Pelos Caminhos Rurais do Brasil e da França

01.10.2009 | 20:59 (UTC -3)

Exposição no Museu Luiz de Queiroz traça paralelo entre o caipira do Brasil e o camponês da França.

Terra com cultura...Terra lavrada... duas pequenas frases que, se fossem lançadas em meio a nossa frenética rotina, certamente seriam interpretadas sob a ótica do desenvolvimento, do agronegócio, da economia de um País, principalmente quando ditas ou realizadas no âmbito de uma Escola Superior de Agricultura. Porém, vejamos com outros olhos. Olhos que percebam a poesia, o lirismo e o encantamento peculiar de expressões que traduzem a alma do homem do campo, presente em todo coração urbano, na busca de sensações como sons, cheiros e cores, continuamente ausentes de nossas cinzentas rotinas.

“Em qualquer parte da Terra

Um homem estará sempre plantando,

Recriando a Vida.

Recomeçando o Mundo”.

A relação homem/terra/vida/universo, concebida por Cora Coralina em “Poema do Milho”, mostra que o ser humano, personagem universal, caminha em diferentes espaços geográficos tão próximos pela humanização que os valores da terra estimulam. A bucólica e imponente Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ) abrigou, em 2005, a exposição “Retratos da Roça”, exibindo em telas e poesias de autoria de Sônia Maria De Stefano Piedade, Carmen Maria da S. Fernadez Pilotto e de outros autores brasileiros, a simplicidade da rotina do campo. Hoje, em comemoração ao Ano do França no Brasil, esse panorama campestre foi reeditado e transformado na exposição “Pelos caminhos rurais do Brasil e da França: onde o camponês e o caipira se encontram”, com a proposta de promover um encontro dos países nas diferentes expressões da Arte.

Forma, saberes e sabores comuns se consistem no mote da exposição. Intertextualidade na Arte expressadas na pintura, literatura, fotografia, música e gastronomia. Ao lado das telas que retratam cenários e utensílios do nosso caipira, se inserem figuras humanas de camponeses franceses compatíveis com a realidade adorável do campo. A artista plástica e professora da ESALQ, Sônia Piedade, revela que a exposição é fruto de cinco anos de trabalho. “Trago 16 telas para a exposição, todas pintadas ao vivo ou inspiradas em cenários do meio agrícola como canaviais, cafezais, plantações de milho e outros. Chegamos a montar cenários no ateliê para representar o meio rural, a atividade do caipira”, explica.

Na exposição, a veracidade ao transmitir o ambiente rural pode ser contemplada em duas telas que foram pintadas no escuro, apenas com iluminação de velas, representando a madrugada do bóia-fria, hora em que o trabalhador arruma sua marmita antes de partir para mais uma jornada. “O Brasil tem que ser representado assim, pois grande parte da nossa população ainda trabalha duro no campo e esses personagens tem uma extrema importância socioeconômica. Lá dentro, ainda temos muito do caipira e pra que perder isso? Essa é nossa origem e temos que nos orgulhar disso”, conclui a artista.

Para a poetisa Carmen Pilotto, a idéia foi encontrar onde o francês e o brasileiro se assemelham. “Pensamos em resgatar a nossa identidade caipira que é muito parecida com a realidade do camponês francês. Valores, hábitos, sons e saberes são muito próximos”, revela. A partir da publicação “Paysans 366 proverbes et dictons au rythme des saisons”, Carmem selecionou imagens que retratam paisagens da França e que completam a sinergia com o ambiente rural brasileiro. “Assim notamos que o elemento humano da França se insere nas nossas cenas e utensílios e concluímos a exposição a partir da intertextualidade entre fotos, quadros e textos franceses e brasileiros, gastronomia, danças e músicas”. Na prática, a exposição é um convite que funde uma imagem do livro francês e uma tela de Sonia Piedade. O elemento humano é retratado na mesma posição e com a mesma ferramenta. Ainda no mesmo plano, o visitante se depara com textos que passam por autores como Cora Coralina e Cornélio Pires, devidamente conciliados com produções de escritores piracicabanos pertencentes ao Centro Literário de Piracicaba (CLP).

Por exemplo, o texto “Louvação aos temperos”, de Maria Cecília Ganer Fessel, tem sua interface com a tela “Canto da Cozinha” e com a foto que retrata um garoto inserido em uma cesta de cebolas. “A interação é imediata e optamos por não traduzir nem o textos franceses (que acompanham as fotos), nem os brasileiros (que acompanham as telas) para evitar qualquer erro de interpretação, uma vez que são textos poéticos. Nós temos um cotidiano muito próximo, cada atividade diária elucida hábitos, utensílios e retratos bastante semelhantes”, conclui Carmen.

Um cardápio musical sob responsabilidade da maestrina Cíntia Pinotti, fará parte da abertura da exposição, quando o Grupo Vocal do Coral Luiz de Queiroz apresentará músicas folclóricas das duas nações. “Com relação à música, a proximidade pode ser citada com o caso do acordeon, que é muito tocado nos campos franceses e no interior paulista, ou seja, há certamente essa interação, somos separados apenas geograficamente, mas o homem do campo é o mesmo, seja na França ou aqui”, lembra a curadora Carmem Pilotto.

As expositoras

Sônia Maria De Stefano Piedade

Engenheira agrônoma formada pela ESALQ. Atua como professora doutora do departamento de Ciências Exatas (LCE) da instituição pela qual se graduou. Iniciou seus trabalhos artísticos em 1975, tendo orientação dos pintores Clemência Pizzigatti, Archimedes Dutra, Olavo Ferreira da Silva, Gil Schreiber da Silva e Eduardo Borges de Araújo. Expositora nos mais expressivos salões de artes plásticas da região desde 1988 detém inúmeros prêmios nestes certames. Membro da Comissão de Cultura e Extensão Universitária da ESALQ, orgulha-se de sua instituição, tendo contemplado a Escola com inúmeras imagens de sua arte em livros e anais acadêmicos.

Carmen Maria da Silva Fernandez Pilotto

Bacharel em Letras, formada pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), atua como assistente técnico de direção da ESALQ. Membro do Centro Literário de Piracicaba, CLIP, e do Grupo Oficina Literária (GOLP). Publica regularmente na imprensa piracicabana tendo participado de diversas antologias na região. Vencedora de diversos concursos nacionais, representou Piracicaba no Mapa Cultura Paulista nos anos de 1999, 2001 e 2009. Integra regularmente júris de concursos literários regionais. É autora dos livros Partículas Suplementares (poesia) e Quatro cantos em quatro contos (infantil).

O evento, que acontece entre 6 e 30 de outubro, no Museu e Centro de Ciência, Educação e Artes “Luiz de Queiroz”, faz parte da programação cultural do Workshop “Brasil França 2009”. A realização é da Comissão (CCEx) e do Serviço (SVCEx) de Cultura e Extensão Universitária e Seção de Atividades Culturais da ESALQ. A exposição poderá ser vista das 8h00 às 11h30 e das 13h30 às 17h00. Informações pelo telefone (19) 3429.4392.

Alicia Nascimento Aguiar e Caio Albuquerque

Esalq

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