Benefícios do uso de tecnologias para automação da irrigação
O uso de tecnologias que auxiliam na tomada de decisão e automação da irrigação garante maior eficiência, aliando otimização dos recursos hídricos e aumento da produtividade
Redução da movimentação do solo e da erosão laminar são duas características do plantio direto de hortaliças que podem contribuir para a menor disseminação de fitonematoides. Sistema ainda precisa se popularizar melhor entre os produtores do setor, além de demandar aprofundamento de estudos e aprimoramento por parte de técnicos e multiplicadores.
Os fitonematoides são patógenos de importância mundial para as hortaliças, principalmente em regiões tropicais. Quando hortaliças são cultivadas continuamente na mesma área sem a adoção de medidas de controle, perdas de até 100% da produção podem ocorrer (Figura 1).
Os relatos de perdas causadas por fitonematoides em Sistema Plantio Direto de Hortaliças (SPDH) são escassos, provavelmente por ainda ser pequena, embora crescente, a área cultivada sob esse sistema. Entre as diferentes espécies de nematoides que atacam plantas, o nematoide-das-galhas possui importância econômica por causar danos expressivos na maioria das hortaliças cultivadas (Figura 2).
As espécies do gênero Meloidogyne de maior importância em hortaliças são M. incognita, M. javanica, M. arenaria e M. hapla. O nematoide-das-lesões-radiculares, Pratylenchus spp. tem sido responsável por perdas significativas na produção, principalmente em áreas onde a rotação de culturas com gramíneas é realizada, seja para o cultivo de grãos (milho, sorgo, entre outros) ou para a formação de palhada (milheto, aveia, entre outros). Da mesma forma, Ditylenchus dipsaci tem causado danos na cultura do alho nas principais regiões produtoras do País desde seu primeiro relato em 1980.
Para a maioria das hortaliças cultivadas, não existem registros de produtos nematicidas, o que dificulta e aumenta de maneira expressiva o uso indiscriminado de nematicidas não registrados, que geralmente são produtos altamente tóxicos e com um período residual longo em relação ao ciclo das hortaliças. Além disso, muitas das hortaliças são consumidas in natura, o que aumenta os riscos.
A integração de várias medidas que vão desde a escolha da área de plantio e da produção de mudas até a colheita é de importância fundamental para o controle de nematoides. Dentre estas medidas, as principais são prevenir a introdução dos nematoides, realizar rotação de culturas, utilizar plantas antagonistas aos nematoides, eliminar restos culturais e tigueras, eliminar plantas daninhas, utilizar matéria orgânica livre de inóculo de nematoides, adotar cultivares resistentes, realizar controle biológico e, somente em último caso, realizar o controle químico.
A prevenção é a melhor forma de controle de nematoides. Os nematoides se movem lentamente no solo, apenas poucos metros por ano. Assim, sua principal forma de disseminação para áreas não infestadas é a movimentação de solo por meio de máquinas e implementos agrícolas, erosão hídrica ou eólica, além do uso de material propagativo contaminado. No SPDH, o menor trânsito de máquinas e implementos, bem como a existência permanente de cobertura do solo, geralmente exerce controle eficiente da dispersão de nematoides.
Uma vez que os nematoides são introduzidos na propriedade, o produtor terá que conviver com o problema, já que sua erradicação é praticamente impossível. Dessa forma, os métodos usuais de controle têm como objetivo principal reduzir ou manter as densidades populacionais dos nematoides em níveis baixos, que não causem perdas econômicas.
A utilização de jatos fortes de água para remoção de solo aderido a máquinas e implementos antes da entrada em outras áreas é uma medida eficiente para evitar a disseminação destes organismos. Também, deve-se ter cuidado para que as mudas obtidas sejam isentas destes patógenos (Figura 3), além de se realizar amostragem para nematoides sempre que um plantio for realizado em uma área nova. Em todos os casos, é importante se informar sobre o histórico da área de cultivo.
A rotação de culturas consiste na principal medida efetiva para o manejo de nematoides no SPDH. Rotacionar cultivos de hortaliças com culturas que não hospedem um determinado patógeno tem como finalidade a diminuição da população destes organismos pela retirada do seu alimento.
Embora a rotação de culturas seja uma das práticas mais importantes e efetivas na redução de patógenos de solo, M. incognita e M. javanica têm mais de mil espécies de plantas hospedeiras conhecidas. Meloidogyne incognita, por exemplo, possui quatro raças (1, 2, 3 e 4), que são caracterizadas por atacar diferentes espécies de plantas. Em áreas infestadas pela espécie M. javanica, sugere-se a rotação com sorgo (Sorghum bicolor), mamona (Ricinus communis) e cultivares de milho (Zea mays) resistentes a esta espécie (Figura 4).
É importante escolher a espécie e a cultivar corretas para plantio em sucessão ao cultivo de hortaliças, pois existem outras espécies de nematoides, como Pratylenchus spp., que podem tornar-se um problema grave no cultivo de algumas hortaliças, como tomate e pimentão, elevando seus níveis populacionais durante o ciclo vegetativo destas hospedeiras. Espécies de Pratylenchus apresentam menor número de plantas hospedeiras em comparação ao nematoide-das-galhas. Entretanto, multiplicam-se e aumentam seus níveis populacionais de forma rápida em algumas espécies de gramíneas como capim-jaraguá (Hyparrhenia rufa), campim-colonião (Panicum maximum) e braquiárias (Urochloa spp.), com danos expressivos quando o cultivo de algumas hortaliças, como tomate, pimentão e mandioquinha-salsa (Arracacia xanthorrhiza), é realizado em áreas que foram utilizadas como pastagem. É fato que algumas cultivares de milho (Zea mays) podem reduzir a população de Meloidogyne spp. e de Rotylenchulus reniformis. No entanto, podem aumentar a de P. brachyurus.
A utilização de milheto como cultura para rotação apresenta algumas vantagens do ponto de vista fitossanitário, pois reduz a população de nematoides importantes para hortaliças, como o reniforme (Rotylenchulus reniformis). Algumas cultivares de milheto reduzem também a população de determinadas espécies de Meloidogyne.
Plantas da família Brassicaceae, como a couve-chinesa (Brassica rapa L. subsp. chinensis), a mostarda preta (Brassica nigra) e o repolho (Brassica oleracea var. capitata), apresentam bons níveis de tolerância ao nematoide-das-galhas. A mostarda branca (Sinapis alba L.), tolerante a M. incognita e a M. javanica, também pode tornar possível cultivos subsequentes de hortaliças.
Em relação ao nematoide reniforme, R. reniformis, a rotação de culturas pode ser útil no seu manejo. Plantas não hospedeiras, como crotalárias e cravo-de-defunto, podem auxiliar na redução dos níveis populacionais do patógeno quando incorporadas em esquemas de rotação.
No SPDH, o uso de cobertura vegetal faz com que o solo permaneça úmido por mais tempo durante o período outono/inverno, preservando os nematoides ativos. Quando a planta de cobertura não é hospedeira, os nematoides não encontram raízes de plantas suscetíveis para parasitar e acabam consumindo suas reservas e morrendo. No entanto, quando a planta de cobertura é suscetível, seu uso pode agravar problemas com nematoides para as culturas de interesse.
Na região dos Cerrados, além do Sudeste e do Sul do Brasil, as principais culturas de cobertura utilizadas para a produção de palhada no SPDH são milho (Zea mays), milheto (Pennisetum glaucum), aveias e braquiárias. O capim-mombaça (Panicum maximum) é bom hospedeiro de P. brachyurus e deve ser evitado em locais infestados pelo nematoide. As espécies U. decumbens, U. brizantha, U. humidicola, U. dyctioneura, U. ruziziensis e o híbrido capim Mulato (U. ruziziensis clone 44-6 x U. brizantha CIAT 6292) proporcionam aumento populacional de P. brachyurus, mas U. humidicola e U. dyctioneura são hospedeiras piores que as demais. Tanto os sorgos silageiros (Sorghum bicolor) como os forrageiros (S. bicolor x S. sudanense) são bons hospedeiros de P. brachyurus. A aveia-preta é má hospedeira, mas a aveia-branca (Avena sativa) e a aveia-amarela (A. byzantina) são boas hospedeiras. Por outro lado, Crotalaria spectabilis suprime o nematoide por completo. Assim, é preciso se levar em conta o efeito das gramíneas em geral sobre P. brachyurus como externalidade negativa capaz de comprometer os resultados dessas plantas de cobertura dentro do SPDH na presença desse nematoide.
As espécies U. brizantha, U. decumbens e U. ruziziensis não são hospedeiras de M. javanica. Num estudo em vaso, foi observada a quase eliminação de M. incognita e M. javanica pelo cultivo de U. brizantha e U. decumbens. Entretanto, o número de galhas e de massas de ovos após o cultivo de U. ruziziensis foi superior ao das duas demais espécies. Entre as espécies de gramíneas forrageiras avaliadas naquele estudo, somente U. brizantha, U. decumbens e as diferentes cultivares de Panicum maximum (Colonião, Tanzânia e Vencedor) apresentaram potencial para o cultivo em rotação em áreas infestadas por nematoides-de-galhas.
Apesar de existirem poucos estudos sobre a reação do nabo forrageiro (Raphanus sativus var. oleiferus) em relação a P. brachyurus, eles indicam que é uma planta má hospedeira do nematoide. Igualmente, no caso do milheto (Pennisetum glaucum) e da aveia-preta (Avena strigosa), que são utilizados para formar palhada, a literatura registra que são más hospedeiras de P. brachyurus. Isso significa que as três plantas abrigam e alimentam P. brachyurus em suas raízes, propiciando sua reprodução, porém em níveis baixos, podendo auxiliar no controle do nematoide.
O plantio de plantas antagonistas causa redução dos níveis populacionais de nematoides em diferentes culturas. Crotalárias (Crotalaria spectabilis, Crotalaria juncea), cravo-de-defunto (Tagetes patula, Tagetes minuta, Tagetes erecta) e mucuna (Mucuna aterrima) são exemplos de plantas antagonistas que são utilizadas com sucesso no controle de nematoides. Merece destaque o fato de que a mucuna-preta (Mucuna aterrima) tem comprovada eficácia para M. incognita, mas não funciona para M. javanica. Para o controle das espécies de Pratylenchus, as opções são menores: indica-se apenas o plantio de Crotalaria spectabilis, C. breviflora e de cravo-de-defunto.
O cravo-de-defunto libera uma substância junto aos exsudatos radiculares denominada a-tertienil, que é tóxica aos nematoides. O uso dessa planta pode ser viável principalmente em pequenas áreas contaminadas, já que não é um adubo verde e suas sementes são comercializadas em envelopes com pequenas quantidades.
No SPDH, os restos culturais e tigueras que são deixados na superfície do solo podem criar condições favoráveis à sobrevivência e à multiplicação de nematoides e de outros patógenos causadores de doenças às plantas cultivadas. Desta forma, pode haver a inviabilização dos métodos usuais de controle, considerando-se que os nematoides alojados nos restos de raízes nas áreas de plantio tornam-se protegidos da ação de nematicidas e de outros agentes físicos e biológicos de controle. Nos sistemas radiculares que ficam no solo, o nematoide-das-galhas sobrevive principalmente na forma de ovos, que ficam protegidos dentro da massa de ovos aderida às fêmeas no interior das raízes ou até mesmo externamente ao sistema radicular. Dessa forma, o ideal é a eliminação dos restos culturais de plantios anteriores, seja por meio da ação de herbicidas ou de implementos do tipo moedor/picador, com objetivo de destruição ou dessecação dos sistemas radiculares.
A eliminação de plantas daninhas na safra e entressafra impede o aumento e a manutenção do nematoide nas áreas cultivadas. Por exemplo, carrapicho-rasteiro (Acanthospermum australe), picão-preto (Bidens pilosa), capim-marmelada (Brachiaria plantaginea), capim-carrapicho (Cenchrus echinatus), corda-de-viola (Ipomoea nil), capim-gordura (Melinis minutiflora) e beldroega (Portulaca oleracea) são boas hospedeiras de P. brachyurus, enquanto falsa-serralha (Emilia fosbergii) e juá-bravo (Solanum sisymbrifolium) são boas hospedeiras dos nematoides-das-galhas (Figura 5).
As plantas daninhas são excelentes formas de disseminação e de sobrevivência de nematoides. O uso de cultivares resistentes, por exemplo, tem pouco efeito na presença destas plantas hospedeiras.
O solo não é revolvido no SPDH e, portanto, apresenta melhor estrutura e maior quantidade de matéria orgânica, proporcionando um ambiente propício ao desenvolvimento da microbiota, além da micro e macrofauna do solo. Nesse sentido, a matéria orgânica estimula o aumento da população de micro-organismos do solo, em especial de inimigos naturais dos nematoides, além de liberar substâncias nematicidas com sua decomposição, que contribuem para a mortalidade destes parasitas.
Resíduos de plantas da família das brássicas, como repolho (Brassica oleracea var. capitata), couve-flor (Brassica oleracea var. botrytis), couve (Brassica oleracea) e brócolis (Brassica oleracea var. italica), dentre outras plantas como sorgo (Sorghum bicolor), nim (Azadirachta indica), mucuna (Mucuna aterrima), bagaço de cana-de-açúcar, palha-de-café, torta-de-mamona, feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), cravo-de-defunto (Tagetes spp.) e esterco bovino, são exemplos de materiais orgânicos. O uso desses materiais tem sido explorado na agricultura orgânica e é recomendado para a exploração de pequenas áreas. A compostagem, principalmente para os estercos de animais, deve ser realizada em áreas isoladas e com estrutura física específica para essa finalidade, pois estes materiais podem constituir-se como fonte de disseminação de patógenos, inclusive na forma de ovos.
A utilização de cultivares resistentes para o manejo de nematoides em hortaliças, tanto no sistema convencional quanto no SPDH, é uma das práticas mais importantes para o controle desses patógenos. Cultivares resistentes eliminam, por exemplo, a necessidade de uso de nematicidas.
Nesse contexto, as iniciativas para identificação e incorporação de genes de resistência a nematoides em cultivares de hortaliças são inúmeras no País, com o intuito de oferecer cultivares resistentes.
Vários genes de resistência a nematoides já foram relatados em hortaliças. Alguns conferem resistência a mais de uma espécie de nematoide. Por exemplo, o gene Mi em tomateiro (Solanum lycopersicum L.) confere resistência a M. incognita, M. javanica e M. arenaria. Contudo, não contempla resistência a M. enterolobii e apresenta pouco efeito para M. hapla e alguns isolados mais virulentos de M. incognita e M. arenaria. Além disso, seu efeito em temperatura acima de 28ºC pode ser quebrado (Tabela 1). Este gene foi descoberto há mais de 70 anos em um acesso de tomateiro selvagem (Lycopersicon peruvianum) e até hoje os programas de melhoramento do País utilizam esta importante fonte de resistência para o desenvolvimento de cultivares de tomateiros resistentes a Meloidogyne.
Vale ressaltar que apesar da existência de cultivares de tomateiro resistentes, as espécies de nematoide-das-galhas predominantes no Brasil ainda causam prejuízos à cultura. A grande maioria das cultivares para processamento industrial no Brasil é resistente, mas algumas espécies e raças de Meloidogyne possuem a habilidade de “quebrar” a resistência conferida pelo gene Mi, como M. enterolobii, que está disseminado por praticamente todo território brasileiro e é responsável por danos em diversas culturas, constituindo séria ameaça para a cultura do tomate no Brasil.
Vários organismos presentes no solo são parasitos de nematoides, com ênfase para os fungos (Figura 6) e as bactérias, promissores para utilização no controle biológico. Existem fungos que produzem armadilhas para capturarem os nematoides, denominados de fungos predadores. A bactéria Pasteuria penetrans é um parasito obrigatório de várias espécies de Meloidogyne, sendo um exemplo de micro-organismo promissor para o controle biológico.
Produtos biológicos já existem no mercado e, em breve, espera-se que sejam amplamente utilizados pelos agricultores como tecnologia incremental na integração das medidas de controle de nematoides em área com cultivos de hortaliças.
O SPDH evita a disseminação de nematoides pela redução da movimentação do solo e diminuição da erosão laminar, dois fatores importantes no processo. Também devem ser consideradas no SPDH a melhoria na estrutura do solo e a maior quantidade de matéria orgânica, que proporcionam um ambiente propício ao desenvolvimento da microbiota e da micro e macrofauna do solo, em especial de inimigos naturais dos nematoides. A decomposição da matéria orgânica propicia, também, a liberação de substâncias nematicidas, que contribuem para a mortalidade dos nematoides.
O SPDH ainda não se encontra amplamente adotado no setor produtivo de hortaliças. Todavia, as vantagens apresentadas mostram que sua adoção pode beneficiar a produção em múltiplos aspectos, cabendo aos técnicos e multiplicadores promover e aprimorar o sistema. É premente a necessidade de se continuarem estudos na área de nematologia em SPDH, de forma a se fortalecer o conhecimento gerado e se divulgarem informações sobre esse sistema.
Jadir Borges Pinheiro, Raphael Augusto de Castro e Melo, Carlos Francisco Ragassi, Embrapa Hortaliças (DF)
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