Mistura de milhos gera evolução no voo da lagarta-da-espiga

Pesquisa nos EUA mostra que dieta mista acelera alteração morfológica em Helicoverpa zea

02.12.2025 | 07:47 (UTC -3)
Revista Cultivar
Foto: Rebekah D Wallace, University of Georgia
Foto: Rebekah D Wallace, University of Georgia

Pesquisa revelou que a dieta da lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea), quando composta por mistura de milho Bt (transgênico) e não-Bt, pode provocar mudanças drásticas na morfologia das asas dos insetos adultos.

Os resultados indicam que essas alterações conferem maior aerodinâmica aos insetos, favorecendo o voo de longa distância e, por consequência, a disseminação mais rápida da resistência às toxinas Bt.

O estudo mostra que bastou uma geração alimentada com essa dieta mista para que os insetos desenvolvessem asas mais longas, finas e com formato afunilado -- comparáveis a asas de aviões de combate.

Como o milho Bt funciona

O milho Bt foi projetado para produzir proteínas que matam pragas (Cry1Ab, Cry1F, Vip3A e outras). Atualmente, cerca de 80% do milho cultivado nos Estados Unidos contém essas toxinas. A prática agrícola inclui o plantio de áreas com sementes misturadas: 80% Bt e 20% não-Bt. Essa mistura visa atrasar a resistência das pragas às toxinas, ao permitir que sobrevivam insetos suscetíveis.

Porém, os dados do estudo sugerem o efeito inverso. Segundo Dominic Reisig, coautor do artigo e especialista em entomologia, essa combinação de dietas acelera a seleção de insetos resistentes e favorece características físicas que aumentam seu potencial de dispersão. “Esses insetos conseguem alcançar ventos mais fortes e viajar por distâncias maiores”, explica.

Morfologia alterada

Os pesquisadores compararam as asas de quatro grupos de lagartas: alimentadas exclusivamente com milho não-Bt; com milho Bt com duas toxinas; com milho Bt com três toxinas; e com a mistura de sementes (80% Bt e 20% não-Bt). O grupo que consumiu a dieta mista apresentou as asas mais aerodinâmicas e resistentes ao vento, com mudanças observadas já na primeira geração.

Diferenças médias na forma das asas visualizadas usando uma construção em estrutura de arame sobreposta à asa de <i>Helicoverpa zea</i> para fêmeas de <b>(a)</b> milho Bt com 3 toxinas em um cultivo puro (azul claro) e uma mistura de sementes com 80% de milho Bt com 3 toxinas e 20% de milho não-Bt (azul escuro); e <b>(b)</b> milho não-Bt em um cultivo puro (vermelho) e uma mistura de sementes com 80% de milho Bt com 3 toxinas e 20% de milho não-Bt (azul escuro) -&nbsp;doi.org/10.1093/ee/nvaf117
Diferenças médias na forma das asas visualizadas usando uma construção em estrutura de arame sobreposta à asa de Helicoverpa zea para fêmeas de (a) milho Bt com 3 toxinas em um cultivo puro (azul claro) e uma mistura de sementes com 80% de milho Bt com 3 toxinas e 20% de milho não-Bt (azul escuro); e (b) milho não-Bt em um cultivo puro (vermelho) e uma mistura de sementes com 80% de milho Bt com 3 toxinas e 20% de milho não-Bt (azul escuro) - doi.org/10.1093/ee/nvaf117

Análises morfométricas e modelagens computacionais mostraram que essas asas, principalmente nas fêmeas, deformam menos sob ação do vento, o que permite voos mais longos e eficientes.

Necessidade de revisão

A pesquisa reforça observações anteriores que apontam para limitações no modelo atual de refúgios mistos. Além disso, ela amplia o entendimento sobre os efeitos indiretos das práticas agrícolas no comportamento das pragas. As evidências obtidas sugerem que o uso de misturas Bt e não-Bt não apenas falha em conter a resistência, mas pode acelerar sua propagação.

As conclusões do estudo indicam que a resistência de Helicoverpa zea vai além da genética: incorpora características morfológicas e biomecânicas que favorecem o sucesso adaptativo da praga. Conforme os pesquisadores, essa constatação exige revisão nas diretrizes de manejo integrado e políticas de uso de biotecnologia agrícola nos Estados Unidos e em outros países que adotam o modelo de plantio Bt.

Outras informações em doi.org/10.1093/ee/nvaf117

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