Romeu Stanguerlin, CEO da Adama, assume vice-presidência no board global
Com as mudanças, Adama passa a ter quatro regiões comerciais globais – Brasil, Américas, Europa e Ásia Pacífico –, além da China
Quando se menciona o manejo de plantas daninhas em culturas como o milho, deve-se considerar que estas são produzidas no Brasil dentro de complexos e diversos sistemas de produção e tratadas dentro de cada sistema como um ciclo de produção. Assim, quando se almeja a produção de soja, esta pode ser sucedida por milho, o qual seria encarado como safrinha, e depois, dependendo da região, a área pode ser explorada com uma cultura de inverno. Dessa forma ocorre uma intensificação das práticas de manejo e no caso de plantas daninhas é possível ter situações em que as áreas de produção se tornem mais manejáveis.
Mas quando se aplica uma visão simplista do sistema ou se explora apenas uma cultura, ocorrem oportunidades que proporcionam (em uma situação mais normal e aceitável) as reinfestações das áreas com plantas daninhas de ocorrência normal, ainda que em pressão de infestação muito maior. Em situações em que se simplifica muito o sistema de produção quanto ao manejo de plantas daninhas, a resistência dessas plantas é um sintoma natural, observado com mais frequência na cultura da soja, onde plantas daninhas resistentes aos herbicidas inibidores da ALS, da ACCase e da EPSPs têm mais frequência. Ou seja, quanto mais simples o manejo de plantas daninhas, mais complexo será o controle e vice-versa.
Para um manejo de plantas daninhas adequado e bem-sucedido, a primeira etapa de cada ciclo de produção é a dessecação das áreas para semeadura. Esta prática torna possível a diminuição da pressão de infestação de daninhas oriundas de sementes e elimina restos de plantas daninhas com capacidade para propagação vegetativa. Nesta etapa, o uso do glifosato é fundamental, representando a principal ferramenta neste processo e necessitando de parceiros para boa dessecação de plantas daninhas tolerantes e resistentes a esse herbicida. Ainda, a colocação de herbicidas residuais neste processo auxilia a ação do glifosato e promove a desinfestação almejada, diminuindo a pressão de infestação de certas espécies de plantas daninhas.
A dessecação pode ser dividida em duas etapas espaçadas de duas semanas, em que, na primeira, é o glifosato o protagonista, tornando a área semeável pelo simples fato de se eliminar a cobertura vegetal que dificulta a semeadura, sendo auxiliado principalmente pelo 2,4-D ou herbicidas inibidores da Protox, como saflufenacil, flumioxazina e carfentrazone.
Na segunda etapa há espaço para uma complementação, com herbicidas de contato como diquat ou amônio glufosinato, os quais complementaram a ação do glifosato sobre as plantas mais entouceiradas ou de mais difícil controle (aplique e plante). Seja junto com o glifosato ou na segunda etapa da dessecação, a inserção de produtos residuais como atrazina, flumioxazina, s-metolaclhor e outros, ajuda na dianteira competitiva sobre as plantas daninhas “dentro da cultura”.
Com relação aos residuais utilizados na dessecação ou mesmo em pós-emergência das culturas, há de se considerar a capacidade desses produtos em serem seletivos ao milho obviamente, mas tão importante quanto será entender qual a capacidade destes herbicidas em causar danos às culturas em sequência, no fenômeno conhecido como “carry over”.
Culturas como o milho, agora resistente ao glifosato e ao amônio glufosinato, não há mais a “cultura da fitotoxicidade”, o que não é tolerado, seja por residuais de outras culturas, seja pelo pós-emergente. A dessecação é um momento vital no manejo de plantas daninhas dentro do sistema de produção de soja e milho, sendo fundamental sua realização, bem como a manutenção do tempo entre dessecação e semeadura, mesmo que as condições da região se mostrem proibitivas. Ignorar esta etapa em função do operacional é o segundo maior entrave do sistema de produção, responsável direto pelos problemas com plantas daninhas resistentes em meio à soja e também ao milho.
Após a etapa de dessecação e semeadura existe a oportunidade de uso do pré-emergente, principalmente se não foi utilizado herbicida residual na dessecação normal ou no “aplique e plante”. Todo herbicida registrado como pré-emergente, para cada cultura, tem espaço, desde que considerados o alvo (planta daninha) e a composição do solo do local, principalmente quanto à argila e à matéria orgânica. Estas observações evitam as fitotoxicidade e as reaplicações em áreas de resistência de plantas daninhas herdadas da soja ou do algodão, especialmente aquelas resistentes ao fotossistema II (FSII). A atrazina, presente nas recomendações oficiais de manejo de plantas daninhas em milho, é uma ferramenta importantíssima nesse manejo.
O uso de glifosato ou amônio glufosinato em pós-emergência da cultura de milho, com tecnologia de resistência aos respectivos herbicidas, é uma ferramenta indispensável, pois maneja uma gama de espécies infestantes, além de controlar velhos problemas de resistência nacionais, provenientes da soja na maioria dos sistemas de produção brasileiros. É muito bem-vindo o auxílio de herbicidas parceiros em pós-emergência para o glifosato, desde que sejam seletivos à cultura e sempre respeitando como limite de aplicação o estádio de desenvolvimento V4 (Rodrigues & Almeida, 2011).
O milho possui dois produtos recomendados que são inibidores da síntese de carotenoides, grupo restrito de herbicidas, sem outras opções em pós-emergência seletiva, por hora no País. Assim, a despeito da possibilidade de uso de glifosato e amônio glufosinato em pós-emergência, o uso de mesotrione e tembotrione deve estar presente em uma programação de uso de herbicidas sustentável.
Não se pode deixar de mencionar a questão das plantas voluntárias ou tigueras. Cada sistema de produção no Brasil tem uma situação em que a semente caída na colheita das áreas comerciais gerará uma planta que se tornará daninha no cultivo em sucessão, como observa-se claramente com o milho geneticamente modificado para resistência a glifosato, nas áreas de soja RR. Tal situação demanda práticas de manejo voltadas a este problema, como aumento do intervalo entre os ciclos de produção para alongar a janela de manejo destas plantas voluntárias, além, claro, do uso de herbicidas destinados a estes alvos.
Dentro de um sistema de produção, com o intuito de conservação de solo, eliminação de plantas daninhas e produção de grãos, existem as culturas de inverno ou de cobertura. Na região Sul do Brasil, as culturas utilizadas são os chamados cereais de inverno, muitas vezes com intuito de produção de grãos. São exemplos disso o trigo, a cevada e o triticale. Ainda, a aveia, o centeio e o azevém servem de cobertura vegetal para geração de palhada no plantio direto. No Cerrado, o uso de sorgo, milheto, braquiária (B. ruziziensis) e girassol são os exemplos mais comuns. Todas estas culturas possibilitam a cobertura no solo no inverno, impedem as altas produções de sementes do pousio (como ocorre com a buva) e fazem uso, ainda que não frequente, de herbicidas alternativos ao glifosato.
A pós-colheita da cultura do milho, se não imediatamente seguida por outras culturas como o próprio milho ou alguma cobertura/cultura de inverno, deve ser incrementada com o uso de herbicidas pós-emergentes ou com efeito residual. Isso é uma tentativa de evitar a produção de sementes de plantas daninhas, resistentes ou não, e consequente incremento do banco de sementes das áreas, no pousio.
Por fim, não deve ser esquecido que as boas práticas agronômicas indicam que culturas bem conduzidas quanto à sanidade e à nutrição têm menos problemas com plantas daninhas. O uso de sementes de qualidade, a definição de orientações espaciais de semeadura (espaçamento) e variedades com ciclos mais precoces são estratégias de manejo integrado de plantas daninhas muito presentes nos sistemas de produção brasileiros.
No tocante à questão de resistência de plantas daninhas, o manejo e principalmente a prevenção são preocupações constantes devido ao crescimento do problema e à falta de engajamento do produtor em função da questão do custo. O produtor deve entender o conceito de investimento no sistema de produção e isso é a principal barreira para um bom manejo de plantas daninhas.
Assim, a continuidade das orientações técnicas dentro do sistema de produção de milho é fundamental. É muito importante que se pense em prevenção do problema de resistência com algum tipo de investimento no sistema de produção, seja mediante variação de estratégias herbicidas (residual), seja com a diversificação do sistema de produção utilizando-se rotação de culturas, palhada e eliminação do pousio com manejo outonal. O glifosato deve ser auxiliado no manejo de plantas daninhas e não utilizado como única ferramenta, pois o tempo em que se fazia tal utilização já passou.
Por Acácio Gonçalves Netto, Agrocon Assessoria Agronômica
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