Pesquisadora da Embrapa é uma das 100 principais cientistas do mundo

Mariangela Hungria é a única da América do Sul a figurar na lista do Research.com

25.04.2022 | 17:24 (UTC -3)
Lebna Landgraf

A pesquisadora da Embrapa Soja Mariangela Hungria está na primeira posição brasileira e é a única da América do Sul no recém lançado ranking dos 100 principais cientistas em Fitotecnica e Agronomia (Plant Science and Agronomy), publicado pelo Research.com, um site que oferece dados sobre contribuições científicas em nível mundial. A pesquisadora comemora a participação nesse ranking, mas considera o momento propício para reflexão. “Embora a liderança brasileira em agricultura seja exaltada, o número de pesquisadores brasileiros no ranking da pesquisa em Agronomia é muito pequeno em relação a outros países, por exemplo, EUA (554), Austrália (183), Reino Unido (141). A agricultura do futuro precisa de ciência, de pesquisa. Claramente o ranking indica baixo investimento em pesquisa na agricultura, que precisa ser revertido se não quisermos ser apenas importadores de tecnologias de ponta na agropecuária”, destaca Mariangela Hungria. 

O ranking considera as contribuições científicas - valores de índice h (quantifica a produtividade e o impacto de artigos científicos mais citados), publicações e citações - coletadas em 6 de dezembro de 2021. Foram analisados perfis de 166.880 cientistas do mundo em 21 nas áreas das ciências, disponíveis no Google Scholar e no Microsoft Academic Graph.  Na área de Fitotecnia e Agronomia, foram examinados mais de 2.575 perfis. Neste ranking, constam 36 brasileiros, nove da Embrapa, sendo dois renomados cientistas já falecidos, Nand Kumar Fageria (Embrapa Arroz e Feijão) e Johanna Döbereiner (Embrapa Agrobiologia). 

Merece destaque ainda o grupo formando por coordenadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Microrganismos na Agricultura (INCT), que conta com cinco pesquisadores entre os 13 primeiros colocados na ranking brasileiro e quatro deles são da Embrapa Agrobiologia (Segundo Urquiaga, Robert Michael Boddey, Verônica Massena Reis e Bruno Alves), além de Johanna Döbereiner. Também há pesquisadores da Embrapa em outras áreas das ciências como Ciência Animal e Veterinária.  “A colocação dos coordenadores do INCT no topo da pesquisa mundial confirma o impacto e o alto nível de qualidade que a pesquisa brasileira em microrganismos na agricultura tem no mundo. Investimos muito em colaboração, superação de desafios, trabalho em grupo. E acredito que merecemos oportunidades para expressar todo nosso potencial. Só poderemos expressar nosso potencial com um mínimo de investimento que a cada ano torna-se mais difícil”, comenta Mariangela.

De acordo com o site Research, o objetivo da publicação do ranking é inspirar acadêmicos, empresários e tomadores de decisão em todo o mundo a explorar para onde os principais especialistas estão direcionando suas atividades, bem como para fornecer uma oportunidade para toda a comunidade científica identificar quem são os principais especialistas em campos específicos de pesquisa, em diferentes países ou mesmo dentro de instituições de pesquisa.

Atividades de pesquisa

Mariangela conduz pesquisas voltadas para o desenvolvimento de inoculantes à base de bactérias que substituem os fertilizantes nitrogenados e possibilitam uma agricultura mais sustentável. Ela é uma das responsáveis pelo desenvolvimento das tecnologias de inoculação e co-inoculação da soja, o que tem promovido grandes saltos de produtividade no campo: a fixação biológica do nitrogênio (FBN) traz uma economia anual de 14 bilhões de dólares ao Brasil, ao dispensar o uso de adubo nitrogenado.

Além dos trabalhos com soja, Mariangela também coordenou pesquisas que culminaram com o lançamento de outras tecnologias: autorização/recomendação de bactérias (rizóbios) para a cultura do feijoeiro, Azospirillum para as culturas do milho e do trigo e de pastagens com braquiárias e coinoculação de rizóbios e Azospirillum para as culturas da soja e do feijoeiro e melhoria das pastagens.

Currículo

Mariangela possui graduação em Engenharia Agronômica (USP-ESALQ), mestrado em Solos e Nutrição de Plantas (USP–ESALQ), doutorado em Ciência do Solo (UFRRJ) e pós-doutorado em três universidades: Cornell University, University of California-Davis e Universidade de Sevilla. A pesquisadora é comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico e membro titular da Academia Brasileira de Ciências. É pesquisadora da Embrapa desde 1982 e está lotada na Embrapa Soja, desde 1991. É professora e orientadora da pós-graduação em Microbiologia e em Biotecnologia na Universidade Estadual de Londrina e no curso de Bioinformática na Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Mariangela foi representante da área ambiental e do solo da Sociedade Brasileira de Microbiologia por 20 anos, foi a primeira presidente da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo e atuou como vice-presidente e presidente da RELARE (Reunião da Rede de Laboratórios para a Recomendação, Padronização e Difusão de Tecnologia de Inoculantes Microbianos de Interesse Agrícola), que reúne representantes da pesquisa, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e do setor privado. Também faz parte do comitê coordenador do projeto N2Africa, financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates para projetos de fixação biológica do nitrogênio na África, além de projetos com praticamente todos os países da América do Sul e Caribe, além de países da Europa, Austrália, EUA e Canadá.

Reconhecimento anterior

Em novembro de 2020, Mariangela Hungria foi classificada entre os 100 mil cientistas mais influentes no mundo, de acordo com estudo da Universidade de Stanford (EUA). O estudo, entitulado “Updated science-wide author databases of standardized citation indicators”, foi realizado a partir de um banco de dados mundial com sete milhões de cientistas e publicado no prestigioso periódico PLOS Biology. No estudo foram usadas as citações da base de dados Scopus, que atualiza a posição dos cientistas em dois rankings: 1) o impacto do pesquisador ao longo da carreira e; 2) o impacto do pesquisador.

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