise mundial, as contas serão apertadas por isso pediu planejamento. “Temos que nos manter na atividade, fazer muitas contas e ter cautela, buscar a capitalização e recorrer ao planejamento”.

Glauber ressalta que é necessário buscar outra estratégia para poder manter a economia da cadeia de soja aquecida, e tem como alvo o governo federal. “É necessário mudar o conceito, pois uma parte do passivo ocorreu em detrimento dos investimentos que fizemos nas propriedades. É importante refrescar a memória do governo federal, pois grande parte do recurso é porque abrimos áreas nas propriedade, fizemos armazéns, estradas, calcamos nossa terra e tudo isto é ativo. É urgente a equalização das dívidas, mas é fato que temos ativos”.

O economista da FGV Mauro Lopes ratificou a posição do presidente da Aprosoja/MT. “É claro que uma parte das dívidas foi gerada principalmente pela aquisição de máquinas. Mas, o governo deve admitir que houve muitos investimentos da porteira para dentro e para fora e foi isso que sustentou o Brasil até agora. Assim o país está um pouco mais descolado da crise em relação aos países desenvolvidos”.

Já o ex-governador de Mato Grosso e atual diretor da Aprosoja/MT Rogério Salles reforçou outros agravantes que favoreceram o endividamento. “Não houve substituição do crédito rural, houve outras fontes que cobraram juros exorbitantes e isso complicou a vida do produtor.

Imobilizamos o capital de giro e ainda buscamos fontes de crédito para financiar o custeio. O grande equívoco é que 70% do volume de endividamento foram prorrogados por 20 anos, sendo que o governo deveria ter tomado medidas que efetivamente reduzissem o passivo rural, e isso vai exaurindo o setor, não se resolveu o problema de liquidez, de dar rentabilidade aos sojicultores”.

Glauber defendeu que a atividade deve ter rentabilidade, o que acabou impactada pela alta carga tributária e falta de logística. “No porto de Paranaguá pagamos impostos sobre o frete que traz insumos, impostos sobre o óleo diesel e mais e mais impostos. A partir de 2004 houve arrolamento de dívidas e o volume é absurdo. O problema não é só de crédito e sim de falta de rentabilidade, carga tributária exagerada, falta de logística e uma série de outros fatores”.

Por outro lado, o presidente da Aprosoja reconheceu o esforço das entidades rurais para prorrogar as dívidas. “Sabemos que não é o ideal, mas a Comissão de Endividamento da Aprosoja tem trabalhado e alcançamos resultados. As prorrogações deram fôlego para o produtor. Ao pagar 10% da parcela e pagar 1% sob o saldo devedor, do saldo restante, por exemplo, um sojicultor que tinha R$ 100 mil reais pagará parcela de R$ 10 mil e mais 20 mil reais”.

Março fecha com preço de cloreto de potássio 68% mais caro

De acordo com o doutor em economia da Esalq, Cepea, USP, Mauro Osaki que participou do painel “Cenários de Rentabilidade para próxima safra” na quarta-feira (22.04) durante o Circuito Aprosoja em Alto Taquari , os preços de fertilizantes no primeiro trimestre deste ano tiveram comportamentos opostos entre cloreto e fósforo. Enquanto o preço do fertilizante a base de cloreto de potássio (KCL) subiu 68% em março deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, e o preço do fósforo recuou 37%.

A causa da alta no preço do cloreto no ano passado devem-se principalmente pela elevação do preço do KCL no mercado internacional motivada pela menor oferta e a grande demanda dos mercados emergentes como China e Brasil. Até o momento o preço da tonelada do produto não tem recuado no mercado internacional e com isso não dá para trabalhar com preços médios e tentar limpar os estoques.

Segundo dados da Secretaria de Comercio Exterior, neste primeiro trimestre não foi importado nem 10% do que se importou do produto no ano passado, quando entraram no país 1,268 milhões de toneladas, sendo que até agora foram importados 103 mil toneladas. Este valor é a menor quantidade importada no trimestre dos últimos dez anos.

O estoque de passagem do cloreto também esteve alto. “A importação de KCL neste primeiro trimestre de 2009 representa somente 8% ante o primeiro trimestre do ano passado. E neste ano será preciso um pouco de cobertura no solo das propriedades, já que na safra passada houve redução no uso de insumos”.

De acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA) em média o estoque de passagem é de em média 1,5 milhão de toneladas de cloreto de potássio, isto representa quase 30% de estoque, já que no ano passado foi importado 6,7 milhões de toneladas.

Fonte: Ascom Aprosoja/MT -

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