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A pesquisadora da Embrapa Soja Mariangela Hungria está na primeira posição brasileira e é a única da América do Sul no recém lançado ranking dos 100 principais cientistas em Fitotecnica e Agronomia (Plant Science and Agronomy), publicado pelo Research.com, um site que oferece dados sobre contribuições científicas em nível mundial. A pesquisadora comemora a participação nesse ranking, mas considera o momento propício para reflexão. “Embora a liderança brasileira em agricultura seja exaltada, o número de pesquisadores brasileiros no ranking da pesquisa em Agronomia é muito pequeno em relação a outros países, por exemplo, EUA (554), Austrália (183), Reino Unido (141). A agricultura do futuro precisa de ciência, de pesquisa. Claramente o ranking indica baixo investimento em pesquisa na agricultura, que precisa ser revertido se não quisermos ser apenas importadores de tecnologias de ponta na agropecuária”, destaca Mariangela Hungria.
O ranking considera as contribuições científicas - valores de índice h (quantifica a produtividade e o impacto de artigos científicos mais citados), publicações e citações - coletadas em 6 de dezembro de 2021. Foram analisados perfis de 166.880 cientistas do mundo em 21 nas áreas das ciências, disponíveis no Google Scholar e no Microsoft Academic Graph. Na área de Fitotecnia e Agronomia, foram examinados mais de 2.575 perfis. Neste ranking, constam 36 brasileiros, nove da Embrapa, sendo dois renomados cientistas já falecidos, Nand Kumar Fageria (Embrapa Arroz e Feijão) e Johanna Döbereiner (Embrapa Agrobiologia).
Merece destaque ainda o grupo formando por coordenadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Microrganismos na Agricultura (INCT), que conta com cinco pesquisadores entre os 13 primeiros colocados na ranking brasileiro e quatro deles são da Embrapa Agrobiologia (Segundo Urquiaga, Robert Michael Boddey, Verônica Massena Reis e Bruno Alves), além de Johanna Döbereiner. Também há pesquisadores da Embrapa em outras áreas das ciências como Ciência Animal e Veterinária. “A colocação dos coordenadores do INCT no topo da pesquisa mundial confirma o impacto e o alto nível de qualidade que a pesquisa brasileira em microrganismos na agricultura tem no mundo. Investimos muito em colaboração, superação de desafios, trabalho em grupo. E acredito que merecemos oportunidades para expressar todo nosso potencial. Só poderemos expressar nosso potencial com um mínimo de investimento que a cada ano torna-se mais difícil”, comenta Mariangela.
De acordo com o site Research, o objetivo da publicação do ranking é inspirar acadêmicos, empresários e tomadores de decisão em todo o mundo a explorar para onde os principais especialistas estão direcionando suas atividades, bem como para fornecer uma oportunidade para toda a comunidade científica identificar quem são os principais especialistas em campos específicos de pesquisa, em diferentes países ou mesmo dentro de instituições de pesquisa.
Mariangela conduz pesquisas voltadas para o desenvolvimento de inoculantes à base de bactérias que substituem os fertilizantes nitrogenados e possibilitam uma agricultura mais sustentável. Ela é uma das responsáveis pelo desenvolvimento das tecnologias de inoculação e co-inoculação da soja, o que tem promovido grandes saltos de produtividade no campo: a fixação biológica do nitrogênio (FBN) traz uma economia anual de 14 bilhões de dólares ao Brasil, ao dispensar o uso de adubo nitrogenado.
Além dos trabalhos com soja, Mariangela também coordenou pesquisas que culminaram com o lançamento de outras tecnologias: autorização/recomendação de bactérias (rizóbios) para a cultura do feijoeiro, Azospirillum para as culturas do milho e do trigo e de pastagens com braquiárias e coinoculação de rizóbios e Azospirillum para as culturas da soja e do feijoeiro e melhoria das pastagens.
Mariangela possui graduação em Engenharia Agronômica (USP-ESALQ), mestrado em Solos e Nutrição de Plantas (USP–ESALQ), doutorado em Ciência do Solo (UFRRJ) e pós-doutorado em três universidades: Cornell University, University of California-Davis e Universidade de Sevilla. A pesquisadora é comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico e membro titular da Academia Brasileira de Ciências. É pesquisadora da Embrapa desde 1982 e está lotada na Embrapa Soja, desde 1991. É professora e orientadora da pós-graduação em Microbiologia e em Biotecnologia na Universidade Estadual de Londrina e no curso de Bioinformática na Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
Mariangela foi representante da área ambiental e do solo da Sociedade Brasileira de Microbiologia por 20 anos, foi a primeira presidente da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo e atuou como vice-presidente e presidente da RELARE (Reunião da Rede de Laboratórios para a Recomendação, Padronização e Difusão de Tecnologia de Inoculantes Microbianos de Interesse Agrícola), que reúne representantes da pesquisa, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e do setor privado. Também faz parte do comitê coordenador do projeto N2Africa, financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates para projetos de fixação biológica do nitrogênio na África, além de projetos com praticamente todos os países da América do Sul e Caribe, além de países da Europa, Austrália, EUA e Canadá.
Em novembro de 2020, Mariangela Hungria foi classificada entre os 100 mil cientistas mais influentes no mundo, de acordo com estudo da Universidade de Stanford (EUA). O estudo, entitulado “Updated science-wide author databases of standardized citation indicators”, foi realizado a partir de um banco de dados mundial com sete milhões de cientistas e publicado no prestigioso periódico PLOS Biology. No estudo foram usadas as citações da base de dados Scopus, que atualiza a posição dos cientistas em dois rankings: 1) o impacto do pesquisador ao longo da carreira e; 2) o impacto do pesquisador.
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