Nova reestimativa do USDA reduz safra de laranja da Flórida para 54 milhões de caixas
Número é ainda 20% menor do que o total produzido na safra 2019/20, encerrada em 67,7 milhões de caixas
A dessecação da cobertura vegetal é ponto crítico no manejo de plantas daninhas. Essa etapa pode impactar de maneira significativa na semeadura, na emergência da cultura, na matocompetição inicial e na pós-emergência. Por isso, os mecanismos de controle empregados nesse período são de vital importância para o bom desenvolvimento do cultivo.
Todavia, para cada cultura existem particularidades em relação a essa operação. Especialmente em grandes cultivos, como soja e milho, devido aos biótipos de plantas resistentes ao glifosato oriundos do uso indiscriminado do herbicida. Isso porque o glifosato é um produto cuja eficácia abrange não só um grande número de espécies, mas também vários estádios de desenvolvimento, controlando muito bem inúmeras plantas em estádios adultos. Entretanto, por ser um produto não seletivo, não era possível aplicar o glifosato sobre os cultivos.
Contudo, com a chegada de materiais geneticamente modificados para tolerância ao glifosato, esse problema foi aparentemente sanado. O herbicida se tornou uma ferramenta extremamente útil e prática. Dessa forma, não é de se estranhar seu emprego em larga escala, especialmente por não exigir um alto conhecimento técnico para obtenção de resultados eficazes. O uso de glifosato em culturas RR quase que descartava o conhecimento científico de plantas daninhas. Na dessecação, por exemplo, era preciso basicamente conhecer as plantas tolerantes ao produto e complementar com outro herbicida, como o 2,4-D. Na pós-emergência, bastava aplicar novamente o glifosato para controlar a reinfestação. Ou seja, a tecnologia era eficaz porque simplificava de maneira significativa os sistemas de manejo.
Entretanto, plantas daninhas são complexas de serem estudadas e controladas. Primeiro, porque compartilham do mesmo reino com as plantas cultivadas. Segundo, porque cada espécie possui particularidades que são um desafio, principalmente para o controle químico. Uma característica comum às plantas daninhas é a agressividade. Isto é, os mecanismos que a planta utiliza para sobreviver. Emergência de sementes em grandes profundidades, grandes fontes de reserva, alta taxa fotossintética, grande produção e dispersão de sementes são alguns exemplos desse mecanismo. Ao se fazer o controle químico ainda é preciso levar outros fatores em consideração, como a classe e a família botânica, além da metabolização, natural ou selecionada, de moléculas herbicidas.
Conhecer plantas daninhas vai além de diferenciar uma espécie da outra. É necessário saber o potencial que possuem em competir e se estabelecer em áreas agrícolas. Porém, tudo isso foi deixado de lado ao se utilizar um produto que supera todas essas particularidades. Planta com ou sem estolão, vegetando, florescendo ou adulta, o glifosato era eficaz em quase todos os cenários. Isso fica evidente ao se comparar as recomendações de manejo antes e após a “Era RR”. No passado, tanto na soja como no milho fazia-se o uso de vários ativos, em pré e pós-emergência. Ou seja, eram necessários conhecimento e planejamento.
Atualmente, os biótipos resistentes trouxeram de volta a necessidade de se conhecer a ciência das plantas daninhas. Hoje, produtores e técnicos têm que enfrentar o potencial agressivo do mato que antes era facilmente controlado pelo glifosato, como é o caso do capim-amargoso. Essa gramínea é uma planta com alta taxa fotossintética, possui perfilhos e rizomas, e produz grande quantidade de sementes que se dispersam a longas distâncias. Essas características são responsáveis ainda por outros grandes problemas agronômicos: as touceiras e os rebrotes.
Touceiras são, basicamente, um aglomerado de perfilhos que se estruturam como um tronco de feixes. No caso do capim-amargoso esses perfilhos são sustentados por um aglomerado de rizomas. De maneira que se são cortados ou roçados, a planta produz novos perfilhos. Essa touceira, então, passa a ser um rebrote. Ainda que possua um porte menor comparado ao da touceira, o rebrote é igualmente difícil de controlar física ou quimicamente.
As gramíneas são as plantas mais abundantes e mais danosas do planeta. Contudo, são controladas de maneira muito eficaz pelos herbicidas inibidores de ACCase, também chamados de graminicidas, como cletodim, haloxifope e outros. Produtos antigos que agora voltaram ser amplamente utilizados nas lavouras. Cada vez mais esses produtos são adicionados às caldas para serem aplicados sobre o capim-amargoso resistente ao glifosato.
Esses produtos são aplicados na soja por serem seletivos a essa leguminosa. Porém, o mesmo não pode ser dito para o milho. Isso porque o milho também é uma gramínea e o uso de ACCase vai afetar tanto o capim, como a cultura. Isso gera várias considerações no momento de planejar a dessecação pré-semeadura do milho, em especial a escolha do material a ser plantado.
Para se alcançar a seletividade ao milho, novas tecnologias têm sido desenvolvidas.
Os materiais Enlist possuem traits, ou eventos transgênicos, que tornam o milho resistente ao ativo glifosato, mas também ao 2,4-D, glufosinato e o graminicida haloxifope.
No caso do milho sem a tecnologia Enlist, a principal preocupação é com o carryover dos ACCases utilizados na dessecação. O carryover é o tempo de ação do herbicida no solo que pode comprometer a cultura que será implantada. Ao se utilizar o milho convencional, RR ou LL, a aplicação de graminicidas deve ocorrer entre dez dias a 20 dias antes do plantio, dependendo do ativo. Isso quer dizer que ao utilizar esses materiais, é necessária uma janela de pelo menos dez dias a 20 dias entre a dessecação e a semeadura.
Outro agravante é que, no milho, a dessecação de capim-amargoso resistente ao glifosato passa por uma série de soluções que geram novos problemas. O primeiro problema se dá pelo estádio das plantas resultantes da safra anterior. Normalmente, o mato vai estar em um tamanho cujo controle seria efetivado pelo glifosato. Porém, biótipos resistentes de capim-amargoso vão exigir a aplicação de graminicidas. Todavia, a aplicação de graminicida vai exigir um intervalo até a semeadura. Nesse intervalo, também será necessário aplicar produtos de contato, como o diquate ou glufosinato. Contudo, esses produtos promovem uma dessecação rápida, mas em seguida ocorrem novos rebrotes.
Esses rebrotes terão de ser controlados na pós-emergência, utilizando-se inibidores de carotenoides, inibidores de ALS ou glufosinato, se for milho LL. Entretanto, todos esses produtos possuem limitação de estádio e até mesmo de híbrido, no caso dos ALS. Isso porque os graminicidas não podem ser utilizados na modalidade de pós. A menos que seja utilizado o milho com tecnologia Enlist.
Os traits da tecnologia permitem remediar essa série de efeitos colaterais que são gerados no manejo de milho sem essa tecnologia. Isso porque a aplicação de haloxifope pode ser realizada dias antes da semeadura, na própria semeadura e na pós-emergência. É possível verificar esses resultados na Figura 1, que mostram a população de plantas em cinco manejos diferentes.
Em todos os manejos, foi realizada uma roçada para formação de rebrotes. No primeiro manejo, a semeadura foi realizada imediatamente após essa roçada. No segundo, a semeadura foi efetuada 15 dias após a roçada. Nos demais, a semeadura também foi realizada 15 dias depois, mas foram aplicados os herbicidas glufosinato para o terceiro manejo, paraquate para o quarto manejo e haloxifope para o quinto manejo.
Os resultados demonstram que a roçada exclusivamente não foi suficiente para promover um controle adequado. Isto é, seja o milho Enlist ou não, é necessária aplicação de herbicidas para se obter uma boa semeadura. Em segundo lugar, observa-se que, entre os tratamentos com herbicidas, a matéria seca foi menor quando a dessecação foi realizada com haloxifope. Ao se considerar a população de plantas, fica ainda mais evidente a eficácia do graminicida sobre o capim-amargoso. Ainda que os demais herbicidas tenham diminuído a matéria seca, a população de plantas se mostrou mais elevada. Ou seja, os demais herbicidas atuaram mais no porte do que na densidade de plantas. E isso terá consequências no manejo em pós-emergência.
Na Figura 2, são apresentados os resultados das aplicações realizadas na pós-emergência para cada um dos cinco manejos, utilizando-se inibidores de carotenoides (mesotriona e tembotriona), inibidor de ALS (nicossulfurom), inibidor de glutamina (glufosinato) e inibidor de ACCase (haloxifope).
Fica evidente pelo controle de plantas que, ao se utilizar o graminicida na pós-emergência, foi possível, primeiramente, corrigir em certo nível, a baixa eficácia das roçadas sem aplicação de herbicidas. Além disso, em todos os manejos onde foi realizada a aplicação de haloxifope, os resultados foram superiores se comparados aos demais herbicidas. Observou-se ainda que, nos manejos em que foi realizada a dessecação com haloxifope, todos os ativos em pós-emergência obtiveram controle satisfatório, tanto em porcentagem de controle visual como em número de plantas e matéria seca.
Dessa forma, a possibilidade de utilizar um graminicida na semeadura do milho proporcionou melhor dessecação, que, por sua vez, permitiu um melhor controle pós-emergência para vários grupos herbicidas diferentes, o que impacta diretamente na rotação de ativos. Ou seja, o uso do graminicida permitiu expandir o número de mecanismos de ação que podem ser utilizados na pós do milho.
Por fim, ao se considerar o número de plantas e matéria seca, é possível afirmar que a dessecação com haloxifope permitirá um cenário mais adequado para o manejo pré-semeadura da cultura subsequente.
A tecnologia Enlist, utilizada de maneira inteligente, apresenta-se como uma ferramenta promissora no controle de plantas daninhas na cultura do milho.
Donizeti Aparecido Fornarolli, Fornarolli Ciência Agrícola; Felipe Ridolfo Lucio, LATAM Biology Leader; Dionisio Luis Piza Gazziero, Embrapa Soja; Bruno Candido Fornarolli, Fornarolli Ciência Agrícola
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