Gênero de nematoide descoberto no Brasil homenageia mestres da nematologia

Monteironema caresi, encontrado em folhas de corda-de-viola, representa um marco na taxonomia de nematoides parasitos de plantas

01.12.2025 | 14:46 (UTC -3)
Claudio Marcelo Oliveira, edição Revista Cultivar
<b>(A)</b> Região labial de uma fêmea semi-obesa; <b>(B)</b> campos laterais, mostrando quatro incisuras (setas); <b>(C)</b>&nbsp;cauda; <b>(D)</b>&nbsp;espículas; <b>(E)</b> vulva. <b>Abreviações:</b> a = apêndice, f = Campo lateral, s = espículas, v = vulva. Barras de escala: A = 1 µm; B, C = 5 µm; D, E = 2 µm.
(A) Região labial de uma fêmea semi-obesa; (B) campos laterais, mostrando quatro incisuras (setas); (C) cauda; (D) espículas; (E) vulva. Abreviações: a = apêndice, f = Campo lateral, s = espículas, v = vulva. Barras de escala: A = 1 µm; B, C = 5 µm; D, E = 2 µm.

Nematologistas brasileiros descreveram um novo gênero e espécie de nematoide foliar, Monteironema caresi, parasita de plantas do gênero Ipomoea, popularmente conhecidas como corda-de-viola. O achado, publicado recentemente no Russian Journal of Nematology, amplia o conhecimento sobre a biodiversidade de nematoides associados às plantas e reconhece a contribuição de dois dos maiores nomes da Nematologia Brasileira.

Descoberta nas folhas da corda-de-viola

A descoberta teve início quando o professor Robert Weingart Barreto encontrou no campus da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, plantas de corda-de-viola infectadas por um nematoide desconhecido. O material foi encaminhado ao laboratório de nematologia da UFV, onde se deu início à investigação taxonômica.

A nova espécie de fitonematoide foi encontrada em folhas de Ipomoea cairica e I. syringifolia. As plantas apresentavam pequenas manchas cloróticas e necróticas, delimitadas pelas nervuras, sintomas que podem apontar a presença de nematoides foliares. A equipe, liderada pela Professora Dalila Sêni Buonicontro, do Departamento de Fitopatologia da UFV, em colaboração com o pesquisador Claudio Marcelo G. Oliveira, do Instituto Biológico (IB-SP) e de outras instituições nacionais e internacionais, realizou uma caracterização detalhada do organismo por meio de análises morfológicas e moleculares (filogenéticas e de delimitação de espécies).

Os resultados mostraram que o nematoide não se enquadrava em nenhum dos gêneros conhecidos da família Anguinidae, grupo que inclui espécies parasitas de folhas, caules, sementes e flores. As análises moleculares confirmaram que se tratava de uma linhagem independente, justificando a criação de um novo gênero e uma nova espécie: Monteironema caresi.

Características que definem um novo gênero

Os adultos de Monteironema caresi medem de 0,4 a 0,9 milímetro e ocorrem em três formas distintas -- fêmeas semi-obesas, fêmeas imaturas e machos delgados. Apresentam corpo fusiforme, cutícula finamente estriada e um estilete (estrutura usada para perfurar tecidos vegetais) curto e robusto.

O sistema digestivo e o reprodutivo possuem combinações de características únicas, reforçando sua distinção em relação a outros gêneros da família. Diferentemente de muitos anguinídeos que provocam galhas ou deformações nas plantas, Monteironema caresi causa manchas foliares -- um tipo de sintoma menos frequente entre nematoides desse grupo, mas de grande interesse para estudos ecológicos e de fitopatologia.

Homenagem a dois mestres da nematologia brasileira

O nome Monteironema caresi é uma homenagem a dois professores, taxonomistas de nematoides, cuja trajetória marcou a história da Nematologia no Brasil: Prof. Dr. Ailton Rocha Monteiro (ESALQ/USP) e Prof. Dr. Juvenil Enrique Cares (Universidade de Brasília). A fusão dos nomes ‘Monteiro’ e ‘Cares’ deu origem ao epíteto, simbolizando o legado e a continuidade da pesquisa nematológica brasileira.

Homenageados: professores&nbsp;Ailton Rocha Monteiro e Juvenil Enrique Cares
Homenageados: professores Ailton Rocha Monteiro e Juvenil Enrique Cares

Importância científica e ecológica

A descoberta ressalta o valor da taxonomia integrativa, que combina análises morfológicas e genéticas para delimitar espécies com maior precisão. Ela também demonstra como a rica biodiversidade brasileira ainda guarda formas de vida desconhecidas, inclusive em áreas amplamente estudadas como Viçosa. Além do avanço taxonômico, o estudo contribui para o entendimento das relações entre nematoides e plantas hospedeiras, podendo inclusive apoiar estratégias de manejo de espécies invasoras como a corda-de-viola (Ipomoea cairica), que compete com culturas agrícolas em várias regiões tropicais.

Um legado de ciência e formação

Mais do que uma nova espécie, Monteironema caresi representa o elo entre gerações de pesquisadores brasileiros dedicados ao estudo dos nematoides. A homenagem aos Mestres Monteiro e Cares celebra não apenas suas carreiras científicas, mas também a tradição de ensino, colaboração e curiosidade que inspira a nova geração de nematologistas no Brasil. É a Ciência Brasileira revelando o mundo microscópico e valorizando quem a faz!

Outras informações em russjnematology.com/Articles/rjn332/buonicontro.html

Compartilhar

Newsletter Cultivar

Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura

acessar grupo whatsapp
Background Newsletter

Newsletter Cultivar

Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura