Pesquisa de soja da região sul é tema de reunião

11.09.2012 | 20:59 (UTC -3)
Leila Maria Costamilan

Entre os dias 24 e 26 de julho, a Embrapa Trigo, em Passo Fundo/RS, organizou a 39ª Reunião de Pesquisa de Soja da Região Sul, evento que reúne, a cada dois anos, entidades de pesquisa, de extensão e de fomento ligadas à cultura de soja no sul do Brasil. Além da Embrapa Trigo, estiveram presentes representantes de várias entidades, como CCGL TECNOLOGIA, Coodetec, EMATER/RS-ASCAR, Embrapa Clima Temperado, Embrapa Soja, Fepagro e UFSM.

A reunião contou com a presença de 205 participantes, que assistiram, no primeiro dia, ao Seminário Técnico do Complexo Agroindustrial de Soja. A primeira palestra foi proferida pelo Dr. Romeu Khiil, diretor técnico da TMG Tropical Melhoramento e Genética Ltda., que abordou as tendências de mercado de cultivares de soja. Segundo Dr. Kiihl, empresas privadas dominam atualmente o mercado, fato diretamente relacionado com o uso de transgênicos. O aumento da participação de cultivares de crescimento indeterminado, presentes em mais de 90% da área de soja no sul do Brasil, é devido à alta produtividade e à adaptação ao plantio antecipado apresentadas por este material. O futuro do melhoramento de soja, no Brasil, está ligado à capacidade de testes (mecanização), à genotipagem (marcadores moleculares) e ao acesso a novos transgênicos.

Seguiu-se a palestra de Flávio Roberto de França Júnior, analista sênior do Grupo SAFRAS & Mercado, que estimou em 10% o aumento de área plantada de soja no país para a safra 2012/13, chegando aos 27 milhões de hectares, com produção prevista de 145 milhões de toneladas de grãos. A quebra de 25% nos estoques mundiais não será revertida rapidamente, o que favorece a participação brasileira no mercado internacional. Aproximadamente 35% da safra brasileira de 2013 já estão vendidas em contratos futuros.

O pesquisador da Embrapa Soja Dr. Ademir Henning abordou dois progressos no tratamento de sementes com fungicidas: o tratamento de sementes industrial (TSI), com equipamentos especiais que asseguram cobertura, dose e qualidade das sementes, possibilitando a comercialização das mesmas já tratadas, e o uso de fungicidas capazes de atuar também em rotas metabólicas secundárias, como estrobilurinas (piraclostrobina) e carboxamidas (sedaxane), que reduzem o impacto de patógenos e possibilitam maior desenvolvimento radicular, aumento do vigor da plântula e proteção da parte aérea contra doenças. Também alertou para os efeitos tóxicos da aplicação, na semente, de misturas de vários produtos.

Novos usos de soja em alimentação foi o tema abordado pela Dra. Mercedes Carrão-Panizzi, da Embrapa Trigo. Cultivares especiais de soja, destinados à alimentação humana, podem viabilizar pequenos produtores e agroindústrias familiares. A Embrapa, pela sua disponibilidade de centros de pesquisa com capacidades diferenciadas, pode desenvolver estudos sobre produtos ou processos diferentes daqueles da indústria, específicos para sojas especiais, como edamame, soja preta, brotos e para uso como hortaliça, que têm potencial para ampliar o mercado e adicionar saúde e diversidade à dieta brasileira.

Para encerrar o seminário, o Dr. José Tadashi Yorinori, profissional homenageado pela Comissão Organizadora da 39ª. Reunião, abordou o controle de ferrugem e de podridões radiculares. Em regiões tradicionais de cultivo de soja, como a Região Sul, é impossível colher uma lavoura isenta de doenças. A ferrugem asiática ainda é uma doença desafiadora, pois vários fatores afetam ou dificultam seu controle, como agressividade, grande capacidade de multiplicação e disseminação favorecida pelo vento. Entretanto, Dr. Tadashi considera que o uso atual de defensivos agrícolas, no Brasil, é exagerado.

A Reunião também contou com a apresentação de relatórios das safras de soja 2010/11 e 2011/12, de lavouras pertencentes à Macrorregião Sojícola 1. A região 101, abrangendo a metade sul do Rio Grade do Sul, foi apresentada pela Dra. Cláudia Lange, do IRGA. Esta região é composta por diferentes ambientes e não é área tradicional de cultivo de soja, embora alguns municípios apresentem produção importante. A área de cultivo vem aumentando, em decorrência do alto valor no mercado internacional, para desinfestação de plantas daninhas de lavouras de arroz, e para reconversão de pastagens através da melhoria da fertilidade do solo. Predominaram precipitações pluviais em volume suficiente e bem distribuídas, na safra 2010/11, propiciando altos rendimentos de grão tanto em lavouras de coxilha quanto de terras baixas, propensas ao excesso hídrico. Na safra 2011/12, a escassa precipitação pluvial entre dezembro e fevereiro causou redução de rendimento de grãos principalmente nos cultivos de coxilha. Para a próxima safra, há intenção de aumento de área cultivada com soja.

O desempenho de lavouras de soja nas duas últimas safras, na região 102, foi apresentado pelo pesquisador Cleiton Steckling, da CCGL TEC. Esta região abrange parte da metade norte do RS, do oeste e do norte de SC e do sul do PR, representando 3,6 milhões de hectares, ocupando 67% das lavouras de soja do RS, 70% das lavouras de SC e 15% das lavouras do PR. Houve chuvas abundantes e bem distribuídas na safra 2010/11, com rendimento médio de 3.004 kg/ha. Na safra seguinte, com chuvas de baixo volume e mal distribuídas, o rendimento médio foi de 1.385 kg/ha, representando diferença de 54% entre as duas safras.

Por fim, as safras de soja 2010/11 e 2011/12 da região 103, que engloba as áreas de temperatura amena do nordeste do RS, do centro de SC, do centro-leste do PR e de parte do sul de SP, foram relatadas pelo Eng. Agr. Cláudio Dóro, da Emater. Próximo ao município de Vacaria, predominaram cultivares dos grupos de maturação relativa 5.5 a 6.0, em sistema plantio direto, com rendimentos médios de 3.100 kg/ha, na safra 2010/11, e de 2.150 kg/ha, na safra 2011/12, representando redução de 30% entre as duas safras. O mercado para grãos destinados à alimentação humana esteve aberto e em expansão na região, com pagamento de 12% de bonificação. Para a próxima safra, ocorrerão ampliação da área de cultivo em 10% e aumento do uso de inoculante e de gesso agrícola. Na região de Campos Novos, SC, onde o cultivo de soja utiliza o sistema plantio direto em toda a área, houve redução de 10% no rendimento de grãos entre as duas últimas safras, passando de 3.300 kg/ha para 2.940 kg/ha. O mercado pagou bonificações para alimentação humana (10%) e para soja convencional (3%). Para a próxima safra, há intenções de ampliação da área em 8%. Na região fria do PR, representada pelo município de Guarapuava, os rendimentos médios entre as duas últimas safras foram praticamente semelhantes, registrando-se 3.697 kg/ha na safra 2010/11, e 3.482 kg/ha na safra 2011/12, com cultivares dos grupos 5.0 a 6.7, predominando aquelas dos grupos 5.0 a 5.9 e, após a colheita de trigo, do grupo 6.3. Há perspectiva de aumento de 4% na área cultivada, para a safra 2012/13. Em SP, onde a soja pode ser cultivada a partir de 15 de setembro, houve pequena redução no rendimento médio de grãos entre as safras, passando de 3.400 kg/ha, em 2010/11, para 3.150 kg/ha, em 2011/12, com previsão de aumento de 34% na área a ser cultivada em 2012/13.

Estas palestras podem ser acessadas na página do evento:

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Foram lançadas 14 cultivares de soja, das empresas Sementes DonMario, Embrapa Soja, Sementes Agropastoril, CCGL –TEC, Coodetec e FT Sementes, e houve a indicação de uso somente de fungicidas à base de mistura de triazois e de estrobilurinas para o controle de ferrugem de soja.

A Comissão de Ecologia, Fisiologia e Práticas Culturais teve papel fundamental na discussão e no encaminhamento de pleito trazido pela FARSUL, que solicitou alterações no Zoneamento Agrícola de Risco Climático para a cultura da soja no Estado do Rio Grande do Sul, visando à antecipação de época de semeadura na Região Edafoclimática 101 e inclusão de municípios não contemplados para a safra 2012/13, conforme Portaria 136/2012 (DOU 10/07/2012).

Em prosseguimento, a Coordenação da Reunião enviou mensagem à Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, solicitando esta revisão do Zoneamento Agrícola. Várias entidades foram signatárias da carta: Cooperativa Agrária Industrial; Cooperativa Agroindustrial Alegrete Ltda. – CAAL; Cooperativa Central Gaúcha de Laticínios – Tecnologia – CCGL-TECNOLOGIA; Embrapa Clima Temperado; Embrapa Soja; Embrapa Trigo; Emater-RS; Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul – FARSUL; Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária – Fepagro; Instituto Rio-Grandense do Arroz – IRGA; Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM; Pontifícia Universidade Católica – PUC-PR, Campus Toledo; Sindicato Rural de Ibirubá-RS; Syngenta Brasil; e Universidade de Passo Fundo – UPF.

Como resultado, o Mapa publicou a Portaria nº 175/2012, em 22/08/2012, alterando o Zoneamento Agrícola para soja no RS, antecipando datas de semeadura e incluindo os municípios de Rio Grande, Chuí, Santa Vitória do Palmar, Santo Antônio da Patrulha e Capivari do Sul. Esta portaria está disponível para consulta em http://www.in.gov.br/autenticidade.html, pelo código 00012012082200002.

O boletim das Indicações Técnica para a Cultura da Soja no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, safras 2012/2013 e 2013/2014, pode ser acessado na página da Embrapa Trigo (

). A próxima Reunião de Pesquisa de Soja da Região Sul está prevista para ocorrer em 2014, sob responsabilidade da Embrapa Clima Temperado, em Pelotas.

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