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Um dos painéis de discussão do workshop sobre milho transgênico que terminou nesta sexta-feira (9), na Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG) foi sobre os custos e os benefícios da produção desse tipo de cereal. Quatro profissionais de diferentes áreas de atuação deram contribuições para o debate.
Anderson Galvão, da Céleres, empresa de consultoria em mercado agrícola, lembrou que, do ponto de vista histórico, após muita discussão, chegou-se, no Brasil, a um ritmo por ele considerado normal de trabalho no que se refere à avaliação e à eventual aprovação de transgênicos. Segundo Anderson, a primeira avaliação da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), realizada em 1999, demorou 100 meses. Hoje, o tempo gasto gira em torno de 10 meses.
Atualmente, há 33 eventos transgênicos aprovados no Brasil para quatro culturas agrícolas diferentes. O milho lidera, com 18 eventos, seguido do algodão, com nove, da soja, com cinco, e do feijão, com um. Em termos de área total cultivada com transgênicos, também de acordo com a Céleres, o milho de inverno (ou milho segunda safra ou, ainda, milho safrinha) registrou quase 83% no último plantio, aproximando-se bastante da soja, que teve mais de 85% de adoção.
Chama a atenção a rapidez da expansão do milho transgênico no campo. Em apenas quatro safras, já é quase 65% o índice de adoção por área plantada, bem acima, por exemplo, dos 39% registrados pelo algodão, cujo plantio transgênico foi autorizado há oito safras. De acordo com Anderson, "hoje, o produtor de milho paga mais satisfeito R$ 400,00 por saca de milho transgênico do que pagava, antes, R$ 100,00 / R$ 120,00 por milho convencional".
Também segundo números da Céleres, no ano agrícola 2010/2011, cerca de 77% da área plantada com alta tecnologia produziu quase 94% do milho no país. Complementarmente, nos outros 23% de área, onde a adoção de tecnologia foi baixa, produziu-se os mais de 6% restantes. A avaliação feita por Anderson é de que esse desequilíbrio no quadro de oferta de milho é resultado da existência de duas realidades na produção: de um lado, produtores que usam alta tecnologia e têm forte interação com o mercado; de outro, produtores que usam pouca tecnologia e interagem pouco com o mercado.
"Hoje, é mais simples, com a adoção do milho transgênico, produzir milho que soja. Há cinco anos, era o contrário", defende Anderson, para quem os produtores brasileiros estão plantando por existirem opções adaptadas às diferentes regiões. Em termos de rentabilidade, atualmente é mais vantajoso para os produtores de alta tecnologia plantar milho transgênico do que algodão.
O professor José Maria da Silveira, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), falou sobre os impactos da regulação no cultivo do milho. Segundo ele, é difícil encontrar algum produtor que tenha revertido a opção, ou seja, que antes plantava transgênico e deixou de plantar. Para o professor, o debate hoje não é mais sobre plantar transgênico ou convencional, já que ele considera a transgenia uma estratégia vencedora. O que é preciso debater são os impactos ambientais. Num novo ambiente de complexidade, a geração e a difusão de inovações caminham juntas.
Em relação à agricultura, o professor lembra que o Brasil é um país muito heterogêneo e que há produtores que acabam não utilizando a tecnologia da maneira correta. José Maria considera legítimo o debate que se trava sobre novas tecnologias, como tem ocorrido com os transgênicos, mas diz que o mesmo não acontece com a nanotecnologia, que também passa por grande expansão.
Após vários estudos de rotas de produção de milho no Brasil, o professor concluiu que "a exigência de testes para segregação de cargas afeta a produção, principalmente no Centro-Oeste". Ou seja, a necessidade de identificação de eventos transgênicos nas cargas de milho transportadas causa impacto sobre o comércio de grãos, entre eles o milho.
Escolha racional: João Carlos Garcia, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, salientou que o agricultor é racional e baseia suas escolhas em critérios como aumento da produtividade e redução dos custos de produção. Para ele, no caso de eventos transgênicos, o produtor leva em consideração os danos potenciais (queda de produção) a serem evitados, a produtividade potencial, o preço do produto agrícola, além do custo e da eficiência dessa alternativa.
O pesquisador faz um paralelo entre a decisão de plantar ou não milho transgênico com a escolha que o produtor precisa fazer quando se depara, no mercado, com os diferentes híbridos (duplos, triplos e simples). Em outras palavras, essa decisão passa pela possibilidade de ganhar mais dinheiro e é tomada de forma bastante racional.
Segundo dados da APPS (Associação Paulista de Produtores de Sementes) apresentados por João Carlos, a adoção de sementes transgênicas tem aumentado a cada ano agrícola. Na safra de verão 2009/2010, eram 36%, índice que subiu para 58% em 2010/2011 e para 73% em 2011/2012. Houve crescimento também na safra de inverno, que registrou 41% em 2010, 70% no ano seguinte e tem expectativa de chegar a 79% em 2012.
Segundo o pesquisador, o mercado brasileiro de sementes de milho já era concentrado, mesmo que em menor grau, antes do surgimento dos transgênicos. A concentração começou quando modificaram-se os tipos de milho mais usados, saindo das variedades e passando por híbridos duplos, triplos e simples, e quando padrões de qualidade mais elevados passaram a ser buscados. Para o futuro, é importante acompanhar o processo de expiração de patentes em curso, acompanhar o cenário tecnológico e manter o desenvolvimento de novas cultivares dentro dos padrões adequados de qualidade. "Num eventual mundo só de transgênicos, o convencional é que seria o diferencial", lembra João Carlos.
Já o agrônomo Marcos André Paggi, da Copercampos (Cooperativa Regional Agropecuária de Campos Novos), com atuação em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, falou sobre a utilização de milho transgênico no Brasil na visão dos produtores. Segundo ele, "ainda não dá pra enfatizar, na nossa região, grande aumento da produção de milho" por causa da opção dos transgênicos. O que tem ocorrido é aumento na qualidade do grão e não aumento na produção.
O agrônomo mostrou um estudo feito na cooperativa em cima dos custos de produção de milho convencional e transgênico. O convencional ficou mais barato e proporcionou rentabilidade maior e custo da saca por hectare menor, tanto em 2011 como neste ano. "Cada produtor tem que ver se o transgênico é bom pra ele. O transgênico é uma ferramenta", sintetizou Marcos André, lembrando que outras práticas precisam ser consideradas, como rotação de culturas, tratos culturais e época adequada de plantio.
Mais informações: NCO (Núcleo de Comunicação Organizacional) da Embrapa Milho e Sorgo, Unidade da Embrapa, vinculada ao Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento): (31) 3027-1223 ou
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