Mercado global de cacau enfrenta cenário volátil

Quebra de safra na África Ocidental pressiona cotações e eleva risco de novo déficit no balanço global

18.06.2025 | 14:06 (UTC -3)
Valéria Campos

O mercado global de cacau segue pressionado por um contexto de oferta limitada e incertezas climáticas, especialmente nos países da África Ocidental, que historicamente respondem por quase 70% da produção mundial da commodity. Segundo o Relatório de Perspectivas para Commodities da StoneX, empresa global de serviços financeiros, a frustração da safra 2024/25 reforça os temores de um novo déficit no balanço global, que poderia configurar o quarto consecutivo.

Ao longo do primeiro semestre de 2025, os preços futuros do cacau se mantiveram próximos aos níveis recordes, sustentando a escalada iniciada no começo de 2024. A quebra de safra em Costa do Marfim e Gana – que juntos representam cerca de 60% da produção global – resultou na menor oferta registrada nos últimos oito anos durante o ciclo 2023/24. As expectativas iniciais de recuperação na temporada seguinte (2024/25) foram frustradas pelo clima mais seco, com a perda de ritmo da colheita na safra intermediária.

A alta nas cotações, por outro lado, tem incentivado avanços em países historicamente menores na produção como, por exemplo, Equador, Indonésia e Nigéria, que apresentam dados de exportação mais robustos. A expectativa de crescimento nesses mercados contribui para mitigar parte do desequilíbrio global, embora não seja suficiente, por ora, para compensar integralmente a queda na produção africana.

Outro fator que adiciona incertezas ao mercado é o menor ritmo de vendas antecipadas da safra 2025/26 por parte das entidades estatais de comercialização – o CCC, na Costa do Marfim, e o Cocobod, em Gana. Como as vendas antecipadas nesses países são fundamentais para garantir a política de preços ao produtor e sinalizam indiretamente a expectativa destas entidades para a produção, o atraso na comercialização antecipada das safras africanas contribui para a percepção de risco quanto ao desempenho da próxima colheita.

Embora os primeiros dados climáticos para o desenvolvimento da safra 2025/26 indiquem chuvas próximas à normalidade nas principais regiões produtoras, o cenário ainda exige cautela. “Se a tendência de clima favorável se mantiver, somada aos preços altos e maior margem para investimentos em manejo, há espaço para uma recuperação, embora ainda seja cedo para afirmar esse movimento”, avaliam os analistas de inteligência de mercado da StoneX Rafael Borges e Lucca Bezzon.

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