Calibragem correta dos pneus de tratores
Como calibragem de pneus melhora tração, gera menos patinagens, menor consumo de combustível e diminui a compactação do solo
Conhecida por todos os cafeicultores, a broca-do-café Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Scolytidae) foi observada no Brasil pela primeira vez em 1913, no estado de São Paulo. É uma praga de origem africana que foi introduzida por meio de sementes de café infestadas e rapidamente disseminou-se para todas as regiões cafeeiras do País, sendo considerada uma das principais pragas do cafeeiro.
As larvas deste pequeno besouro causam danos aos grãos de café, pois vivem em seu interior e se alimentam do conteúdo interno do grão verde ou maduro, ocasionando assim perdas quantitativas e qualitativas que vão da queda de frutos e diminuição do peso à alteração da bebida no processamento final do café. A perda de qualidade na bebida não está diretamente ligada ao ataque da broca ao grão de café, mas sim pela facilidade com que micro-organismos penetram no fruto através do orifício feito por esse inseto, como alguns fungos do gênero Fusarium e Penicillium. Referente às perdas quantitativas, estudos demonstraram que a queda natural dos frutos, ocasionada pelo ataque da broca, pode atingir 13% em cultivos de Coffea arabica L. (Arábica) e em torno de 46% em Coffea canephora Pierre & Froehner (Conillon).
Os frutos atacados que permanecem na planta têm redução de peso e, durante seu processamento, podem quebrar devido à fragilidade e serem descartados no descascamento. Além disso, fragmentos de insetos no produto comercial podem gerar barreiras fitossanitárias, impedindo que o produto seja exportado, visto que a demanda internacional se baseia em cafés de qualidade superior.
O ovo dessa praga é arredondado, com superfície esbranquiçada e brilhante, medindo ao redor de 0,5mm. O tempo para a larva eclodir é influenciado principalmente pela temperatura e umidade, variando de quatro dias a 16 dias. A larva é de coloração esbranquiçada e ligeiramente transparente. Em estádio mais jovem, tem corpo mais largo no centro e afunilado nas extremidades, com cerca de 0,75mm de comprimento. Quando totalmente desenvolvida, mede até 2mm de comprimento, sendo que o estágio larval pode durar de 14 dias a 27 dias.
A pupa da broca-do-café apresenta coloração esbranquiçada no início dessa fase e escurece à medida que amadurece, tendo muitas vezes a coloração dourada na fase final de desenvolvimento. O comprimento médio da pupa varia de acordo com o sexo, sendo que a fêmea é maior e mede ao redor de 1,84mm, enquanto o macho tem 1,30mm. O período pupal varia de sete dias a 16 dias.
O adulto possui diferenças morfológicas entre os sexos, de forma que a fêmea é sempre maior, medindo ao redor de 1,80mm. O corpo é totalmente preto, exceto pelas antenas e pernas, que são mais claras (castanho-claro) que o corpo. As asas são constituídas por élitros escuros e com aparência encerada brilhante. O macho, por sua vez, apresenta sempre tamanho reduzido, com aproximadamente 1,25mm. O macho dessa espécie não voa por possuir suas asas atrofiadas. Referente à duração da fase adulta, a fêmea pode viver até 285 dias e o macho, apenas 50 dias. Em uma população desse inseto, apenas 9,3% são machos, salientando que a proporção sexual característica da espécie é de um macho para dez fêmeas.
A cópula ocorre dentro do fruto, onde a fêmea se torna adulta, pois o macho nunca deixa o fruto perfurado. Após a cópula, a fêmea fértil deixa o fruto e começa um novo ciclo, podendo colocar ao todo 120 ovos durante aproximadamente 20 dias. No período de setembro a dezembro, devido às altas temperaturas, essa praga pode alcançar até sete gerações.
No período de “trânsito”, a broca-do-café apresenta um comportamento em que a fêmea adulta abandona o fruto remanescente da safra anterior e ataca o fruto verde desenvolvido (chumbão) da nova safra, onde coloca seus ovos. O monitoramento populacional dessa praga na lavoura deve começar três meses após a grande florada, que ocorre geralmente em outubro. No período de novembro a janeiro, os grãos de café estão com alto teor de umidade, cerca de 86%, e, em função disso, as brocas perfuram os frutos mas os abandonam logo em seguida, sem colocar ovos, pois não se constituem em alimento ideal para as larvas se desenvolverem.
O monitoramento populacional da broca nos cafezais é importante por estar diretamente relacionado com as estratégias de controle. A amostragem deve ser realizada por meio da coleta dos grãos em diversos pontos do cultivo, coletando principalmente frutos da parte mais baixa e úmida da lavoura. Para a amostragem, é recomendado formar talhões não muito extensos (cerca de 5ha), para facilitar o caminhamento entre o cultivo durante as amostragens. Deve-se amostrar ao menos 30 plantas em cada talhão, caminhando-se em zigue-zague aleatoriamente, observar 60 frutos em cada planta, sendo dez frutos por ramo escolhido e registrar em planilha o número de frutos com perfurações. Em seguida, a porcentagem de infestação é calculada por meio da divisão do número total de frutos atacados pelo valor fixo de 18. Quanto ao nível de controle, tem-se recomendado de 3% a 5% de frutos brocados para aplicação de inseticidas; entretanto, existem casos onde se tem realizado o controle com cerca de 1%, visto que alguns inseticidas atuam melhor em infestações mais baixas e também pelo fato de as populações desse inseto apresentarem alto potencial biótico.
O manejo da broca-do-café pode ser realizado por meio dos métodos cultural, comportamental, biológico e químico. É importante que possam ser utilizados de forma integrada para a regulação populacional da broca em lavouras cafeeiras.
Constitui-se, talvez, no mais eficiente método de controle da broca-do-café. Os cafezais devem ser plantados em espaçamentos que permitam maior arejamento e penetração de luz, a fim de propiciar baixa umidade do ar em seu interior, condições que são desfavoráveis à praga, além de permitir a circulação de pulverizadores acoplados a tratores nas ruas de cultivo.
Deve-se realizar a colheita bem feita, visto que dentre os frutos deixados no chão e/ou na planta, pesquisas demonstraram que em torno de 75% estão contaminados com a broca; assim, uma das formas de controlá-la é destruir os restos de frutos deixados no chão. A colheita deve ser sempre iniciada nos talhões que apresentarem os cafeeiros mais infestados, a fim de que sejam evitados maiores prejuízos, pois a broca apresenta grande capacidade de reprodução e, em anos de alta infestação, os últimos talhões a serem colhidos apresentarão, sem dúvida, aumento de populações de broca e consequentemente maiores prejuízos.
Após a colheita, o repasse com catação de frutos remanescentes na planta e/ou no chão deve ser realizado. Essa atividade, já praticada nos primórdios da cafeicultura brasileira, deve ser levada em consideração para o manejo da broca-do-café, em virtude dos altos custos e da baixa eficiência de controle desse inseto por alguns inseticidas atualmente registrados.
Nesse método de controle destaca-se o uso de armadilha com semioquímico, que é obtido pela mistura de três partes de metanol e uma parte de etanol mais a adição de café puro torrado e moído, na proporção de uma colher de sopa cheia por litro de solução. Atualmente, esse tipo de armadilha vem sendo mais utilizado para o monitoramento da broca no seu período de trânsito, sendo recomendada a instalação de uma a duas armadilhas por hectare.
O uso do fungo Beauveria bassiana tem sido bastante difundido entre os cafeicultores, porém esse organismo se mostra eficiente no controle da broca somente quando aplicado em condições de umidade maior que 65% e temperaturas entre 25°C e 30°C. O fungo germina sobre o tegumento do inseto, atravessa a cutícula e penetra na cavidade geral do corpo. Em seguida, produz conídios em grande quantidade que vão ser responsáveis pela morte da broca e também pela sua disseminação por meio da esporulação. O inseto morto pelo fungo permanece geralmente na região da coroa do fruto e com a parte externa do corpo branca.
O controle químico da broca-do-café deve ser realizado 90 dias após a grande florada (geralmente em janeiro), porém dependendo da região e das condições climáticas (como alta umidade), pode ser antecipado para 60 dias após a grande florada. É de suma importância que as amostragens sejam realizadas no período de “trânsito” da broca para determinação do nível de infestação e aplicação do inseticida. Os maiores espaçamentos de plantio utilizados nas lavouras cafeeiras do Brasil permitem pulverizações de produtos químicos com pulverizadores acoplados a tratores. Desta forma, torna-se prático o uso de inseticidas, diferentemente do que ocorre em alguns países produtores que praticam uma cafeicultura adensada e ou sombreada. É importante salientar que o método químico só é eficiente se os inseticidas forem aplicados no período de “trânsito” da broca, em que as fêmeas estão selecionando os frutos para depositarem seus ovos, permanecendo, na maioria das vezes, do lado de fora.
No Agrofit/Mapa (2020) são encontrados 26 produtos comerciais para controle da broca-do-café, pertencentes aos seguintes grupos químicos: diamida antranílica, tetranortriterpenoide, semicarbazone, fenilpirazol, avermectina, espinosinas, éter difenílico e organofosforado.
Como o ataque da broca não apresenta distribuição uniforme em lavoura cafeeira, recomenda-se o controle apenas nos talhões cuja infestação já atingiu de 3% a 5% dos frutos amostrados. Portanto, na maioria das vezes, o controle não é feito em toda a lavoura, mas limitando-se a alguns talhões. Em lavouras irrigadas, o controle químico pode ser necessário na maioria dos talhões.
Muitas pesquisas têm sido desenvolvidas na área do manejo integrado da broca-do-café buscando formas alternativas de controle, como estudo de parasitoides para atuar no controle biológico, novas armadilhas utilizando feromônio para monitoramento populacional, além de pesquisas relacionadas ao silenciamento de genes mediadas por RNA interferente. Espera-se que a ciência possa colaborar cada vez mais para o fornecimento de informações e tecnologias, visando ao manejo da broca-do-café de forma mais sustentável.
Nathan Jhon Silva Lopes, Lara Sales, Karolina Gomes de Figueiredo, Gabriel Tadeu de Paiva Silva e Geraldo Andrade Carvalho, Universidade Federal de Lavras – Ufla
A cada nova edição, a Cultivar Grandes Culturas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de grandes culturas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade.
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