Mercado de soja e milho: dólar e clima ditam tendência

Instabilidade cambial e clima favorável moldam cenários para soja e milho, desafiando estratégias de venda

02.12.2024 | 16:35 (UTC -3)
Ana Paula Cherin, edição Revista Cultivar

O dólar em alta, a estabilidade no plantio da soja e as boas condições climáticas marcaram o mercado agrícola na última semana. Enquanto o milho enfrenta avanços no plantio e oscilações nos preços, o mercado de soja é impactado pela alta do dólar e perspectivas climáticas favoráveis, exigindo atenção dos produtores às estratégias de comercialização. Saiba mais sobre o cenário na Análise do Especialista Grão Direto desta segunda-feira, 2 de dezembro: 

Soja: como o mercado se comportou? Dólar - o anúncio de cortes e a isenção do IR para rendas até R$5 mil ampliaram temores sobre o déficit público, fazendo o dólar bater R$6,11 ao longo da semana.

Condições da safraEstabelecendo forte contrapeso contra a alta do dólar, o ritmo de plantio da safra e as expectativas de produção, tanto brasileira quanto argentina, estabilizaram os preços no mercado interno

Guerra na Ucrânia - na última semana, o conflito entre Rússia e Ucrânia ganhou novos contornos. O posicionamento de alguns países e de membros da OTAN dão sinais de que o conflito pode se espalhar e forçar o envolvimento da Europa e dos EUA.Em Chicago, o contrato de soja para janeiro de 2025 encerrou a US$ 9,91 por bushel, com alta de 0,61% na semana. O dólar registrou alta de 3,27%, encerrando a R$ 6,00, alcançando e renovando cotações recordes aqui no Brasil ao longo da semana. Apesar disso, o mercado físico de soja não consolidou altas, com registros de baixa em algumas regiões, refletindo a falta de suporte nos preços.O que esperar do mercado? 

Condições climáticas - na última semana, o clima foi favorável para o desenvolvimento das lavouras na maior parte do país. No entanto, algumas áreas, como o centro-sul do Mato Grosso do Sul, enfrentam dificuldades devido ao déficit hídrico. A Conab destacou que, de forma geral, os estados produtores apresentam condições excelentes para o avanço das culturas. Para esta semana, a previsão é de chuvas regulares nas principais regiões produtoras, com exceção de MS e Bahia, que podem enfrentar desafios no desenvolvimento vegetativo por conta da falta de água.

Cotação CBOT - com a colheita nos Estados Unidos concluída, a Bolsa de Chicago mantém as cotações abaixo de US$ 10,00/bushel por nove pregões consecutivos, refletindo o alto volume da safra norte-americana e a redução da demanda internacional. Com o Brasil se aproximando da colheita, um clima favorável por aqui pode pressionar ainda mais as cotações, mesmo abaixo de US$ 9,00/bushel. Portanto, produtores devem considerar esse cenário ao planejar suas estratégias de venda, já que uma pressão adicional nos preços é esperada com o avanço da safra brasileira.

Dólar - a instabilidade fiscal e os movimentos políticos no Brasil levaram o dólar a atingir o patamar de R$6,00 na última semana, além de aumentar a inclinação da curva de juros futuros. Para o mercado de grãos, um dólar mais forte frente ao real pode ser um fator positivo para a competitividade da soja brasileira no mercado internacional. Contudo, isso também intensifica a pressão de baixa sobre os preços na Bolsa de Chicago, devido ao aumento da oferta global de grãos brasileiros. Este cenário gera um dilema para o produtor: enquanto o dólar alto eleva a rentabilidade em reais, o impacto nos preços internacionais pode limitar os ganhos. A recomendação é monitorar de perto os prêmios regionais e a dinâmica do mercado internacional para encontrar boas oportunidades de comercialização.

Com base nos pontos apresentados e diante das boas perspectivas climáticas, poderemos ter uma semana negativa em Chicago e, sem surpresas, um dólar também recuando ao longo da semana.

Milho: como o mercado se comportou na última semana?

Milho verão - o grão sofreu pressões negativas essa semana com o ritmo de plantio superando os números do ano passado.

Direcionamento dos preços - a curva de futuros do milho apresentou baixas sucessivas na última semana com a boa expectativa sobre a janela de plantio para a segunda safra, apesar de recuperar números mais para o final da semana.

Avanço do plantio - a Conab estimou em 58,7% a área de safra plantada. Dos principais produtores, apenas o Rio Grande do Sul preocupou, com redução nas chuvas e altas temperaturas.

O milho encerrou a semana sendo cotado a US$ 4,23 por bushel (-0,7%) em Chicago. No Brasil, na B3, o contrato de milho para janeiro de 2025 recuou 0,65%, encerrando a R$ 71,65 por saca. No mercado físico, o milho também apresentou retração nos preços, refletindo o cenário de queda no mercado futuro.

O que esperar do mercado? 

Avanço do plantio - o milho de verão segue avançando de forma consistente, com o sul do Brasil liderando a produção da primeira safra, seguido pela região sudeste. As condições climáticas continuam muito favoráveis, permitindo o progresso no plantio e no desenvolvimento das lavouras. A Conab deve anunciar, esta semana, o encerramento do plantio nos estados do sul, assim como em São Paulo. Em Minas Gerais (MG) a estimativa é de 85%. Esse avanço reforça o cenário positivo para a safra de verão, oferecendo boas perspectivas para produtores dessas regiões.

Janela de plantio - embora se discuta uma possível redução na área de milho segunda safra devido aos preços mais baixos, os últimos acontecimentos indicam um cenário diferente. Baixas nos preços futuros não trouxeram impactos significativos ao mercado físico, em que os preços do milho disponível sofreram mais do que os contratos futuros. A boa safra de soja e a janela de plantio favorável aumentam o otimismo em relação ao milho segunda safra e tende a movimentar os preços até essa consolidação.

Boi gordo - o aumento na arroba do boi gordo impulsionou as cotações do milho, tanto no mercado físico quanto na B3. Apesar disso, a melhora nas margens dos pecuaristas ainda não foi plenamente refletida, pois o impacto financeiro do rally de alta da carne bovina demanda tempo para se consolidar. Esse movimento deve ganhar força após o período das águas, por volta de abril, quando os pecuaristas estão mais capitalizados e precisarão de milho devido à escassez de pasto. Esse aumento na demanda coincidirá com a entrada do milho segunda safra no mercado, gerando um cenário de maior pressão sobre os preços do milho. Essa dinâmica deve ser acompanhada de perto para comercialização.

Em um cenário mais estável, o milho pode não ter uma semana tão significativa, com preços seguindo a tendência do final da última semana e recuperando parte das recentes perdas. 

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