Algodão brasileiro inaugura nova fase com lançamento do Projeto Cotton Brazil

Objetivo maior é colocar o país no topo do ranking da exportação mundial de algodão até 2030

09.12.2020 | 20:59 (UTC -3)
Catarina Guedes

Qualidade, rastreabilidade e sustentabilidade. Sim, o algodão do Brasil tem tudo isso e muito mais, e, por isso, promoção é importante. Para mostrar ao mundo, em especial, aos consumidores da indústria asiática, os diferenciais da pluma brasileira, a Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa), a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), lançaram, na noite desta terça-feira (08), em evento virtual, o Projeto Cotton Brazil. O objetivo maior é colocar o país no topo do ranking da exportação mundial de algodão até 2030, e a Ásia é um continente estratégico, que representa mais de 80% do destino da produção brasileira de algodão.

A partir de agora, a marca Cotton Brazil será trabalhada em nove países asiáticos para desenvolvimento de novos negócios. A iniciativa aproxima ainda mais a oferta e a demanda, com a presença física de um representante dos produtores naquele mercado, num escritório de representação da Abrapa na cidade de Singapura. A “presença” virtual também será importante para os resultados que se pretendem alcançar. Por isso foi desenvolvida a plataforma cottonbrazil.com, traduzida para os idiomas da China, Bangladesh, Vietnã, Turquia, Paquistão, Indonésia, Índia, Tailândia e Coreia do Sul.

Nas últimas três safras, o Brasil dobrou a produção de algodão, mantendo, praticamente, a mesma área; ocupou o quarto lugar como maior produtor da fibra no mundo, e conquistou o posto de segundo maior exportador. “São marcas muito importantes, para nós que, há pouco mais de 20 anos, éramos o segundo maior importador mundial de algodão”, destacou o presidente da Abrapa, Milton Garbugio, durante a abertura do evento, acompanhado pelo atual vice-presidente, Júlio Cézar Busato, que estará à frente da entidade no próximo biênio. “Temos um produto de melhor qualidade. Só precisamos mostrar ao mundo. E, para isso, vamos realizar um grande trabalho de posicionamento de imagem, junto aos principais mercados. Não será fácil, mas já demos o primeiro passo rumo ao que eu chamo de uma nova fase do algodão brasileiro”, disse Busato.

Na avaliação do diretor de Relações Internacionais da Abrapa, Marcelo Duarte, o Brasil deve fortalecer sua colocação no mercado global da commodity. “Nossa tarefa, agora, é consolidar uma marca para unificar a narrativa da qualidade do algodão brasileiro. Queremos aumentar nossas exportações e valorizar do nosso produto”, enfatizou Duarte, destacando que, entre desafios e oportunidades, a Abrapa utilizou três motivações para criar o Projeto Cotton Brazil: o algodão brasileiro já é exportado para mais de 50 países e, somente no mês passado, 333 mil toneladas foram embarcadas; o fato de que o Brasil fornece a pluma durante todo o ano e, por fim, a constatação de que, nem sempre, os mercados reconhecem os diferenciais do algodão brasileiro.

Excelência

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, parabenizou a Abrapa, pela criação de um programa estruturado de posicionamento do algodão brasileiro no exterior. “Mostrar o que é a excelência dessa cadeia produtiva para o mundo todo, com suas qualificações e capacidade técnica, com qualidade e gerando emprego, é um grande desafio. Mas tenho certeza de que será um sucesso”, comemorou a ministra, seguida pelo CEO da Better Cotton Initiative (BCI), Alan McClay. “A Abrapa tem sido um dos parceiros mais dinâmicos, e se tornou o maior produtor Better Cotton no mundo. Desde o início de sua atuação, em 2010, vem liderando a implementação dos padrões BCI no Brasil para, posteriormente, alinhar tudo isso ao padrão ABR, o que possibilitou um aumento de volume disponível no mercado e a ampliação de perspectivas para os produtores”, pontuou McClay, lembrando que, na safra 2018/2019, o Brasil produziu mais de dois milhões de toneladas de algodão Better Cotton, um crescimento de 34% e um volume, equivalente a 36% da pluma Better Cotton no globo. Em todo o país, 75% da produção é licenciada pela BCI.

Eco friendly

A capacidade de produção em sequeiro, os estudos para diminuir o uso de pesticidas, as alternativas biológicas e as ações para promoção do controle de pragas também foram destacadas pelos participantes durante o evento virtual, dentre eles, pelo diretor de Negócios da Apex-Brasil, Augusto Pestana. “Podemos garantir a disponibilidade de mais algodão sustentável no mundo, apresentando nosso potencial e competitividade para os mercados mais exigentes, tendo ainda o reconhecimento da qualidade do nosso produto. Vamos continuar unindo esforços para o êxito nesse projeto”, destacou Pestana.

“Precisamos expandir as oportunidades de negócios, porque estamos entre as 40 maiores economias do mundo. O Brasil está crescendo e precisamos que este crescimento venha acompanhado do fortalecimento e, principalmente, do reposicionamento de imagem, sobretudo, a da qualidade percebida. Nosso algodão é tão bom quanto o americano e não difere muito em qualidade do australiano. Mas, na percepção de mercado, eles ganham de nós, e, a partir de agora, vamos mudar isso”, ponderou o presidente da Anea, Henrique Snitcovski.

Etapas e estratégias

Com o slogan “Crescendo para um futuro melhor”, a primeira etapa do Cotton Brazil incluiu planejar uma marca que pudesse agregar mais valor ao produto brasileiro, fazendo a própria cadeia entender a percepção do mercado sobre a pluma, e verificar a distância entre esta percepção e a realidade. Assim, a marca Cotton Brazil teve sua identidade visual similar à do movimento “Sou de Algodão”, iniciativa voltada ao mercado nacional, mostrando a sinergia de comunicação.

O projeto prevê eventos técnicos e de marketing, os chamados Cotton Brazil Days, em cada um dos nove países, em seus respectivos idiomas. Haverá ações em redes sociais, uma plataforma de Business Intelligence, missões Compradores e Vendedores, pesquisas de mercado, além do desenvolvimento de parcerias estratégicas, como as já estabelecidas com a Federação Internacional da Indústria Têxtil Chinesa (ITMF) e do Conselho Chinês da Indústria Têxtil e de Vestuário (CNTAC). “Em tempos desafiadores, é uma ótima ideia celebrar o progresso e olhar com confiança para o futuro. Fico feliz em constatar que os cotonicultores brasileiros têm buscado melhorias contínuas no plantio, na colheita e no beneficiamento do algodão nos últimos anos”, afirmou o presidente da ITMF, Ruizhe Sun.

Pioneirismo

Outra grande realização do projeto foi a abertura do escritório comercial em Singapura, local estrategicamente escolhido para atender aos principais países da Ásia que comercializam o algodão brasileiro. A Abrapa é a primeira entidade privada de agronegócio brasileiro a se instalar na região. A interlocução direta entre os parceiros do Cotton Brazil com o Ministério das Relações Exteriores rendeu a participação efetiva de todas as embaixadas do Brasil na Ásia e o Ministério da Agricultura, por meio dos adidos agrícolas, potencializou a primeira rodada de apresentação do projeto para os nove países prioritários. “A relação estreita entre o setor privado, o Itamaraty, o Mapa e a Apex-Brasil conseguiu reunir diversas entidades em prol da cotonicultura do país e isso me orgulha muito. O algodão é um caso de sucesso no Brasil e o mais impressionante é sua evolução recente, em 2019/2020, chegando a mais de 2 bilhões de dólares exportados, justamente num período de dificuldades em função da pandemia, o que revela a capacidade do setor”, enfatizou o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

A convicção de todos os participantes, após o lançamento do Cotton Brazil, é a de que foi iniciada uma nova fase desafiadora para o algodão brasileiro. “O caminho será de muitas lições e aprendizados, mas recompensará o setor pela visão de estar presente no centro do maior e mais pujante mercado, o asiático. Vamos projetar o Brasil pelo mundo através do algodão”, finalizou o presidente da Abrapa, Milton Garbugio.

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